Capítulo 6

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"Que dia é hoje?" Perguntou alguém, mais propriamente para o ar do que para uma pessoa específica.

"É a última aula do dia, e visto que tens cerca de cinco tempos de manhã e mais dois tempos de tarde antes da minha aula, apontaste a porcaria do dia em sete tempos no total. É dia 9." Carrancou o Professor Malik e o aluno que perguntara a data logo se calara e a sala silenciou.

Enquanto nós falávamos em voz baixa uns com os outros, coisa que raramente acontecia nas outras aulas, pois todos falavam despreocupadamente, o professor procurava qualquer coisa na sua pen no computador, e quem estivesse atento à imagem projetada no quadro podia seguir os seus passos. Eu era uma dessas pessoas, porque a Carly e a Miranda tinham ido ao bar para lancharem e ainda não tinham chegado, portanto não tinha ninguém com quem falar e, por isso mesmo, estava a olhar para o quadro. A pen do professor Malik era tal e qual uma pen de um professor devia ser: atafulhada de pastas com nomes claros e concisos, e cheia de ficheiros soltos que não se enquadravam em pastas nenhumas. O ficheiro que ele procurava certamente não estava em nenhuma pasta, porque elas não estavam a ser abertas e averiguadas.

Quando, finalmente, as minhas amigas chegam, ainda a mastigar o lanche prévio, a turma volta a falar alto e bom som, pois já todos sabiam o que as esperava. Eram, exatamente, 16h31 minutos; entramos há um minuto, ou seja, entramos mesmo a horas. Ninguém nesta escola faz isto! A maioria dos professores chega 10 minutos atrasado e por isso mesmo é que a maioria dos estudantes abusava um bocado: não só por saberem que podiam chegar pelo menos uns sete ou oito minutos atrasados, mas também porque os professores perdoavam. Eis um professor que não faz nem uma coisa, nem outra.

"Falta para as duas. Ocupem os vossos lugares..." Miranda e Carly entreolharam-se, sabendo ler a expressão facial uma da outra.

Estamos tramadas e ainda só é a segunda semana de aulas, diziam elas.

"Aliás, todos de pé. Façam um círculo. Não quero ver dois rapazes juntos, assim como duas raparigas juntas. Tudo aleatório, vamos, um minuto."

Em muito mais do que o minuto que nos fora dado, nós organizamo-nos. Já estávamos todos pela ordem correta, rapaz, rapariga, rapaz, rapariga, mas sempre havia aquelas pessoas que queriam ficar mais perto de fulano ou o outro amigo e estavam todos a trocar de lugar. Eu deixei-me estar entre o Eric e o Scott, com a Miranda ao entre o Eric e o Thomas. Quando a Carly acabou o seu croissant misto, tentou infiltrar-se no círculo deformado, mas chegou a uma conclusão, onde eu já tinha chegado. Somos treze raparigas e doze rapazes: duas raparigas vão ter de ficar juntas. E já que esse facto tinha de ser aceitado, a Carly meteu-se entre mim e o Scott e teria de ficar assim.

"Eu disse que não queria pessoas do mesmo sexo juntas."

"Duas raparigas vão ter de ficar juntas." Explicou-se a Carly, não ousando virar-se para o professor, pois estava a revirar os olhos.

Um espaço foi aberto entre mim e a Carly, para ser ocupado dois segundos depois pelo professor.

"Diz no exercício que eu tenho de participar. Isto vai ter tanto de engraçado como de estupidez, mas vamos começar..." Tossicou para clarear a voz e levantou os olhos do papel que tinha na mão. "Bem-vindos à aula número 3 e 4 de Educação Sexual, onde vamos falar de tudo e de mais alguma coisa, menos de sexo. O Exercício de hoje tem o nome mais original do mundo, chama-se Espelho Meu, Espelho Meu e como já é de esperar, o nome não tem nada a ver com o exercício em si."

Todos riram, baixo, para si, talvez com receio de que se se rissem um pouco mais alto apanhariam uma falta ou seriam expulsos.

"O primeiro passo deste exercício é virarmo-nos para a pessoa à nossa direita e dizer Olá. Vamos começar. Olá, Evans."

Physical Education Teacher Z.M.Onde histórias criam vida. Descubra agora