Bônus: Jorge Lucas Narrando
A pior coisa de ter que levar um pé na bunda, era ter que ser amigo de quem te deu ele. Não era bem uma reclamação. Scarlatti era uma mulher incrível. Além da beleza que possuía ainda era segura de si, forte, e tinha carisma, embora o escondesse bem, somente o utilizando com quem desejasse. Também era sincera, ao ponto de não se importar se a verdade doeria. E foi por isso que foi honesta ao me dizer que não teríamos chance alguma, claro que dispensando as palavras. Ficou claro quem ele queria para si assim que Dylan apareceu. Eu até tentei, e confesso que teria insistido, se nao visse o quanto amava o outro cara - que era um idiota de mão cheia, aproposito. Todavia, era nítido o quanto o mesmo também correspondia. E quem era eu para ficar entre um casal que se ama? Não iria atrapalhar a felicidade de ninguém só porque não encontrara a minha própria.
Mas, verdade seja dita, o filho da mãe tinha uma sorte danada. Era fato que eu não desistiria de Scarlatti, estava pronto para lutar por ela e faze-la esquecer o idiota do Dylan, mas ela decidiu me poupar de toda "sofrência", terminando antes mesmo de começarmos qualquer coisa, então o jeito era se conformar.
Eu não podia dizer que estava indignado. Um misto de alivio e arrependimento tomava conta de mim. Enquanto olhava a praça pela janela trazeira do meu carro, me peguei pensando nas palavras da minha mãe: " Há males que vem para o bem". Não via como algo negativo Scarlatti ter eliminado qualquer chance entre nós, mas era claro que isso não era algo bom também. Então, se o male era esse, aparentemente, a questão agora era saber qual era o bem.
Eu saio do meu estado vegetativo ao ver um vulto branco passar correndo pela janela do carro. Não estávamos em alta velocidade por ainda estarmos passando pela praça, mas de fato ouvi o Fred pisar no freio e o barulho dos pneus se arrastarem no asfalto, seguido por um estrondo que so podia ser reconhecido como algo lançado contra o capô do carro.
- Meu Deus! - Ouço Fred exclamar, meu motorista de anos.
Apertando o botão correspondente a tela que me bloqueava dele, permito que deslize até conseguir vê-lo. O brilho da careca de Fred é o que avisto primeiro, depois um corre-corre de pessoas se aglomerando a frente do carro.
- O que foi isso? O que está havendo, Fred? - Exijo saber.
- Acho... Eu acho que atropelei alguém, senhor - ele parecia atordoado.
Grunhido, eu abro minha porta as pressas, me lançando fora do carro. Em geral não sou de me enfurecer ou ficar nervoso, calma é minha companheira a séculos. Mas não podia ficar tranquilo sabendo que atropelamos alguém. E se algo acontecesse? E se tivesse sido morta? Duvido dessa capacidade, ja que a velocidade não oferecia tal risco, mas, até onde eu sabia, a pessoa poderia estar debaixo do carro com algum membro preso entre o chão e a roda ou algo tão horrível do tipo.Com urgência, eu ando até onde todos estão em volta de alguém. Fred também me acompanha, ao que parece de volta a si.
- Com licença... - peço, abrindo caminho entre as pessoas. Elas vão se afastando da minha frente, me dando espaço, mas ainda soam assustadas e em horror. Faço uma breve oração para não me deparar com uma daquelas cenas de acidentes que fazem seu estômago se contorcer.
Fico estático por meio segundo, vendo uma cabeleira de cachos grossos e longos se agitando de um lado a outro. Ela estava de costas para mim, mas só a visão daqueles cabelos e seu corpo, coberto com vestes leves e brancas, em total contraste com a cor da sua pele chocolate, ja me faz perder parte do ar.- Eu... Eu... Ta tudo bem. Tudo bem - a ouço repetir varias vezes, gaguejante e nervosa. Noto também que suas mãos tremem enquanto tenta arrumar a infinidade de cachos.
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RENDIDOS
ChickLitEm RENDIDOS, o segundo volume de Minha Tentação, primeiro livro da série 3 Irmãos, Dylan Sanchez e Scarlatti exploram a possibilidade de um futuro novo ao irem morar juntos. Três meses se passaram desde a tragédia de terem perdido o filho, e isso ai...