Capítulo 11 ........... Futuro Incerto

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Dylan Narrando


Eu estava relativamente bem. O pesadelo que tive na véspera ofuscou parte da minha concentração no trabalho. Aparentemente, todos ao meu redor pareceram notar meu Dispersar. A começar por Scarlatti, que precisou chamar minha atenção várias vezes durante o café da manhã. Como não era nenhuma boba, ela sabia que estava relacionado ao pesadelo que tive. Eu bem que tentei enrola-la dizendo ser estresse do trabalho e a sobrecarga que estava sobre meus ombros e os de Laura, mas Scarlatti não caiu nesse conto. No fim, deixou por isso mesmo, acho que na espera de que eu a contasse quando estivesse preparado para tal - o que não aconteceria. Não quando o pesadelo envolvia o que mais a faz sofrer.

Laura e eu trabalhamos em inúmeras idéias, discutindo sobre campanhas e fazendo pesquisas. As breves reuniões com os representes de algumas marcas também foram puxadas, mas tentei me manter focado a todo instante. Vez ou outra era fácil se deixar levar pela onda do trabalho tumultuado, com tantos telefonemas  e e-mails a responder, mas quando parava para um café ou intervalo, todas as cenas do pesadelo tomavam minha mente. Ele havia sido horrível, mas não posso negar que pior que saber que "matei" meu filho, foi acordar com a certeza de que jamais terei um. Scarlatti não podia engravidar, e embora eu a dissesse constantemente que estava tudo bem, eu sabia que no fundo não estava. Eu poderia me acostumar com a vida que estava levando facilmente, porém nada seria tão perfeito. É quase como se, para o lance entre mim e Scarlatti dar certo, fosse preciso um vínculo. Um filho, que nos manteria conectados uma vida toda. O fato dessa possibilidade não se aproximar nem da mínima me assustava.

- Estou indo para o almoço - anuncia Laura, entrando como sempre de supetão em minha sala. 

 Eu solto um suspiro, acordando do transe em que acabei imergindo, e ergo o rosto para minha secretária pendurada na porta. Juro por Deus!, se Scarlatti não fosse tão importante ao ponto de nenhuma outra importar, eu seduziria minha secretária - claro que supondo que ela não fosse lésbica. Mesmo chata, Laura era o tipo de mulher que me agradava, ao menos fisicamente. Um corpo legal talhado a belas curvas, seios na medida certa, olhos castanhos e cabelos loiros cor de mel. Um tempo atrás, seria classificada para mim como a mulher ideal para mais uma noite de luxúria.

- Tudo bem - digo simplesmente, fingindo arrumar alguns documentos, porque parece tão esquisito associar Laura a qualquer pensamento maldoso, que prefiro evitar.

- Tudo bem mesmo? - Ela pergunta, se recostando na gigantesca porta e me encarando com aquele olhar investigativo.

- Sim - minto, afinal ela é amiga da minha mulher. Tudo bem que Scarlatti ainda não era minha esposa, e confesso que dúvidas a respeito do cumprimento dessa promessa acercam minha cabeça nos últimos dias, mas eu ainda desejava veementemente que ela fosse. - Vou descer em um instante.

- Hum. Ah, eu... Bem, não vou poder ficar hoje - ela diz, com qualquer suspeita que tivesse tido ja esquecida - Combinei de encontrar Kamilly num restaurante aqui pertinho. A gente não ta muito bem e ela ta tentando ajustar as coisas comigo, vai até pagar o almoço!

Eu viro os olhos, menosprezando sua empolgação apenas para provoca-la.

- Nossa! Que maneiro!
- Affs! Você é um chato! - Ela faz língua para mim.
- E seu chefe também, não se esqueça disso - alerto.
- E tem como esquecer? - ela resmunga com um bufar - Bom! Eu vou lá! Às duas em ponto estou de volta.
- Só se for para catar suas coisas - retruco, apanhando meu celular e chaves para jogar no bolso - O horário é as uma.
- Talvez eu me atrase.
- Faça isso e encontrará outra em seu lugar.
- Boa piada - ela ri.
- Vai rindo.
- Beijo! - Ela grita, me assoprando um antes de fechar a porta.

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