Capítulo 28 ........... O Inesperado - II Parte

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Scarlatti Narrando


O dito popular "confiança não se ganha, se conquista", enquadrava-se perfeitamente no paradigma pelo qual eu esta a passando.

Quando o assunto era saber se eu confiava em Dylan, N respostas me vinham a minha cabeça, no entanto nenhuma em definitivo. Eu confiava nele até determinados pontos, já em outros...

O número de vezes que Dylan já mentiu para mim era quase incalculável, e, muito embora ele alegasse na maioria que era para o meu próprio bem ou que não era relecante na questão abordada, eu ainda me importava. Mentiras era algo que eu não conseguia lidar sem dificuldades, e, tratando-se da circunstância imposta no momento, eu não podia negar que estava com uma ou dez pulgas atrás da orelha.

Ainda sentada a mesa da cozinha, observando a soleira pela qual Dylan passara não tem tanto tempo para ir ao trabalho, eu tentava não surtar com a ameaça que poderia ou não estar sobrevindo a mim. Eu sabia que Dylan não faria nada com sua ex, - ou assim eu esperava estar certa - afinal ele me amava e fazia questão de deixar isso claro sempre que tinha chance, mesmo entre uma piadinha ou outra. Todavia, eu não tinha a mesma certeza sobre Ludmila, a mulher pela qual ele já foi louco. Até onde eu sabia, ela podia estar apenas induzindo-o a ceder aos seus caprichos novamente, a fim de reconquista-lo. E eu não estava preparada para perde-lo ainda. Nem nunca estaria.

A vontade que me dava era de pôr uma roupa poderosa, uma maquiagem escândalo, e saltos agulhas enormes, e ir encontra-lo em seu escritório na hora prevista para o tal "encontro". Esse desejo palpitava fortemente em minha cabeça, me fazendo cogitar as reações de ambos e rir disso. Voltar a agir como a recente antiga Scarlatti, durona e altiva, antes de Dylan ter me resgatado, apenas para por sua ex em seu devido lugar de ex, não seria uma má ideia. Mas, bem, eu precisava dar a ele algum crédito. Até porquê, ele estava se esforçando para me mostrar que estava mudando. E lembrar-me do que ele tem passado em seus pesadelos ultimamente, ainda por cima sem meu conhecimento até ontem, fazia-me sentir culpada - mesmo ele alegando e eu tendo compreensão de que não era.

- Um voto de confiança - murmuro com um suspiro e uma dorzinha chata no peito - Dylan precisa de apenas um voto de confiança.

Decidida - contudo ainda temerosa - eu largo uma exalação determinada e me levanto. Nada de ir a escritório pagar de ciumenta insegura. Isso não era do meu feitio. Essa não era eu.

Eu tento me concentrar na bagunça sobre a mesa do café da manhã, pensando em mil e uma coisas que ainda necessito fazer, enquanto carrego tudo de volta aos seus respectivos lugares.

Arrumar casa.
Passar na lavanderia.
Ir ao laboratório.
Encontrar-me com o doutor Fernández.
E ainda enviar um relatório para Jorge Lucas - afinal contata-lo via e-mail foi o meio mais viável e ideal que encontrei para evitar brigas com Dylan.

Resumidamente, o dia estava cheio e minha mente fervilhando. Tanta coisa para agir... Fora os preparativos para a festa de aniversario de Dylan, que acabei por decidir que seria em sua boate-bar preferida, onde também demos nosso primeiro beijo.


Não me demorei nos afazeres de casa, tendo o auxilio da música - dessa vez nada de Mozart, e sim pop. Vez ou outra eu me pegava pensando nos pesadelos que Dylan andara tendo. Por que nunca me toquei que poderia ter envolvimento com o que acontecera meses atrás, afinal o ocorrido mexera tanto com ele quanto comigo?

Eu devia ter adivinhado.

De alguma forma, eu creio que devia ter associado os fatos - mesmo sabendo que não resolveria nada. Talvez fosse isso que me fizesse sentir com tanto remorso, não ter previsto ou correlacionando ao incidente. E eu sabia: Esse era apenas um detalhe a mais na lista prejudicial a saúde, tanto física quanto psicológica, de Dylan, que eu o estava causando.

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