Capítulo 51 ........... Problemas Resolvido? - I Parte

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Dylan Narrando


A vida tem maneiras diferentes de nos surpreender. Porém há determinadas circunstâncias em que as coisas podem ser  previsíveis, deixando você sempre um passo adiantado. Ou dois. Por isso, quando Ludmila me ligou a caminho do trabalho, dois dias depois de termos nos visto, eu não fiquei surpreso e já tinha tudo preparado.

- Eu aceito.

Foi tudo o que ela me disse na ligação, recebendo como resposta um horário exato para encontrar-me na agência. Uma resposta, mil significados. Duas palavras, muitas mudanças e um tormento. Não é como se eu esperasse que ela dissesse outra coisa, no entanto, com o pescoço do seu namoradinho na guilhotina. Mas, de alguma forma, eu mantinha falsas esperanças e um desejo veemente de que ela recusasse a oferta. Ter Ludmila trabalhando para mim, estando constantemente na agência, não era o que eu queria.

Minha situação com Scarlatti não estava nem mesmo relevante. Eu não dormi mais na sala, e ainda fui capaz de conversar com ela, dizer que Ludmila havia se comprometido em me dar uma resposta em um curto prazo de três ou menos dias. Também ajudei-a no restante do empacotamento - iríamos nos mudar em breve e tudo precisaria já estar pronto. As papeladas, como a escritura da casa dentre outras burocracias, já estavam correndo, o pagamento já depositado e o contrato já assinado na presença dos meus advogados. Tudo corria perfeitamente bem, exceto ainda nossa relação. Scarlatti podia negar o quanto quisesse, mas eu a sentia diferente comigo, distante. Depois da minha ceninha no banheiro, também, era até compreensível. Além de eu ter soado ignorante, ainda havia chorado como um bebezão.

Todavia foi impossível segurar. Não suporto nem pensar em meu passado, na forma como fui abandonado e em como passei minha vida achando que fui rejeitado pelos meus pais, sem sentir uma familiar dorzinha. Não é uma coisa fácil de lidar, a rejeição dos seus progenitores, por mais anos que se passem ou por mais que você tente ignorar. É um tipo de dor que se carrega junto com o vazio que te preenche o peito pelo resto da vida. Você cresce, se forma, arruma uma mulher, uma casa nova, e até o filho que sempre almejara, porém ainda sente aquele menino chorão e carente gritando dentro de si. Implorando pela atenção e o amor de pais que nunca conhecera.

Voltando a Scarlatti e a nossa situação... A pior coisa de quando se está num relacionamento, é sentir que seu parceiro não confia em você. Scarlatti me escondia algo, eu tinha a uma convicção vigorosa disso e que se tratava de coisa séria, porém ela se recusava a partilhar comigo. O que quer que fosse, devia ser mais grave do que eu realmente julgo que seja.

Eu quase não suportava a maneira como ela me olhava. Às vezes, encontrava-a distraída, olhando-me em transe, os olhos marejados e com sentimentos difusos. Cheguei a reconhecer alguns, os mais frequentes, eram a culpa, o receio, o medo e o pesar. Mas, de todos, a pena era o pior. O porque dele, eu não entendia.


Tudo estava pronto para receber minha ex. A sala de conferência já arrumada, os responsáveis que requisitei presentes. Dentre eles Daynne Telles, Laura, e Heitor, um dos meus advogados. Acima da mesa em formato de C ao contrário repousava a maleta, com a exata quantia em que Ludmila implorara. Duzentos mil. A tensão na sala era única e estritamente minha, sentado ao meio do C com Laura a minha direita e o advogado a minha esquerda. A minha frente uma outra cadeira similar a dos outros, já que a minha se destacava pela altura e pela cor branca. No final da mesa semicircular de madeira polida, Daynne se matinha calada. Hoje seria o seu primeiro dia na agência, e ela portava um dos seus trajes executivos que eu suspeitava que veria com muita frequência ao longo da minha ainda iniciante carreira, e sua postura altiva e imponente.

- Calma - Laura me sussurra, empurrando meu ombro com o  seu. Eu tinha decidido que não contaria a ela sobre a promoção enquanto não recebesse da minha ex uma resposta, afinal tudo dependia dela. E agora cá estou eu, com a resposta já recebida e ainda sem nada ter dito a minha secretária.

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