Capítulo 59 ........... Dose Dupla

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Dylan Narrando


Eu não conseguia pensar em mais nada desde que saímos do consultório. Scarlatti tentava frequentemente me fazer falar alguma coisa, mas eu ainda estava muito baqueado para tal.

- Gêmeos!? Ma-mas... Isso... Isso não pode... - eu gaguejei, meus pensamentos em curto.

- Ouçam. Dois coraçõezinhos batendo ao invés de um - a médica disse, radiante. Eu não fui capaz de falar mais nada depois daquilo. Tinha mil e uma perguntas saltitando na cabeça e um sentimento estranho, porém agradável, se formando em meu peito. Eu podia ouvir. Estava ouvindo duas batidinhas estranhas, mas rítmicas. Eram eles. Eram os meus filhos. E eram gêmeos. Scarlatti e eu teríamos gêmeos.

- É tão lindo - Scarlatti disse com voz rouca, nitidamente emocionada.

- Sim - a obstetra sorriu, ainda apalpando e deslizando a sonda sobre sua barriga. Eu estava paralizado, tentando processar a informação. Estava emocionado. Tão feliz... que não conseguia esboçar nenhuma reação.

- Mas... Gêmeos, doutora? Como... Como isso é possível? - Assim como eu, Scarlatti ainda parecia incrédula com a notícia.

- Vejam vocês mesmos - a doutora disse, puxando a tela para que Scarlatti e eu pudéssemos vê-la de um ângulo melhor - Vêem esses dois sacos? - Ela apontou, tanto com o dedo quanto com a setinha - São os chamados Sacos Gestacionais, e dentro deles estão os embriões, ou seja: seus filhos. O que significa que vocês provavelmente terão gêmeos bivitelinos, mais conhecido como fraternos. O que se entende, é que dois óvulos foram fecundados por espermatozóides distintos, formando assim sua gestação gemelar.

- Gêmeos - repeti, porque era somente aquilo que a minha mente registrava. Eu ia ser pai de gêmeos.

- São... São eles? - Scarlatti parecia comovida, os olhos brilhantes e marejados. Sua mão, um tanto quanto trêmula, repousava contra a boca.

- Sim - a médica assentiu, tão sorridente que parecia que ia explodir de felicidade - Vejam, aqui é a cabeça. Estão vendo? - Ela apontou para algo que parecia uma bola de futebol amassada, que por sinal não parava quieta, virando-se de um lado a outro - E daqui aqui... A cabecinha ao bumbum... E então as perninhas, os bracinhos... Estão vendo? E o mesmo com este, como podem ver - ela disse, apontando para a segunda imagem idêntica.

Eu não consegui dizer nada, só observar, encantado, as imagens dos nossos bebês virando-se de um lado a outro, inquietos.  Meus filhos. E eram tão pequeninos... Que deviam caber perfeitamente na palma das minhas mãos.

- Eles são lindos - Scarlatti disse, emocionada demais para segurar as lágrimas. Por reflexo, eu estendi minha mão para ela, que não hesitou em pegar, enquanto a sua outra ainda se mantinha pressionada contra a boca. Ela estava tão linda... Pela primeira vez, eu não me senti mal por vê-la chorando. - Tão lindos...

- E saudáveis, viu! - A médica riu - Os batimentos estão a 154pm. Melhor, impossível! Também não vejo nenhuma anomalia ou malformações.

- Mas... Como... Como isso é possível? - Scarlatti indagou-a, a voz nada mais que um fio. A partir dali, eu só conseguia ouvir ecos, enquanto observava minhas crianças se remexendo, ora em uma perfeita sincronia, ora para lados diferentes. A sensação que eu tinha era que eu estava ali ao mesmo tempo em que não. As vozes delas chagavam de longe, e quando as olhava via, pareciam apenas espectros. Mas, meus filhos... Eles, não. Eles eu conseguia enxergar perfeitamente, mesmo com todos aqueles riscos e sombreados na tela. Eu não sentia nem mesmo a porra do meu corpo, direito, só a sensação diferente que estava me tomando mais a cada segundo. E aquele sonzinho... Deus! Aquele som que eu guardaria pelo o resto da minha vida; o coração deles; batendo. Ritimados.

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