Sei que disse que postaria um por dia, mas como vocês andam merecendo e eu sou um tiquinho malvada... Rs boa leituraBijundas 😘
*****
Scarlatti Narrando
Eu não esperava aquele pedido tão cedo, e confesso que não estava preparada para quando ele chegasse. Não tinha ideia de como regredimos a este tema, levando em conta os acontecimentos recentes e que eu estava num quarto de hospital, nem mesmo porque, de uma hora para outra, Dylan decidiu que queria a verdade da qual sempre se recusou tomar conhecimento. Para ser sincera, esperava antes uma conversa sobre nosso relacionamento, nossa atual situação e o futuro de nós dois, uma certeza de que entre a gente estava tudo bem. No entanto, se era aquilo que ele queria, eu não faria cerimônia, afinal era a história da vida dele, e muito embora eu não me sentisse confortável ou no direito de estar ali lhe contando, sabia que ele precisava e que eu era a única que poderia ajuda-lo no momento.
Então, esforcei-me ao máximo para controlar minhas emoções enquanto contava a ele tudo o que Jorge me relatou, desde sua infância difícil até seu desaparecimento da vida deles. Sentindo-me no direito de defender aquela história e declarar que, não somente ele, como todos os outros envolvidos também eram vítimas, continuei a contar mesmo após sua existência entre eles já não sendo mais algo físico.
Nenhuma reação veio de Dylan assim que terminei. Nenhum esboço de emoção, revolta, dor ou qualquer outro sentimento que me indicasse como ele se sentia. E, ao invés de falar comigo, ele simplesmente fitava a parede a sua frente, inerte em seus pensamentos e sabe-se lá em que mais.
- Eu sinto muito - volto a repetir, esperando ainda que ele reagisse.
- Abandonado - ele diz, os olhos estreitos para o nada.
- Não por escolha - retifico, esperando que parte dele visse e entendesse que não havia alguem para culpar. Nem sua mãe, nem seu pai, ou tampouco o destino.
- Todos temos escolhas - retruca amargamente, enfim revelando um pouco do que carregava dentro de si.
- Nem sempre - contra-argumento. - Às vezes... a vida é cruel, e não te dá direito de escolher o que você gostaria. Ela simplesmente te força a aceitar sua realidade e o que te é imposto. Acontece com todo mundo, Dylan. E aconteceu com a sua mãe.
Ele abana a cabeça de um lado a outro, relutante.
- Ela poderia ter recusado. Poderia ter... - ele engole a seco e trinca os dentes, os olhos alagados, tornando-os mais verdes. Enquanto o vejo lutar contra a torrente de emoções que o assola, meu coração se comprime. - Ela Poderia ter escolhido não abrir mão de mim.
- E o que? Ter que te assistir crescer em meio a tudo aquilo? Sem a expectativa de um futuro...
- Ela escolheu a ele! - Grita, perfurando-me com seu olhar de dor e mágoa. Eu não poderia me sentir mais quebrada ao ver aquele olhar de menino ferido em seu rosto retorcido. - Ela poderia ter me escolhido... Ou ter ficado com os dois. Mas escolheu a ele!
Eu balanço a cabeça, desesperada, lutando contra a vontade de pega-lo em meu colo e dizer que ninguém jamais o machucaria assim de novo. Não se dependesse de mim. Contudo eu não podia. Precisava fazer com que ele entendesse todos os lados, e não somente o seu. Precisava fazê-lo enxergar as coisas como eram, e enfrentar aquilo como um homem, pois só assim ele se veria livre da dor. É preciso perdoar para seguir, pra que o peso se transforme em alívio. E se Dylan não fosse capaz de compreender o porquê de como os fatos se sucederam, jamais perdoaria sua família por ter sido abandonado, e, logo, jamais poderia seguir em frente sem que o passado o torturasse toda vez que olhasse para trás.
VOCÊ ESTÁ LENDO
RENDIDOS
Chick-LitEm RENDIDOS, o segundo volume de Minha Tentação, primeiro livro da série 3 Irmãos, Dylan Sanchez e Scarlatti exploram a possibilidade de um futuro novo ao irem morar juntos. Três meses se passaram desde a tragédia de terem perdido o filho, e isso ai...