RENDIDOS

Capítulo 8 .......... Trégua - II Parte

Dylan Narrando

Dentre todas as opções, encontrar Scarlatti chorando ao pé da cama era a mais improvável, tanto, que nem sequer passou pela minha cabeça.

Imediatamente eu corro até ela, sentindo-me imensamente culpado. Ela mantem as mãos em concha a frente do rosto, os cabelos agora soltos caídos ao seu redor enquanto chora capciosamente.

- Scar? - Eu paro a sua frente desnorteado,  e tento retirar suas mãos do rosto na tentativa de decifrar algo através da sua expressão. Para minha completa surpresa, Scarlatti se atira em meus braços, enlaçando meu pescoço.

- Desculpa - ela pede agarrada a mim, a voz embargada enquanto soluça - Des... Desculpa.

Ainda sem saber o que fazer diante daquilo, eu a estreito ainda mais meus braços a sua volta, afagando seus cabelos com uma mão.

- Ta tudo bem, meu amor - digo baixinho - Ta tudo bem...

- Eu... Eu sinto tanto! Eu não queria... E-eu...

- Shiii... Não é culpa sua - eu a aperto ainda mais, apavorado com o estado em que se encontra, afinal isso não é do seu feitio. - Eu é que devo me desculpar.

- Não. Não, você... Você é só mais uma vítima, Dylan. Uma vítima dessa minha história... Do que eu me tornei... Eu não te mereço - ela soluça, agarrando-se a mim - Eu não te mereço. Mas eu te amo tanto...

- Ei, para com isso - falo, e a afasto apenas o suficiente para segurar-lhe o rosto e fazê-la olhar em meus olhos - Eu amo você, Scar. Você ouviu? E eu não me importo com a sua história-

- Dylan...

- Ei, espera - eu a puxo de volta quando tenta se afastar - eu não terminei. 

Scarlatti se recusa a me olhar, e isso me dói profundamente. Eu seguro novamente seu rosto entra minhas mãos.

 - Eu não me importo com a sua história - sou sincero, fitando seus lindos olhos castanhos matejados de dor e angustia - Mas me importo com o que foi feito com você. Eu juro, Scar, que se eu pudesse ter um desejo realizado nessa vida, pediria para que nada daquilo tivesse lhe acontecido - eu engulo a seco, e sinto-me tão revolto ao mesmo tempo que comovido, que deixo uma lagrima escapar contra minha vontade. Dos olhos de Scarlatti outras também rolam em absoluto silêncio enquanto com uma mão trêmula ela tenta limpar meu rosto - Eu não posso mudar o passado, mas sei que podemos fazer diferente agora. E eu prometo a você, Scar, meu amor; eu jamais vou te machucar.

- Você... Você promete? - Ela me questiona, beirando uma nova onda de choro. Todavia sei que dessa vez é de emoção; emoção e receio. Receio de que eu não cumpra com a minha palavra. Scarlatti e eu sabíamos bem que havia a chance de nos machucarmos um dia, todas elas, afinam somos um casal complicado. Mas não fisicamente. E esse era todo o X da questão no momento.

- Eu prometo - afirmo para ela, porém guardando para mim o juramento de que se algum dia eu a fizer mal, jamais me perdoaria.

Deixando que suas lágrimas venham livres, Scarlatti se joga contra meu corpo num abraço apertado, e eu a recebo de olhos fechados e coração aberto, ciente de que ali um pacto foi selado. Um inquebrável pacto.

*****

Meus olhos se abrem de repente. Meu peito está acelerado e meu corpo transpirando suor em jorros. Embora eu esteja com os olhos abertos, tudo ao meu redor é escuro. Foi um pesadelo. Tinha sido apenas um pesadelo. Mas qual?