Capítulo 40 ........... Sombras do Passado

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Scarlatti Narrando


- Dylan, não podemos ficar com essa casa - eu digo, olhando embasbacada pela septuagésima vez o cômodo em que estamos da, sabe-se lá que número, casa que visitamos.

- Por que não? - Ele pergunta com alarde, vindo de dentro do que parece ser outro quarto acoplado, mas que na verdade não passa de um closet estupidamente enorme. Eu precisaria fazer compras a minha vida inteira para enche-lo e talvez nem assim preenchesse todo o espaço vazio. Já contando com as roupas de Dylan, inclusive. - Eu gostei dessa. É mais clássica que moderna, mas agrega o atual. Se parece muito com a do meu irmão. Eu gostava de morar lá.

Eu suspiro, estarrecida.

- Olha o tamanho disso, Dylan - eu abro meus braços, medindo não somente o quarto em que estamos como todo o restante.

A casa era linda, como as tantas demais pelas quais passamos. Era branca, com assoalhos ao invés de pisos, e cômodos amplos. Tinha uma piscina enorme nos fundos com area para churrasco, dois andares, garagem com capacidade para até cinco Jeeps, e um gramado verdinho. Quartos para visitas e um para o nosso pequeno bem ao lado do que seria o nosso - caso tudo corresse bem. Uma cozinha ampla, com a tão sonhadora janela que Dylan almejava, um sótão e um escritório tão grande que Dylan e eu poderíamos dividi-lo em dois para que ambos o usássemos. Fora a academia independente, com sauna e tudo, e uma casa de copeiro. Mas, apesar de tudo isso, o que mais me encantou nela foi as duas árvores que davam de frente para o quarto em que estávamos, unidas para suportar um único balanço de madeira ainda muito bem conservado.

Não teve como não fantasiar com uma criança brincando ali, sorrindo enquanto se inçava para frente em busca de mais velocidade e adrenalina. Eu quase chorei com a imagem que se formou em minha mente, com Dylan ali, empurrando nosso filho enquanto eu os admirava do nosso quarto após acordar num fim de semana ou feriado qualquer. Eu seria a mulher mais feliz do mundo se vivesse ou morresse assim.

- Eu já vi o tamanho - ele prossegue - E, convenhamos, é menor do que as anteriores - diz, entrando em meu campo de visão. O sol que chega por trás dele, vindo diretamente da sacada, o dá uma aurea angelical, como um sonho numa tarde ensolarada. Os cabelos brilhantes com poucas mexas em castanho, os braços arqueados com as mãos enterradas nos bolsos. E, meu Deus, como eu amaria acordar com a visão dele exatamente assim todos os dias... Ou talvez usando um pouco menos de roupa.

Balançando a cabeça para me livrar de tais pensamentos e me concentrar no assunto, eu suspiro e caminho até ele. Debruço-me em seu peito firme.

- Você já pensou em quanto deve custar essa casa? - Pergunto, olhando dentro dos teus olhos verdes - Eu não sei se tenho todo esse capital para investir. 

Ele bufa e vira os olhos.

- E quem foi que disse que você vai ter que pensar nisso?

Eu recuo. E o que eu mais temia estava se pronunciando.

- De quem será essa casa, Dylan Sanchez? - Pergunto, apontando meu dedo para o chão, indicando o imóvel de modo geral.

Ele franze a testa, aturdido.

- Ué, nossa. Que pergunta! - Ele bufa, afastando-se em direção ao banheiro, igualmente em tamanho exagerado. Somente este cômodo já se resume em meu apartamento.

Eu sigo Dylan de perto.

- Então, concorda que não tem cabimento você arcar sozinho com os custos. Certo? - enfatizo, recostando-me na soleira com braços cruzados e uma sobrancelha arqueada.  Não tinha negociação se ele não aceitasse meus termos. E esse era um termo justo. Mais do que justo, na verdade.

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