Capítulo 34 ........... Festa - II Parte

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Scarlatti Narrando


Eu tentava ao máximo não me sentir nervosa. Mais do que já estava, aliás. Muitas coisas me assombravam, e tentar agir normalmente para que Dylan não suspeitasse de nada estava sendo um sacrifício. Seu cuidado extra me tirava a paciência com mais frequência que o normal. Eu entendia o seu lado e não queria culpa-lo por coisa alguma, mas sua superproteção só me retificava que ele sabia a probabilidade daquilo não dar certo, e isso não era o que eu precisava para alimentar ainda mais meus medos. Contudo, a falta de sexo estava me afunilando. Era difícil olhar para ele e não deseja-lo com intensidade. Tudo nele me instigava. Seu corpo, seu tom de pele, o modo como sorria, falava ou ate gesticulava. A risada alta e agora essa barba rala! Deus! Como eu o queria! Acho que nunca o desejei tanto antes.

Todavia, apesar de tudo, nem todas as minhas inseguranças eram piores que a ameaça que sua amiga representava para mim. E não era por que Cleonice era uma mulher linda, dona de curvas invejáveis, e um sorriso arrebatador. E sim por todos os outros riscos que ela apresentava; Ela o conhecia a mais tempo que eu; Ela o namorou antes de mim; Ela era linda; Dylan a adorava; E, acima de tudo, tornando a coisa ainda pior, ela podia engravidar. Tudo o que eu não podia oferecer a Dylan, ela poderia dar-lhe sem esforço. E cá estava ela agora, esbanjando esse sorriso torto sarcástico com essa beleza indígena de tirar o fôlego de qualquer homem. A calça de coro preta ajustada a suas pernas e a bota preta de salta davam a ela mais altura do que ela de fato tinha. A jaqueta negra de couro e a blusa branca estampada a embelezando ainda mais. Não era uma concorrência fácil.

- Scar - ela me cumprimenta com escárnio, usando o apelido que apenas Dylan ousava me chamar. Até porque, ele mesmo o havia inventado. Eu aperto os meus molares e faço um esforço sobre-humano para não fechar as mãos em punho e deixar evidente o meu desagrado com sua presença. Preciso manter a compostura. Talvez Dylan e eu não fôssemos tão diferentes assim, afinal de contas, lembrando como ele reagiu a aparição do seu antigo amigo, que teve a sorte de se aproveitar de um momento no passado em que nós ainda não estávamos oficialmente juntos. Até hoje, no entanto, Dylan não o engole.

E falando na criatura, Dylan se encontra petrificado ao lado da amiga, encarando-me com um certo temor na expressão aterrorizada. Eu encurto nossa distância e vou ficar para o seu lado, mostrando a tal Cleo, mesmo que temendo todos os riscos que ela me expõe, que por enquanto Dylan é meu. E que ela terá de fazer muito para me fazer desistir dele.

- Como vai? - Pergunto retribuindo seu cumprimento, e é como se todos sumissem de repente do bar, assim como musica já não é mais ouvida por mim. Apenas eu e Cleonice e o nosso ódio mortal uma pela outra estão em foco.

- Bem - ela mantem o sorriso debochado no rosto e o ar relaxado no semblante. - Estava a admirar o amor entre chefe e secretária diante de mim. Afinal, isso anda sendo bem comum nos livros, não? - Ela brinca.

- Não sei - eu forço um sorriso igualmente tranquilo - Costumo ler muito a noite, mas Dylan não tem me deixado fazê-lo ultimamente - retruco, mesmo isso não sendo bem uma verdade. Ao menos não como dei a entender.

Ao meu lado, Dylan começa a tossir e engasgar desenfreadamente. Eu aperto meus dedos com um pouco mais de intensidade em volta do seu braço e espero, para o seu próprio bem, que ele entenda o significado disso.

- Realmente, ele não é do tipo que gosta de deixar alguém parada - ela afirma, lançando uma piscadela nada discreta para ele.

- Gente, como essa festa está linda, não? - Ouço Laura se manifestar, e mesmo com todo o meu sangue fervendo e fugindo do meu rosto enquanto encaro a amiga abusada do meu noivo, eu me concentro nos outros a volta, conseguindo enfim notar a voz de Ellie Goulding em Outside que ecoa dos aparelhos do Dj.

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