Dylan Narrando
Tudo na vida muda. Seja para bom ou ruim, a mudança é um processo inevitável. E as mudanças que minha vida sofrera só ao longo dos últimos meses não foram poucas. Era como se eu tivesse dado um salto em anos dentro de míseros meses. Toda a transformação pela qual ansiei quando adolescente, e que tinha uma ordem certa para acontecer, mas que não ocorreu, estava se entulhando agora. Responsabilidades, carreira profissional, mulher... E agora, filhos. Claro, essa era a parte boa de toda a mudança que eu estava vivendo. A parte ruim era a descoberta de um passado que, até então, eu não fazia ideia de que tinha e de como se desenvolveu. A descoberta de uma infância na miséria, um irmão que eu odiava, e uma mãe que nunca conheci e supus que ainda estivesse viva. E eu estava tendo que lidar com tudo isso de uma única vez.
Após todo o incidente no shopping, onde, graças a Cleonice, terminou em menos tempo do que imaginei ser possível, e com o infeliz do ex-marido de Scarlatti atrás das grades, a vida pareceu seguir seu curso natural - trincado pelo fato da sua mulher ter dois nomes, um detalhe que eu havia me esquecido por completo e que só fui voltar a questionar no instante em que atendi uma ligação, até então, por engano. Era com uma tal de Alice que os pai de Scarlatti queriam falar quando ligaram para ela e eu atendi. Alice Scarlatti Drummond de Oliveira Albuquerque, para ser mais preciso. Segundo a mesma, quando mais tarde naquele dia exigi uma explicação, esse era seu real nome de batismo, que precisou trocar para obter uma nova vida, longe de tudo o que viveu de ruim e o mais distante possível do radar do seu ex. Se fiquei surpreso? Obviamente. Furioso? Bastante, eu diria. Pois, muito embora não me devesse satisfações sobre seu passado, ela não devia ter me escondido algo dessa magnitude. Todavia já não havia mais o que fazer a respeito. Então, após tudo devidamente esclarecido, estabelecemos um pacto onde, de forma solene, prometemos jamais mentir um para o outro novamente. Nunca mais.
Com relação a agência, as coisas caminhavam bem - embora Ludmila ainda não tenha retornado para cumprir com o acordo. Eu estava indo cada vez melhor, mesmo administrando-a de casa, com o auxílio de Laura e Dayanne, pois com a barriga de Scarlatti ficando maior a cada dia e seu tempo gestacional se comprimindo, eu não queria deixa-la sozinha e desamparada. Eureka e suas Marias ajudavam bastante, mas só isso não era suficiente. Constantemente, eu precisava pegar em seu pé por comer besteiras ou realizar funções que não me pareciam apropriadas para sua atual condição, e embora ela não gostasse, não retrucava minhas ordens. Nas seguintes consultas com a doutora Aline descobrimos que tudo caminhava bem tanto com os bebês quanto com Scarlatti. E a confirmação de que teríamos um casal - não que eu tivesse qualquer dúvida quanto a isso - se consolidou no instante em que os vimos, já formados, através da ultrassonografia. Grandes, saudáveis e lindos. Nunca me senti tão emocionadamente feliz. E no mesmo dia fomos direto a casa do meu irmão, mostrar-lhe o vídeo que a doutora nos dera. Scarlatti também ligou para os pais, que deu a ela a notícia de que estavam de mudança para nossa cidade. Segundo eles, não havia motivos para permanecerem na antiga se a razão da vida deles estava ali. Era uma sábia decisão da parte deles, que chegariam assim que conseguissem vender a casa. Em prol disso, incumbiram à Scarlatti a missão de encontrar um bom imóvel para eles no bairro mais próximo possível. Embora seus pais tivessem algum bem, ainda estavam longe de ter condições de residir num bairro como o nosso. Com mansões em valores astronomicamente altos, era impossível, mesmo com toda a aposentadoria do seu Narcíseo e o dinheiro da venda da casa, conseguirem alguma. Eu poderia perfeitamente lhes oferecer uma ajuda financeira para tal, ou simplesmente lhes comprar uma casa vizinha. Contudo jamais os insultaria dessa forma. Pelo pouco que vi de ambos, eram simples e orgulhosos demais para aceitar minha ajuda. No final das contas, Scarlatti teve a quem puxar.
Outro dado positivo de toda essa mudança foi a incrível aceitação de Scarlatti com respeito a Dingobel. Na verdade, assim que voltei para casa e vi o cão correr em direção a ela, eu soube que o tinha perdido. Sua apegação e carinho por Dingobel era surpreendente, deixando que o mesmo dormisse dentro de casa e, inclusive, em nosso quarto - provisoriamente transferido para a biblioteca - quando trabalho até mais tarde no escritório. Não soube em que momento a relação deles havia mudado da água para o vinho, mas fiquei satisfeito em saber que quando Scarlatti se sentiu mais precisada, Dingobel cuidou dela em meu lugar.
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RENDIDOS
Chick-LitEm RENDIDOS, o segundo volume de Minha Tentação, primeiro livro da série 3 Irmãos, Dylan Sanchez e Scarlatti exploram a possibilidade de um futuro novo ao irem morar juntos. Três meses se passaram desde a tragédia de terem perdido o filho, e isso ai...