Capítulo 19 ........... Pedido

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Scarlatti Narrando


Minha consciência emerge aos pouquinhos, despertando-me. Eu abro os olhos vagarosamente, adaptando-me a claridade que transpõe a janela. A primeira coisa que noto é que não estou em meu quarto. Por um segundo fico confusa, não entendendo onde estou e porque estou. Esfregando os olhos, eu pisco. As memórias vêm uma a uma. Eu vindo até o apartamento de Dylan depois de ser abandonada por ele mais uma vez, nosso reencontro, eu me entregando a ele... A pizza. Ah, e claro, meu aborrecimento ao lembrar-me de mais uma das suas mentiras. Muita coisa.

Suspirando profundamente, eu encaro a janela. O dia parece bonito ao lado de fora, e, se eu não tivesse coisas realmente importantes para fazer - como o café do mentiroso ao meu lado e despacha-lo para o trabalho - eu até ficaria ali admirando-o. Ou talvez simplesmente saísse para uma caminhada antes de dar início a investigação no caso de Jorge.

Eu me espreguiço, virando para encarar o teto. Meu corpo parece travado e duro, embora a noite de sono tenha sido relativamente boa.

Quando olho para o lado, afim de admirar a face do mentiroso mais lindo deste mundo, eu não o encontro. No espaço onde devia encontrar seu corpo há apenas lençóis revirados. Sob o travesseiro onde devia haver uma cabeça com fios desordenados não encontro nada além de um rolo de papel higiênico.

Minha testa se enruga em aturdirdes. Sento-me por um momento, não me importando com minha nudez sendo exposta, afinal ao que parece estou sozinha no quarto. Eu olho para a porta do banheiro, porém não encontro movimentos vindo do mesmo. Meus ouvidos também não captam barulhos ou ruídos indicando mais pessoas no apartamento. Eu estou só. 
 
- Que ótimo.

Pensando que é um milagre que Dylan tenha se levando sem que eu o esmurrace para fora da cama, eu apanho o rolo de papel sobre o travesseiro negro. As palavras em uma caligrafia grossa e quase sem intervalos num tamanho absurdamente pequeno - levando-se em consideração a espessura do piloto usado - me indicam a sugestão de uma mensagem.

"se acordar, não se levante. Preciso que ainda esteja na cama quando eu voltar. Te amo. D"

É quase difícil enxergar o D encolhido no cantinho, mas é sua assinatura. Então Dylan não foi trabalhar. Contudo, se ele não foi a Agência para onde foi? Releio uma e outra vez seu delicado bilhete, e não encontro pistas de onde poderia ter ido.

Soltando uma respiração condescendente, eu olho a minha volta. O quarto iluminado pelos fracos raios de sol está em absoluto silêncio, os móveis apáticos. O que fazer até que Dylan volte, sabe-se la de onde?!

Talvez eu pudesse liga-lo - penso, correndo minhas memórias uma segunda vez atrás de saber onde deixei meu celular. Minha bolsa. E eu havia a deixado na poltrona. Exceto que, virando o rosto, eu não a encontro por ali.

- Ué...

Ignorando o pedido de Dylan de ficar na cama ate segunda ordem, eu vou em direção a poltrona, agora envolta no lençol, afinal a ultima coisa que desejo é dar alguma visão do meu corpo a algum sortudo do prédio vizinho. Mas minha desobediência foi em vão. Minha bolsa de praia não estava ali.

Encafifada, eu vou até a sala. Meus dentes rangem ao, de cara, avistar um mundo de objetos espalhados pela mesinha. Minhas coisas.

- Dylan! - Sibilo, vermelha de raiva.
 
Eu marcho até o sofá de couro branco, espumando de raiva. Sento-me, avaliando com repugnância sua bagunça. Meu Deus, ele já começa cedo.

Eu apanho minha bolsa caída no chão aos meus pés. Enquanto esmurro todos os meus pertences de volta na maldita, pensando no sermão que irei dar-lhe por isso, tento encontrar meu celular. Nada. Reparo também na ausência das minhas chaves e na minha carteira vazia. O cretino ainda me assaltara. Não deve ter como piorar!

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