Prólogo

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​Quando acordou, tarde da noite, Alice ainda rezava para que tudo o que lhe acontecera naquele dia tivesse sido apenas um sonho. Um sonho muito ruim. Mas não era isso que seus olhos lhe diziam quando ela os abriu.

​Estava no lugar que ela imaginava ser a senzala. Nunca estivera em uma, mas o que via a aterrorizou.

​No meio do local estava uma bacia cheia de feijão preto, misturado com diversas partes de porco. Alice soube que eram apenas restos.

​Os escravos se amontoavam para poderem comer. Homens, mulheres e crianças, seminus ou nus em sua maioria. O espaço definitivamente era pequeno demais para todas aquelas pessoas, e as duas redes que ali havia eram ocupadas por várias crianças. Alguns escravos ainda observavam Alice confusos.

​Mas ela viu algo que realmente lhe chamou a atenção.

​Não era a única branca dali. Do outro lado do local, estava outra garota pálida, de cabelos bem escuros e olhos verdes. Parecia ser baixa, mas Alice não pôde ter certeza, já que ela estava sentada, as costas curvadas e os braços cruzados. Conversava em africano com uma jovem negra que alimentava o filho.

​– Não vai comer? – Alice se virou surpresa. Era Zaki, com um pote mal feito de cerâmica nas mãos.

​– Ah, não. Obrigada – sussurrou. Ele assentiu, e então chamou alguém em sua língua.

​Uma negra, muita bonita, com os cabelos quase até a cintura, se aproximou. Segurava um bebê no colo, e uma garotinha a seguia correndo. Zaki lhe falou algo novamente em africano, provavelmente apresentando Alice.

​– Alice, esta é Malika – disse. Ela assentiu e deu um sorriso, tímida. Malika retribuiu o sorriso. – E estes meus filhos Urbi – ele mostrou a garotinha, agora meio escondida atrás das pernas da mãe – e Dakarai – e este era o bebê.

​Alice assentiu uma segunda vez e baixou a cabeça para Urbi, sorrindo. A menina também sorriu, toda alegre. Parecendo admirada, ela se aproximou cambaleante da vampira e tocou seus cachos loiros. A mãe então pegou seu braço, puxando-a de leve para trás. Urbi deu alguns passos para trás, e então se desequilibrou. Antes que ela caísse, Alice a segurou gentilmente. A menininha riu.

​– "Sy hou van jou" – disse Malika. Alice não entendeu, mas Zaki logo ajudou com isso.

​– Malika está dizendo que ela gostou de você – traduziu ele.

​– Ah, obrigado. Eu gosto muito de crianças – respondeu ela. Urbi sentara em seu colo, e parecia gostar de mexer no cabelo de Alice.

​– "Dankie. Ek hou van kinders boie" – Zaki traduziu novamente, desta vez para a esposa, que disse algo à filha.
​Conversaram assim por mais um tempo, até que um homem branco, sem camisa e segurando um chicote em uma das mãos, ordenou que todos calassem a boca. Ninguém teve a audácia de desobedecê-lo.

​Quase imediatamente, todos se deitaram. Alice simplesmente deitou no chão, mas estava totalmente sem sono.

​– EI, VOCÊ! DEITADA! – o homem berrou. A vampira imediatamente levantou a cabeça. Era a outra garota branca que Alice reparara mais cedo. Mas ela não tinha problemas. Só encarava o que berrara fixamente. Logo em seguida, ele se virou e foi para o lado de fora. Ela revirou os olhos verdes, brilhantes como os de um gato na escuridão que agora estava. Voltou-se para Alice e se aproximou dela.

​– Oi – disse ela, se atirando no chão.

​– Er, oi – respondeu a vampira.

​– O que fez para Charlotte ficar com raiva? Já percebi que é uma vampira, então pode falar a verdade – disse ela.

Forever II - Vivendo a EternidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora