Hora de olhar para frente

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– Vamos lá, chega de ficar nessa cama, Alice – Robert a puxou, forçando-a a se sentar.

​A garota deu um gemido, resistindo em levantar, e empurrou o garoto sem fazer força. Ele riu.

​– Vou sair daqui e fazer o quê? – ela perguntou, olhando para o rosto dele.

​– Não sei. Isso nós descobrimos depois. Mas não vou te deixar aí sofrendo e se afundando em depressão o resto da vida. Já faz uma semana, e eu cansei de te ver desanimada. Você está muito mal – o vampiro se abaixou para a olhar nos olhos.

​Alice tinha de admitir que nisso ele tinha razão. Fazia uma semana desde o que acontecera, e apesar de não ter chorado mais – pelo menos não na frente dele – , todos os dias ficara na cama, simplesmente pensando. Não tinha nenhuma atitude para mudar a situação, mas também não aceitava o que acontecera. Fazia cinco dias que não via nenhum dos irmãos, e Vitor fora o último, que viera ver como ela estava, e acabara bem preocupado por ela mal ter saído da cama; além disso, sua aparência estava péssima, e a vampira sabia que estava deixando os outros clientes da pensão suspeitando de que ela estava doente. Ouvira inclusive um certo idiota dizer que Robert a havia matado e por isso ela nunca descera. Este último apenas riu quando ela lhe disse, e falou que a dona da pensão deveria ser mesmo muito fofoqueira para estarem todos sabendo da existência dela.

​O garoto lhe cutucou para trazê-la de volta para a realidade. Com certa surpresa, ela o olhou e percebeu que ainda não havia falado nada. Ela vinha tendo muitos diálogos em sua cabeça nos últimos dias e esquecendo de falar com as pessoas.

​– Sim, você tem razão. O que pretende fazer?

​– Bom, primeiro, você vai lavar o rosto, arrumar os cabelos, trocar de roupa, descer e provar para as pessoas que eu não te matei ainda – disse Robert, fazendo-a rir fracamente. Alice lhe deu um beijo nos lábios e saiu da cama, se espreguiçando ao ficar em pé.

​​​​​* * *

​Alice finalmente desceu para a sala da pensão, à procura de Robert, onde alguns homens conversavam sobre as notícias mais recentes e fumavam um charuto, e um casal de adultos discutia baixo a um canto. Assim que a viram, todos viraram a cabeça ou desviaram o olhar para observá-la. "Droga de coisa de beleza de vampira", pensou. Ignorando todos, ela avistou a senhora dona da pensão e foi até ela.

​– Bom dia, senhora. Queria lhe perguntar se meu namorado passou por aqui – ela sorriu, mas a senhora não teve igual simpatia, e arregalou os olhos ao ouvi-la dizer "namorado".

​– Sim, senhorita, eu vi o seu namorado – ela ironizou. – Ele foi aos estábulos, onde os cavalheiros cuidam dos cavalos.

​– Ah, obrigada. Irei procurá-lo, então.

​– Vai aos estábulos? – a senhora se indignou. "Qual o problema das pessoas desse século?", Alice pensou.

​– A senhora disse que Robert está lá.

​– Sim, o senhor Robert está lá – ela enfatizou, mais uma vez indignada. – Mas uma dama não vai a um lugar em que só há cavalheiros. Não seria aceitável.

​– É claro... – a vampira disfarçou. – Apenas vou ver se ele já está voltando, não irei até os estábulos, senhora.

​Assim que se afastou, pôde ouvir a senhora reclamando:

​– Céus, nunca imaginei receber uma garota assim... Tenho certeza de que é amante do senhor que está com ela.. Oh, onde o mundo vai parar se dependermos dos homens?

​Alice revirou os olhos. As pessoas não eram tão maníacas em sua época... E por que seria ela amante de Robert? Claro que não deveria ter dito namorado, mas amante... Era um pouco de exagero.

Forever II - Vivendo a EternidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora