Passaram-se dois dias desde então. Eleanor não provocara mais Alice ou Vitor, mas ficava o tempo inteiro com Mariana. As duas passavam horas fechadas no quarto, ou passeando na cidade, enquanto os outros faziam todo tipo de coisa que inventavam. Os gêmeos grudaram em Alice e estavam sempre a agradando, juntamente de Vitor. Robert, é claro, mais ainda que os outros, porém vez ou outra tinha de ajudar Catarina, que adorava se meter em confusão na cidade. Gabriel, no entanto, se mantinha frio, e falava com a irmã apenas superficialmente. Na verdade, ele parecia estar alheio a todos a sua volta, exceto talvez Eleanor. Mas mesmo assim, Alice insistia em tentar conversar. Afinal, ele sempre fora o mais carinhoso dos Johnsen, e a garota não queria perder aquilo; por isso, foi falar com ele naquela tarde.
– Oi, Gabriel – ela sorriu, sentando no sofá ao seu lado, que a olhou como se perguntasse o que estava fazendo ali. – Tenho sentido falta do meu irmão.
– Por que? Eu estou aqui o tempo inteiro – riu Gabriel. Alice fez uma careta, pois o riso não chegou aos seus olhos, que permaneceram frios.
– Sim, mas nunca está comigo. Como agora, você está pensando em algo que não te deixa prestar atenção em mim – ela suspirou. Ele franziu as sobrancelhas, entre os olhos surgindo uma ruga de preocupação.
– Sinceramente, eu não estava pensando em nada, se quer saber, mas tenho mesmo me sentido... Distante de vocês, e não consigo me concentrar em nada. Acho que estou alheio a tudo – ele desabafou, dando de ombros. – Às vezes, me pego pensando em coisas que jamais pensaria, que me parecem erradas, não sei. Ou se não eu volto para a realidade e nem sei o que estava na minha cabeça antes. Odeio isso.
– Entendi. Talvez você tenha mesmo muita coisa em que pensar – arriscou a garota, segurando a mão dele. – Você podia tentar escrever em algum lugar. Pelo menos, funciona comigo, então pode te ajudar.
Gabriel imediatamente ficou sério, o rosto duro.
– Agradeço pelo conselho, Alice. Mas eu não vou fazer isso. Grande parte do que tenho pensado é melhor não registrar. As palavras têm força, você sabe.
Ela concordou, se encolhendo com a frieza dele. Não teve chance de continuar a conversa, no entanto.
Vitor apareceu da cozinha, olhando em volta parecendo preocupado.– Vocês viram a mamãe? – ele indagou. Os dois negaram com a cabeça. – Ela não avisou que ia sair, e faz tempo que não está em casa. Será que devíamos ir procurá-la?
– Claro que sim – Alice se colocou de pé, preocupada também. Ela saiu da sala atrás de Robert, já sabendo que ele iria achar Camila muito mais rápido que eles sozinhos. O garoto concordou de pronto.
Alguns minutos depois, estavam os quatro do lado de fora – os gêmeos disseram que aquilo era drama, e Eleanor e Mariana estavam na cidade –, esperando que Robert encontrasse a trilha mais recente de Camila.
– Encontrei – ele anunciou. – Mas tenho que dizer que Charlotte também esteve aqui, muito recentemente.
Alice sentiu até mesmo vertigem com o pensamento que lhe atingiu. Ainda assim, ela o ignorou. Estava errada, certamente. Camila estava bem e longe de Charlotte.
Seguiram pela floresta, alguns metros atrás de Robert, correndo o mais rápido que podiam, e foi impossível não perceber a tensão de Gabriel. Ele estava muito mais preocupado e aflito do que o normal, certo de que acontecera algo ruim com Camila.
Em certo ponto, os três ficaram mais para trás do que o normal, e então Alice parou ao dar de frente com o vampiro mais velho, surpresa.
– Que foi? – perguntou, remexendo as mãos inquieta.
– Eu... Perdi a trilha. Tive que voltar – ele olhou por cima de Alice, procurando algo.
– Não perdeu nada – Vitor o desmentiu, sem entender. – Até eu estou percebendo o cheiro de minha mãe.
Robert engoliu em seco, mas ficou em silêncio. Ele não parecia ter coragem de dizer algo.
– Você já a encontrou – Gabriel afirmou, então passou pelos outros, seguindo o caminho por onde Robert voltara. Este olhou para Alice, encarando-a com pena.
– Desculpe – ele sussurrou, enquanto Vitor seguia o irmão. Alice começou a negar com a cabeça, incapaz de aceitar o que Robert queria dizer. Ele a puxou para seus braços, a abraçando firmemente. – Eu sinto muito, baixinha – enterrando o rosto em seus cabelos loiros, a manteve segura contra si.
Ela se desvencilhou dele, então seguiu os irmãos. Nem sequer reparou que Gabriel se arranhava, desesperado, gritando consigo mesmo e se acusando de ser o culpado, ou em Vitor, que apoiava o corpo inerte da mãe, a qual tinha os olhos fechados, e o peito encharcado de sangue. Alice caiu de joelhos ao lado de Camila, desabando em lágrima ao colocar a mão direita sobre seu peito e não sentir nenhum batimento, apenas o buraco onde deveria estar seu coração. Ouvia vagamente Robert atrás de si, tentando acalmar Gabriel, impedindo-o de se machucar, mas não lhes dava importância.
Tudo o que importava era sua mãe, que nunca mais acordaria. Que não iria mais enxugar as lágrimas dos filhos, e nem faria o impossível para ajudá-los. Ela nunca iria apartar as brigas dos gêmeos de novo e não poderia enlouquecer pelo mínimo machucado que eles tivessem. Alice chorava desesperada porque não iria mais ver o sorriso carinhoso da mãe sempre que precisasse de apoio.
Viu distraidamente Vitor se levantar, e falar com Robert antes de tirar Gabriel dali, levando-o pelo ombros. O outro se aproximou dela, cuidadoso.
– Alice, vem comigo. Não pode ficar aqui chorando o resto da vida, você precisa se acalmar – ele a abraçou por trás, sussurrando docemente em seu ouvido e tentando puxá-la para longe do corpo. Não adiantou, e Alice simplesmente não lhe respondeu. Robert suspirou, então muito lentamente deu a volta nela e se abaixou ao seu lado, estendendo uma mão para segurar a dela, enquanto passava um braço por sua cintura. A garota se encolheu contra ele, o corpo tremendo de tanto chorar. – Ah, meu anjo, eu sinto tanto. Mas... De acordo com sua religião, agora ela está em um lugar melhor.
– Ela era vampira, Robert. Não está em um lugar melhor – negou ela, entre soluços. O garoto suspirou.
– Achei que fosse impossível odiar mais a Charlotte, mas me enganei. Odeio que te faça sofrer – Robert a segurou com mais força, protegendo-a. Alice continuava chorando, e não soube quanto tempo mais ficou nos braços dele. – Você precisa voltar para casa, está muito tarde já. Vem, baixinha – ele começou a se levantar, tentando trazê-la junto, mas ela se desvencilhou.
– Não. Quero ficar aqui – impôs, teimosa. Robert a pegou gentilmente pelos braços, tentando fazê-la sair dali. – Para, Robert. Deixe-me, por favor – ela se debateu, querendo se soltar. O vampiro entretanto, não permitiu e a segurou com firmeza, contendo a luta dela, que começou a soluçar desesperada. Ele segurou os dois braços dela em uma mão, e puxou seu rosto com a outra, obrigando-a a olhar em seus olhos. – Olhe para mim. Você está exausta, então vai dormir. Eu te levo para casa.
Ela obedeceu, e se apoiando nele, acabou adormecendo.
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Nota da AutoraAh, esse capítulo... Espero sinceramente que não tenham chorado tanto quanto eu para escrever. Parece maldade postar esse capítulo hoje, antes do dia das mães, mas é justamente pra vcs pensarem duas vezes antes de tratarem sua mãe mal da próxima vez. É, eu pareço estar sendo aqueles adultos chatos, mas um acontecimento recente me fez repensar tanta coisa, e me sinto uma idiota por já ter desprezado minha mãe e a achado chata por cuidar de mim. Não cometam esse erro, por favor.
Bom... Postei o capítulo hoje porque amanhã estou indo viajar, e não sei se vou ter internet ;) aposto que ninguém vai reclamar hahahaha
Mas... Nossa amada Camila está mesmo morta... RIP Camila :'(
Comentem o que acharam e se também acabaram chorando na frente do computador que nem :( e até a próxima :)
Ps: não se esqueçam de votar, votos incentivam <3
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Forever II - Vivendo a Eternidade
VampireForever I - http://w.tt/21MoI45 Ela nunca almejou o poder. Passaram-se 80 anos, e ela ainda treme de medo de Charlotte e Pedro. Alice pretendia escapar, mas não conseguiu. Robert sente a falta dela todos os dias, assim como os Johnsen. E por falar...