E agora?

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​A garota se pendurou nos braços de Vitor, sem querer soltá-lo. Dispensava a despedida dos demais, não querendo suportar vê-los e começar a chorar novamente. Porém, não poderia sair sem se despedir de Vitor, que a abraçava firmemente.

​– Tem certeza de que não quer que eu vá com você? Eu juro que não faço questão nenhuma de ficar com eles. Não depois do que fizeram – ele sussurrou no ouvido dela.

​– Já disse que não, Vitor. Preciso que você fique. Para começar que não posso separar você dos... Seus irmãos – Alice hesitou, precisando respirar fundo antes de continuar. – E também, eu preciso protegê-los. Por mais que esteja chateada, eu ainda me importo. Muito. Tenho que protegê-los de Charlotte; ainda mais eu estando longe, é mais fácil para ela aprontar algo.

​– Tudo bem. Mas pare de se preocupar. Agora, quero que pense em você. Nenhum deles merece seu tempo, entendeu?

​Ela apenas concordou com a cabeça, então beijou o rosto de Vitor antes de finalmente se afastar dele. O vampiro lhe deu um sorriso amarelo, então trocou um olhar com Robert, como se lhe desse um recado silencioso. Este assentiu e respirou fundo.

​– Catarina irá com vocês? – o garoto pareceu reunir coragem para perguntar. Alice sorriu para ele enquanto Robert a envolvia nos braços.

​– Não, por enquanto não. Acho que ela prefere ficar, e bem, temporariamente, acho que não vou ter tempo para me preocupar com ela agora.

​Alice saiu da casa, com Robert logo atrás dela. Depois de fechar a porta, ela parou, encarando o lado de fora do casarão.

​– Vamos à cavalo para não levantar suspeitas, certo? – a garota concordou, e enquanto ele buscava o cavalo, ficou observando as janelas da casa. Todos estavam dormindo mesmo depois do que haviam feito. "Como eles conseguem?", pensava.

​Robert voltou e a ajudou a subir no cavalo, montando também, atrás dela. Ele segurou a rédeas com uma das mãos e segurou Alice firmemente com a outra.

​– Eu juro que seria capaz de qualquer coisa para não te deixar sofrer.

​Ela recostou a cabeça contra o corpo dele, segurando as lágrimas que voltavam a se formar em seus olhos.

​Os dois cavalgaram durante vários minutos, até que Robert parou em frente a uma pensão e desceu do cavalo, pedindo que Alice esperasse por ele ali. Quando ele foi até a porta, demorou alguns minutos para ser atendido, e a senhora que o recebeu parecia não querer lhe deixar entrar. A garota percebeu quando ele a hipnotizou, e logo em seguida, voltou para tirá-la de cima do cavalo e a levou até o quarto.

​Ela se sentou na cama e olhou o quarto simples, desejando poder eliminar aquele dia de sua cabeça. Pedro podia não ter aparecido, ela podia não ter resolvido sair... Alice balançou a cabeça para afastar esses pensamentos. Infelizmente, não tinha como voltar atrás.

​– Quer tomar um banho, baixinha? – Robert a chamou, olhando-a preocupado. A garota negou. – Então... Já vai dormir?

​– Eu cochilei a tarde inteira... Não estou com sono. Mas pode dormir, não se preocupe comigo – ela sorriu fraco para ele.

​Robert foi até a cama e sentou ao lado da garota.

​– Essa é definitivamente a última coisa que você pode me pedir. Se não quer dormir, talvez queira conversar.

​Alice encarou a parede à sua frente mais alguns segundos, antes de encarar o vampiro e ver seus olhos atentos fixos nos dela. Assim, começou a falar.

​– Eu não consigo entender, sabe? Eu e Eleanor fomos amigas durante muitos anos, e éramos realmente unidas... Eu achei que ela tivesse me aceitado como irmã, que gostasse de mim. E de repente, quando estávamos com os Johnsen, ela mudou completamente, como se fosse outra pessoa. Até agora não consigo ver o motivo. Mas, aos poucos, ela foi conquistando cada um dos meus irmãos e fazendo a cabeça deles contra mim... Não consegui impedi-la, e agora...

​A garota se calou, sentindo as lágrimas rolarem de seus olhos, sem querer terminar a frase. Robert suspirou e passou os braços ao redor dela, tentando pensar em alguma coisa para aliviar a dor dela.

​– Eu preciso te falar uma coisa.

​Ele sorriu, vendo a expressão preocupada nos olhos dela.

​– O que quiser, estou aqui para te ouvir.

​– Certo... Não é bem que eu queira falar, mas... É melhor que eu te diga isso da maneira que realmente aconteceu antes que alguém distorça os fatos para você.

​Robert ergueu as sobrancelhas, um pouco surpreso. Agora ela o deixara bem preocupado.

​– Alice... O que foi que aconteceu?

​– Eu estou tentando achar uma maneira de te dizer isso sem te fazer ficar furioso comigo – ela admitiu. – Tudo bem... Seja o que Deus quiser.

​A garota engoliu em seco antes de finalmente falar.

​– Robert, eu beijei Pedro.

​​​​​* * *

​Eleanor virou o resto de whisky que havia em seu copo e o bateu na mesa, rindo ao ver que fora a mais rápida.

​A outra, ao ver que perdera, soltou um resmungo irritado.

​– Ah, vamos lá. Hoje só temos motivos para comemorar. Finalmente nos livramos dela. Ou melhor, eu pelo menos me livrei.

​– Você está se esquecendo que ainda tem uma parte a ser realizada – a garota retrucou. – E que um certo deslize seu pode ter atrapalhado bastante.

​– Um deslize meu? Acabei de me livrar de Alice. Já cumpri minha parte. Você jurou me deixar em paz depois disso. Fizemos um pacto de sangue.

​– Você está livre de mim. Mas cometeu um erro, sim. E se ele me atrapalhar, vou atrás de você, ou mando alguém. Até aquela tentativa de vadia da Catarina te derruba.

​Eleanor bufou, irritada, para disfarçar o tremor que a dominou. Era verdade, ela era fraca e não lutava nada. Provavelmente Catarina poderia mesmo vencê-la.

​– Posso saber onde que foi que eu errei? Alice está longe dos Johnsen, e tenho todos eles na minha mão.

​– Todos, Eleanor?

​A vampira parou. Não, todos não. Vitor a odiava com todas as forças.

​– Nem começa. Eu dei para ele o mesmo que dei para os outros. Aquela... Poção, sei lá. Você mesma quem me deu.

​– E o que foi que te disse quando te dei aquilo da segunda vez?

​Ela parou mais uma vez. A outra dissera que a poção não funcionaria se a pessoa estivesse apaixonada. Eleanor riu com a hipótese.

​– Vitor? Apaixonado? Ah, me poupe.

​– Ele encontrou alguém que satisfaz tudo o que ele precisa, Eleanor. Catarina não é sentimental, não faz questão da fidelidade de Vitor, o satisfaz quando ele bem entende...

​– Ah, agora entendi sua suspeita... Eu também pensei que pudesse ser isso. Veja... Eu posso ter ficado quase 400 anos sem ver meus irmãos, mas antes disso passei esse mesmo tempo ao lado deles. Eu saberia reconhecer se Vitor tivesse se apaixonado por Catarina. Eu observei cada passo deles dois bem de perto, e ele só a vê como alguém útil. Não há romance ali.

​A garota ao seu lado permaneceu em silêncio por longos minutos, encarando seu copo vazio. Eleanor começava a se perguntar se ela ainda sabia onde estava quando finalmente falou.

​– Acredito em você desta vez, Eleanor. E inclusive acho que tenho uma boa explicação para o que aconteceu com Vitor... Mas vamos descobrir isso em breve. Muito em breve.

Forever II - Vivendo a EternidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora