O plano de Charlotte

47 5 67
                                    

Assim que adentrou a floresta, Catarina se permitiu pensar no que acontecera. Por que ela ficava tão sem jeito perto de Vitor? Era verdade que ele era mais bonito que a maioria dos garotos, porém ela nunca tivera problemas com os meninos. Na cidade, todas as suas amigas lhe pediam conselhos para conquistar algum menino de que gostavam. Não houvera um menino que resistisse ao charme de Catarina. Não houvera um garoto que ela quisesse e não conseguira. Sempre fora assim.

​Era conhecida por nunca ficar nervosa até mesmo com os meninos mais bonitos e mais desejados pelas outras. Fazia com que ficassem nervosos perto dela, tamanha era sua segurança. Os meninos a desejavam, as meninas – se não a odiavam – a admiravam. Sempre fora assim.

​Nunca se importara de ficar com menino algum. E se uma das amigas gostava dele, Catarina fazia mais questão ainda de que ela soubesse. A fazia se sentir vitoriosa, se sentir melhor do que as outras, se sentir a melhor. Sempre fora assim.

​Então por que Vitor a fazia se sentir tão diferente?

​Catarina queria fazer com que ele gostasse dela, queria ser melhor do que realmente era. Ficara com vergonha quando vira a desaprovação dele a quem ela era. Certo, qualquer uma das garotas que estudara com ela diria que era "amor", que ela estava "apaixonada". E Catarina, definitiva e decididamente, não acreditava naquilo.
Sabia que as pessoas só faziam o que lhes interessava. O casamento de seus pais fora por interesse: ele precisava se casar logo para ter direito aos negócios do pai, ela aceitou pois seria rica ao lado dele. Ela mesma nascera por interesse: alguém haveria de herdar a fortuna de sua família.

​Então por que diabos ela se interessava por Vitor?

​Catarina voltou a realidade ao ouvir um ruído na floresta. Ela já perdera a noção de onde estava, já que ficara andando enquanto pensava. Em total silêncio para reconhecer o barulho de antes, começou de repente a se apavorar. Sentiu o estômago se revirar com a ansiedade. As palavras de Robert martelavam em sua cabeça.

​Era verdade, ela sabia. Não conseguia lutar. Nem um pouco, e nem queria. Detestava se machucar, porém detestava mais ainda se sujar. Seus motivos eram estúpidos? Catarina queria que se danasse.

​De um segundo para outro, ela se viu atirada dois metros de onde estivera e presa pelo pescoço. Tentou se debater para escapar, sem obter resultados.

​– Fique quieta, idiota! – a vampira sentiu então o tiro na perna. Com um berro de dor, finalmente ficou quieta. Os braços em seu pescoço se afastaram. Ao forçar seus olhos a se abrirem, Catarina conseguiu focalizar o casal que estivera torturando Alice.

​Ela bufou, achando aquilo uma completa idiotice. Não era possível que aquela garota queria vingança por um mero machucado, do qual ela já havia, evidentemente, se recuperado.

​– Catarina, não é? – indagou ela. A outra assentiu. – Bem, acho que não fomos devidamente apresentadas ainda. Este é Pedro, e eu sou Charlotte.

​– Finja que é um prazer conhecê-los.

​– Claro, e você finge que isso não doeu – ela se virou para o garoto, que atirou mais uma vez, atingindo a outra perna de Catarina, arrancando mais um berro desta.

​– Então finja que eu não disse aquilo – Catarina arfou, passando a mão na própria perna de modo inocente, porém erguendo a barra do vestido até mostrar os joelhos. Apesar  de o movimento passar despercebido por Charlotte, Pedro percebeu.

​– Ainda bem. Isso eu posso fingir – Charlotte respondeu. – Enfim, a minha intenção ao procura-la não era exatamente de te ferir, se quer saber, Exceto, é claro, se resolvesse complicar as coisas, como estava fazendo. Gostaria de pedir a sua ajuda.

Forever II - Vivendo a EternidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora