Agora é guerra

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Assim que ele saiu, Alice desabou no chão, chorando inconsolavelmente. Ela enterrou o rosto nas mãos, em desespero. Nada poderia mudar o que acontecera. Nada poderia consertar seu erro. Nada traria Robert de volta.

​Nada. Era exatamente tudo o que ela tinha.

​A vampira soluçava. Era pior do que parecia. Charlotte, por fim, a vencera mais uma vez. Havia se determinado a tirar tudo que a garota tinha: sua família e o amor de sua vida. Sua mãe estava morta. Seus irmãos nem se importavam mais. Robert a deixara, e não tinha nenhum motivo para voltar.

​Jogando, pensando, montando estratégias e bolando os planos mais cruéis, Charlotte a derrotara, sem sequer a enfrentar frente a frente.

​Mas era isso, afinal. A vampira percebera que não era capaz de derrubar Alice numa luta corpo à corpo. Sabia que perderia. Talvez, nem mesmo Pedro pudesse vencê-la. Então, decidira derruba-la do pior jeito. Tirara exatamente tudo que ela tinha, e mostrara que não, ela não seria vencida. Que todas as vitórias foram em vão. Todas as tentativas foram falhas. Todo o treino, foi apenas tempo gasto.

​E era isso. Acabara, e Alice sabia. Ela teria paz, agora. Mas não tinha mais nada com que se alegrar.

​Ou talvez tivesse. Se ela procurasse por Vitor, ele a ajudaria. Talvez, apenas talvez, tivesse ainda a chance de salvar alguma coisa. Porém, no momento, tudo que podia fazer, era chorar, e colocar para fora tudo aquilo que finalmente compreendera.

​Enquanto pensava, sentiu alguém entrelaçar os dedos em seu cabelo. Sua visão estava borrada, mas identificou os olhos verdes e os cabelos negros do garoto. Sua roupa também era preta. Vitor.

​– Vitor... Por favor... – ela ganiu, entre um soluço e outro.

​– Quase, querida. Mas deveria já ter reparado que Vitor é mais alto que eu – Pedro riu, o tom sempre irônico caracterizando-o.

​– Você ainda está aqui? Achei que já tivesse sumido... O que é que você quer? Já não fez o que precisava? – a vampira rosnou, deixando que a raiva a dominasse; também doía, mas menos que a tristeza avassaladora de pensar em sua situação.

​– O que precisava, sim – ele deu de ombros. – Mas não tudo o que queria. Eu havia lhe prometido uma luta, não se lembra?

​"Ah, sim... Eu me lembro. Como me lembro...", ela pensou, sentindo sua fúria fervendo por dentro.

​– Você vai ver o que é bom – foi sua resposta, e se atirou para cima dele.

​Os dois rolaram no chão alguns segundos, sem querer se permitir ficar por baixo. Quando bateram contra a parede, Alice parou Pedro, levando a mão a seu pescoço com a intenção de rasgar a carne dali. No entanto, se esqueceu de que ele era quase tão rápido quanto ela, e com isso a chutou nas costas, atirando-a por cima de sua cabeça no chão. Para absorver o impacto e não machucar o crânio, ela deu uma cambalhota e aproveitou o impulso dela para se colocar de pé.
​Pedro também já estava de pé, e prensou a vampira contra a parede mais uma vez, porém esta estava com o peito prensado contra o muro e um braço preso sob o corpo. Rápido, ele a socou com força nas costelas desprotegidas, e um segundo depois cravou os dedos profundamente na carne da área logo abaixo, próximo à cintura.

​Percebendo que não podia se deixar machucar mais, Alice agiu para escapar. Entrelaçou uma das pernas na dele, e forçou para frente. Sentiu uma dor forte, provavelmente por uma distensão muscular, mas isso foi logo compensado pelo estralo que ouviu ao esmagar o joelho de Pedro na parede, e o rosnado de dor que se seguiu a isso. Ele se afastou, o rosto distorcido numa máscara de fúria. Foi a vez da garota de o colocar contra a parede, de costas, e lhe acertou um soco com força sob seu queixo. Com a tontura dele, ela segurou os dois lados de sua cabeça e a puxou para baixo, ao mesmo tempo em que levantava a perna, quebrando assim o nariz dele em seu joelho.

​Cego pela dor, o vampiro caiu no chão e rolou para o lado, obviamente precisando de um segundo para se recuperar. Ele se encolheu, as mãos sobre o nariz, e com dificuldade para dobrar o joelho ferido. Alice não hesitou. Se aproximou dele mais uma vez, determinada a lhe quebrar também algumas costelas, e o chutou pelas costas.

​Entretanto, caiu na própria armadilha.

​Ela não chegou a tocar em suas costas, pois Pedro agiu tão rápido que seus olhos mal puderam acompanhar. O garoto segurou sua perna, torcendo o tornozelo, e logo em seguida firmou a outra mão logo acima do joelho dela, imobilizando totalmente o membro. Quando a puxou para perto de si, a vampira caiu de costas e bateu os dois cotovelos no chão numa tentativa estúpida de tentar proteger a cabeça. O estralo que se fez ouvir da batida foi alto até para ela, mas a garota se conteve. Podia lutar com um braço quebrado.

​O outro, porém, não pretendia ficar só nisso. Assim que Alice estava recuperada o suficiente para sentir a dor, ele aproveitou a posição de suas mãos para quebrar o osso da perna. Dessa vez, a garota soltou um gemido, incapaz de se segurar, e seus olhos lacrimejaram com a dor. Pedro então soltou sua perna, e quando ela tentou se sentar, ou ao menos sair do colo dele, ele empurrou seu peito e a forçou para o chão outra vez. Então, acotovelou sua barriga, com tanta força que sentiu o estralo do osso da bacia dela.

​Irritado, ele jogou Alice para frente, tirando-a de cima de seu corpo, sabendo que ela iria fazer um estrago. A garota ficou de quatro e vomitou. A pressão em seu estômago havia sido demais, e não pôde evitar esse momento de fragilidade. Pedro esperou que ela parasse de cuspir sangue, mas então a chutou, sem problemas com a dor no joelho, e sentiu algumas costelas, já feridas, se esmagarem sob o impulso. Ainda assim, a garota não caiu; pelo contrário, ela se e ergueu tentou um soco. Foi um bom golpe, mas ele pensou tão rápido quanto ela e bloqueou o movimento ao mesmo tempo em que preparava um chute, também bloqueado por ela. Outros dois socos foram desferidos, mas nenhum atingiu o alvo. O vampiro precisou de alguns minutos, mas finalmente entendeu que a garota não saía daquilo porque não podia suportar a dor para tentar algum golpe mais forte, e queria tempo para assim fazer.

​Portanto, no segundo seguinte, ele fingiu tentar um chute, mas seu verdadeiro golpe foi bem mais complicado. Pedro apoiou um braço na cintura de Alice, e levou a outra mão até a axila oposta dela. A perna que ela usara para bloquear seu chute já estava por cima da dele, o que possibilitou a etapa final. O garoto a tirou do chão, virando-a de cabeça para baixo, e a puxou contra si. Finalmente, bateu o corpo dela de costas contra a parede logo ao seu lado, e por fim a soltou.

​Alice sentiu a dor em toda a parte traseira de seu corpo, e logo em seguida em sua cabeça ao atingir o chão. Escorregou, ralando a parte exposta dos braços, e se encolheu inteira ao sentir a terra firme sob seu corpo. Já não podia suportar a dor. Mas também não estava disposta a desistir, e por isso se levantou novamente.

​Mal ela teve tempo de se colocar em pé, Pedro se aproximou e lhe socou no rosto. Fraca, a garota cambaleou para trás e se apoiou na parede. Ela era durona, ele tinha de admitir, só que não o suficiente, e o vampiro já havia se cansado daquela luta. Ainda que Alice já estivesse completamente indefesa, ele a socou mais algumas vezes, até que deixou o rosto dela desfigurado de sangue e hematomas, e ela precisava se apoiar, ainda que fosse nele, para se manter em pé.

​Com indiferença, ele a pegou pelo pescoço, então bateu sua cabeça com toda a força na parede, de forma que ela caiu, inconsciente.

​Pedro a largou ali, e simplesmente desapareceu.

Forever II - Vivendo a EternidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora