Uma criança (quase) vampira

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​Alice colocou Claire no tapete todo enfeitado de cores claras, pegando o pequeno chocalho que a menina adorava. Os brinquedos de morder, pelo contrário, haviam sido desprezados pela bebê, que de fato havia já nascido com os dentes minúsculos começando a surgir nas gengivas frágeis. Com um mês e meio, então, ela pouco se importava com aquele tipo de coisa, e preferia qualquer coisa que fizesse barulho.

​Munik, sentada na poltrona, prestava atenção à bebê, curiosa sobre tudo daquela pequena criança que ninguém sabia como funcionaria o organismo.

​– Enfim, Alice, parece que o problema na hora do parto é você tinha uma embolia pulmonar... Deve ter sido causada pelo tanto tempo de repouso que você ficou devido à gravidez, mas obviamente o seu corpo já curou isso sozinho – a médica explicava, enquanto Alice impedia Claire de abrir uma das gavetas de seu criado mudo.

​– Ainda bem que pude me curar sozinha... Eu não gostaria nem um pouco de tomar outra dose de morfina, aquilo definitivamente não deveria ser algo dado para humanos – a vampira pegou a bebê nos braços e beijou sua testa, afastando o rosto quando a menina ergueu o braço para tentar pegar seu cabelo.

​– Ela é mesmo uma graça, Alice – Munik riu olhando a criança. – Bem... Eu vou indo. Preciso me arrumar, tenho... Digamos que um encontro, em uma hora.

​– Vai sair com Leonardo? – Alice se surpreendeu, olhando a médica, que corou levemente, mas assentiu. A vampira sorriu, feliz pela relação ainda meio incerta deles, e Munik saiu do quarto.

​– Claire, vem cá, querida – a vampira chamou a bebê, que brincava com o pé de seu berço. Ela sempre achava graça no que não devia estar brincando.

​Claire crescia bem mais rápido que uma criança humana. Não era absurdo, como Munik havia imaginado. Mas, seguindo a proporção do tempo de gravidez, a menina parecia ter um pouco mais de três meses de vida. Alice, no entanto, não pensava muito nisso, achando que sua filha apenas ficava cada dia mais linda.

​Era bem evidente que Claire gostava mais da mãe que do pai, já que grudava nela o dia inteiro. No entanto, era cansativo, pois Alice sempre era obrigada a se levantar a noite ou simplesmente ficar sem dormir quando a garota chorava, já que Robert, ainda que fazendo o possível para ajudar, raramente conseguia acalmar a filha.

​Não que o vampiro reclamasse daquilo. Ele amava a filha, mas também amava o sorriso no rosto de sua garota sempre que o via atrapalhado em cuidar da bebê.

​Enquanto Alice pensava nisso, Robert apareceu na porta e parou recostado no batente, observando-a com a filha. Claire parecia ter achado graça em algo embaixo do armário, mas a fresta era muito pequena para sua cabeça.

​– O que foi? – a vampira sorriu para Robert, erguendo os olhos, ainda sentada no chão.

​– Estou só observando as duas coisas que mais amo na vida – ele se abaixou ao lado dela, e Claire voltou para perto dos pais, puxando o zíper da jaqueta de Robert. Alice recostou a cabeça no ombro dele. – Com certeza ela puxou toda essa curiosidade de você. Eu sempre fui mais parado que uma planta.

​Alice riu. Se lembrava de sempre ter dado muito trabalho à sua mãe quando pequena.

​– Ela vai ficar mais calma. Estou fazendo o máximo possível para deixá-la gastar energia agora durante o dia, para que ela durma a noite toda e eu possa dormir também – a vampira olhou o rosto de Robert, que arrumou um dos cachos dela que Claire tirara do lugar.

​– Faz sentido. Espero que você consiga dormir, mas se for preciso, eu tento de novo fazê-la se acalmar enquanto você relaxa, ao menos um pouco – ele respondeu. Alice deu de ombros, aproveitando para provocar Robert sobre ele não ter jeito com crianças.

​Claire soltou um gritinho de repente, e começou a chorar. Robert e Alice imediatamente voltaram sua atenção para ela, que havia prendido um dos dedos gordinhos no zíper da jaqueta do pai, e consequentemente aberto um corte na pele frágil.

​– Céus, Claire! – Alice a pegou no colo, e Robert entregou rapidamente o pano para que estancasse o sangue. O corte não era grave, mas a vampira parecia logicamente desesperada.

​A mãe enrolou o pano, que era na verdade um babador, no dedo da garota, que resmungava em seus braços. O garoto avisou que ia pegar um pouco de álcool para limpar o ferimento e saiu do quarto.

​– Shh, meu anjo... Tudo bem – Alice tentou ajeitar a filha, que se remexia, inquieta por estar presa firmemente no colo da mãe. Robert voltou com o álcool,  então segurou Claire para que a vampira pudesse passar um pouco do produto no corte.

​Ela desenrolou o babador, para então olhar o corte, e parou, assim como Robert, ao ver que já não havia nada na pele macia das mãos da bebê. O casal se encarou por um instante, surpresos com a recém descoberta.

​– Caramba – o vampiro exclamou. – Ela literalmente se cura mais rápido que você – os dois então riram, e Claire, motivada pelo som, também deu uma risadinha divertida, fazendo a mãe sorrir ainda mais.

​– Acho que vamos demorar um pouco para entender o quão vampira ela é de fato – Alice colocou o babador com apenas um pouquinho de sangue em seu colo, admirando enquanto a menina tentava pegar a mão de Robert, que já a fazia gargalhar ao puxar sua roupinha para depois tirar a mão antes que ela pudesse segurá-la.

​– Vamos sim. Eu só espero que ela não se machuque na escola quando começar a ir – ele riu, e Claire ficou em pé em sua perna para escalar seu ombro. – Imagine a reação da outras crianças? Tenho certeza de que ia ser hilário.

​– Ia sim. Com certeza, deve ser muito divertido ficar com fama de satanista por aí – Alice revirou os olhos, mas também se divertia. Robert gargalhou diante da afirmação tosca dela.

​​​​​​* * *

​– Claire, como foi que você subiu no sofá? – a garota riu, com o prato de sopa que preparara para a filha nas mãos. Ela deixara a menina em seu tapete decorado no chão, cercada por seus brinquedos, mas agora a bebê estava no sofá, batucando numa almofada com tanta animação que parecia estar ouvindo alguma música.

​Claire gargalhou, achando graça na surpresa da mãe. Ela deitou no sofá, rolando por sua falta de equilíbrio.

​– Venha cá com a mamãe, sim? – Alice se sentou no sofá, na ponta oposta a que Claire estava, para que a menina, agitada, não derrubasse a sopa quente.

​– Ma-mãe – gaguejou a menina. A vampira parou o que fazia, a encarando. – Mamãe... – ela repetiu, com mais segurança desse vez. Alice sorriu, vendo que não era um simples gaguejo de bebê. Sua filha realmente estava tentando chamá-la.

​– Isso, minha linda! Você já está aprendendo a falar, santo Deus! Vem aqui comigo, vem – Alice colocou a sopa de lado, estendendo os braços para a filha vir em seu colo. Claire entendeu logo, e engatinhou pelo sofá até subir no colo da mãe. – Você realmente é a menina mais linda que eu já vi, e também a mais esperta, está me ouvindo?

​Claire bateu palmas, como se quisesse ouvir mais. Alice riu, apaixonada por sua pequena. Agora ela tinha ainda mais certeza de que devia mesmo ter aguentado toda a dor da gravidez, e lhe ocorreu a certeza de que ainda passaria por aquilo outra vez. A garota conteve um sorriso, sabendo que Robert enlouqueceria com a possibilidade, mas aquilo ainda iria demorar. Até lá, ela teria tempo para convencê-lo de que não fora tão ruim.

​– Mamãe – Claire repetiu outra vez. Seus olhos azuis cintilaram por ela saber que estava falando certo, e Alice a aconchegou em seu colo, sorrindo, ansiosa para contar a novidade a Robert assim que ele chegasse em casa.

Forever II - Vivendo a EternidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora