Roberlice

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Alice se desvencilhou de Robert assim que acordou, se sentando na cama, enquanto ele murmurava alguma coisa sem sentido, segurando a mão dela. A garota olhou o rosto dele, adormecido, ao se mover para ficar na beirada da cama.

​Ela dormira pouco, é verdade, mas não se incomodava com o sono. Seus pesadelos apenas a faziam se sentir mais cansada.

​Soltando a mão de Robert, Alice enterrou o rosto nas mãos, só então percebendo que começara a chorar. Sua mãe estava morta, e a culpa era dela, somente dela. Agora até seus irmãos reconheciam isso, por mais que resistissem em admitir. E para piorar tudo, ela não tinha como garantir que aquilo não aconteceria novamente, já que não sabia mais lutar como antes.

​Abraçou os joelhos contra o peito e deixou que o choro viesse, a dominando, e logo Alice estava soluçando, sentindo a dor da culpa rasgar seu peito. Ela daria tudo para poder trazer a mãe de volta, e tê-la ali ao seu lado, sempre pronta para dar os melhores conselhos.

​Sem querer, ela prestou atenção no resto da casa. Pôde ouvir Vitor do lado de fora, falando com Catarina. Ao menos ela parecia estar bem. Mas também ouviu Eleanor, no quarto de Mari, conversando.

​– Se é assim, precisamos fazer os outros verem isso também – sussurrava esta, de maneira urgente.

​– Não adianta discutir com eles. Todo mundo só enxerga o lado da Alice, que nem ontem – Eleanor bufou. Alice percebeu que ela devia estar andando de um lado para outro no quarto.

​– Certo, mas então como vamos fazê-los entender? Não dá para simplesmente enfiar na cabeça deles.

​– Talvez dê... Mas seria complicado demais – Eleanor refletiu. – Tem um jeito mais simples. Se conseguirmos afastá-los de Alice, aos poucos, podemos fazer com que vejam o que está acontecendo, e que nós todos devíamos nos afastar dela.

​Alice pôs as mãos sobre os ouvidos, sem suportar ouvir o que as irmãs tinham a dizer. Ela segurou o próprio corpo e sentiu o aperto na garganta causado pela angústia, por saber que até mesmo Mari e Eleanor concordavam que a culpa era dela.

​Soluçando, algum tempo depois, a garota sentiu os braços firmes de Robert ao redor de seu corpo, a abraçando com cuidado. Ele a puxou para si, e Alice não resistiu, apoiando a cabeça em seu ombro conforme ele a aconchegou em seu colo. Ela passou os braços ao redor dele, escondendo o rosto na curva do pescoço de Robert.

​O garoto a manteve ali, segura em seus braços, apertando-a contra si com uma mão em suas costas e acariciando os cabelos loiros dela com a outra.

​– O que aconteceu agora, meu anjo? – ele perguntou baixinho, próximo ao ouvido dela.

​– N-nada... Não precisa se preocupar – sussurrou Alice entre um soluço e outro.

​– Você sabe que eu me preocupo. E quero te ajudar, então por que não me diz o que aconteceu?

​Ela suspirou pesadamente antes de responder.

​– A culpa é minha, Robert. E eu nem consigo fazer nada para mudar isso – choramingou fragilmente. Foi a vez do garoto de suspirar.

​– Alice, você não tem culpa de nada. A última pessoa que pode ser culpada pelo que aconteceu é você, já que teria feito todo o possível para impedir se tivesse tido a oportunidade. E – ele colocou um dedo sobre os lábios dela para impedi-la de o interromper, como foi evidente que pretendia. – pode sim impedir isso de acontecer novamente, você só precisa voltar a treinar, e sabe que vai conseguir.

​Alice ficou em silêncio. Ainda que Robert tivesse razão, nada que ela fizesse traria a mãe de volta, e no momento, aquilo era tudo o que lhe importava.

Forever II - Vivendo a EternidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora