Péssima notícia

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​– Você fez o quê? – Robert respondeu, depois de encará-la longamente.

​– Eu beijei Pedro – ela disse, agora mais alto. – Calma, por favor, me ouça primeiro.

​O garoto a olhou, entrelaçando os dedos das mãos, evidentemente tentando colocar os pensamentos em ordem.

​– Tudo bem. Fale.

​– Não é o que parece, eu juro. Não estava a fim dele ou coisa assim. Acontece que ele começou a meio que... Tentou me seduzir, e veio para cima de mim. Eu só queria derrubá-lo para provar para vocês que não era loucura, então armei isso para distraí-lo. Mas ele percebeu e acabou não dando certo.

​Robert ficou alguns segundos em silêncio, a encarando, inexpressivo.

​– Você tem noção de que quase me matou de susto, certo? Achei que tivesse realmente me traído por ter se interessado por outro homem.

​A garota sorriu, e encostou o corpo ao dele, mais calma por tirar aquele peso de suas costas pelo menos. Ele passou os braços pela cintura dela apoiou o queixo em sua cabeça. Os dois ficaram alguns minutos em silêncio.

​– Sabe de uma coisa? – Robert quebrou o silêncio de repente. Alice moveu a cabeça para poder ver o rosto dele. – Eu acho que tudo isso é passageiro. Parece horrível, péssimo e que estamos completamente sem saída, mas... Sei que vai passar. Eu entendo que agora nós não sejamos capazes de ver isso. Porém, olhe: no começo, eu odiava você, e tenho quase certeza de que era recíproco da sua parte. Eu odiava os Johnsen, Vitor principalmente, e agora eles são... Amigos meus. Por outro lado, eu tinha certeza de que sempre estaria com Charlotte e tal, e veja agora. Eu a mataria sem hesitar se tivesse a chance. Nada é para sempre, Alice, principalmente as coisas ruins. Isso tudo... Ainda vai passar.

​Ela permaneceu em silêncio, pensando no que ouvira. É verdade, ela não imaginaria estar naquela situação há um século atrás. Mas ali estavam eles. No entanto, havia algo que ela discordava de Robert.

​– Nada não, Robert. Isto – ela entrelaçou os dedos nos dele, unindo suas mãos firmemente. – é para sempre.

​O vampiro olhou suas mãos unidas por um momento, e então um sorriso se espalhou por seu rosto.

​– Para sempre, Alice.

​Os dois sorriram ao mesmo tempo, e ele se inclinou para beijá-la nos lábios.

​​​​​​* * *

​Vitor rodava pelo quarto, recolhendo a bagunça que fizera. Em sua fúria, jogara metade de seu guarda roupa para fora e o espalhara pelo quarto.
​Não acreditava que os irmãos haviam feito aquilo. Abandonar Alice e ficar do lado de Eleanor era a atitude mais idiota que alguém poderia tomar. E ele sabia muito bem que os irmãos não eram burros assim, mas não entendia porque haviam feito aquela escolha.

​Se ele próprio não havia se deixado levar por Eleanor, por que teriam os outros? Antes da confusão com Alice e Arthur e toda a história que os levara a se afastar da irmã, Vitor era quem mais gostava dela, e vice-versa. Os dois eram os que aprontavam juntos, gostavam de lutar e de aprontar com os demais. Os que nunca perdoaram a morte de Susan e juraram vingança. Os que saíam por aí e matavam por diversão. Os que, por fim, guardavam um ódio tão grande um pelo outro que não veriam problema em deixar o outro morrer.

​Vitor sentou na cama, frustrado. Não havia explicação. Alice era doce e carinhosa com todos, sempre preocupada com cada um. Era a mesma garota, apenas sabia dar atenção ao jeito de cada um. Nunca passaria algo à frente do bem estar de quem ela amava.

​Por isso ele a amava tanto.

​Eleanor era o contrário. Mudava completamente seu jeito dependendo de quem estava com ela. Fingia ser quem não era. Por vezes era carinhosa, mas não com quem não gostava muito disso. No fundo, ela era apenas doentiamente ciumenta. Só isso.

​– Uau... Eu sabia que você era desorganizado, mas isso... – Catarina falou assim que apareceu na porta. Vitor se virou para ela, e estendeu uma das mãos para indicar que ela fosse até ele. A garota se aproximou e se aninhou nos braços dele. – Como você está... Digo, com tudo que aconteceu hoje.

​– Eu estou furioso – ele admitiu, olhando para o teto. – Não consigo achar uma explicação para tudo isso. Não faz sentido nenhum para mim, por mais que eu pense.

​– Olha, isso aqui não é pensar, se quer saber – ela gesticulou para o chão, coberto de roupas e papéis.

​Vitor riu, e respirou fundo. Não, aquilo não o estava ajudando a pensar. Mas Catarina sabia bem como fazê-lo relaxar...

​– Posso perguntar uma coisa? – ela chamou, interrompendo seus pensamentos.

​– Já perguntou – a garota revirou os olhos e riu. – Pode, estou brincando.

​– Então... Sei que não é um bom momento... Mas pelo menos vai te distrair, eu acho. Enfim – Catarina abanou as mãos, como se tirasse uma mosca da frente de seus olhos. – Quero saber se você já se apaixonou.

​Ele parou por alguns instantes, pego desprevenido. Nunca respondera com sinceridade àquela pergunta, em todas as vezes que lhe fora feita. Mas Catarina o fazia sentir diferente, e resolveu confiar nela.

​– Para falar a verdade... Sim – suspirou. – Só não diga a ninguém, está bem?

​– Claro. Pode confiar em mim – eles ficaram alguns minutos em silêncio. – Por quem?

​Vitor a olhou, irritado, sem gostar do rumo que a conversa estava tomando. Catarina sustentou o olhar dele, atrevida. Ele torceu os lábios sem querer responder.

​– Se você disser que é por mim...

​– Não, Catarina – ele riu, se divertindo com a surpresa dela. A garota ergueu as mãos como se agradecesse aos céus.
​Depois da crise de riso dos dois, Catarina respirou fundo para se acalmar.

​– Então... Vai me falar por quem se apaixonou? – ela o encarou. Vitor mordeu o lábio, pensando.

​– Tudo bem, eu vou. Mas você jamais pode contar isso para alguém, estamos entendidos?

​– Claro. Já disse, pode confiar em mim.
​Depois de perceber que ela entendera bem, Vitor começou a lhe contar.

Forever II - Vivendo a EternidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora