Gabriel estava deitado na cama, encarando o teto, alheio ao resto da casa. Tentava desesperadamente pensar no que estava acontecendo consigo, tentar entender porque se sentia sempre tão distante de... Bem, de tudo.
Sua mãe estava morta, havia sido assassinada, e ele não fora capaz de derramar uma lágrima que fosse. Quando a encontrara na floresta, quase enlouquecera, é verdade, mas ainda assim não estava chorando. E estava se culpando, não exatamente sentindo pela morte da mulher mais importante de sua vida.
Não era muito egoísmo? Talvez até frieza de sua parte.
Insensível, era como ele se chamaria. O garoto repassava a conversa que tivera com Alice logo antes de descobrirem sobre Camila. Tudo que dissera a ela era verdade, o que só o fazia se sentir pior. Se ele estava sendo daquela maneira e reconhecia isso, por que diabos não mudava e acabava com tanto sofrimento?
Apesar de que estar distante de todos o incomodava, sim, o que mais enfurecia Gabriel eram seus pensamentos involuntários, – os quais ele simplesmente não era capaz de compreender a origem – como encorajar a irmã a fazer algo que poderia levá-la à morte. Ou a sensação de satisfação que o dominou depois de Robert finalmente conseguir derrubar a menina. Ele nem se importou enquanto ela arfava, agonizando de dor, no chão.
Com o choque, o garoto se sentou na cama de repente. Acabara de perceber que o que estava acontecendo era principalmente – se não totalmente – relacionado a Alice. Mesmo tendo se afastado de todos, era dela que ele se sentia mais distante, e também era com ela que ele estava mais frio.
Mas por quê? Gabriel sentira insuportavelmente a falta dela quando pensavam que estivesse morta; e agora que a garota estava de volta, que sabiam que estava viva, ele se distanciava dela?
"Chega", pensou. "Eu vou mudar isso."
Assim, levantou da cama e trocou de roupa antes de descer para a cozinha. Vitor estava lá, encarando um copo de água quase vazio em sua mão, completamente distraído ao se apoiar na mesa de pedra. Gabriel passou por ele para pegar um copo também.– Sabe de uma coisa? – aquele perguntou de repente. Quando levantou a cabeça, ficou evidente o quanto já chorara, graças aos seus olhos vermelhos. – Eu pensei em muita coisa, e acho que deveríamos nos mudar.
Gabriel se virou para o irmão, verificando se Vitor resolvera começar com alguma brincadeira idiota.
– Estou falando sério. Já passamos por coisas demais nessa casa. Devíamos tentar algo novo, em algum lugar maior, mais gente. Longe de tudo que já aconteceu.
– Está sugerindo que moremos na cidade? – o garoto ainda não estava crente que Vitor falava sério.
– Sim e não. Estou querendo dizer para irmos para longe daqui. Podemos ir para... São Paulo, talvez – ele gesticulava com as mãos, agitado. Gabriel revirou os olhos, achando tudo aquilo uma enorme idiotice.
– Vitor, desculpe ter de lembrá-lo, mas nós somos vampiros. Os humanos, atualmente, não acreditam na nossa existência, porém, isso não significa de maneira alguma que vamos viver todos juntos normalmente. É impossível que convivamos todos em paz, Vitor. Vampiros matam humanos.
– Eu sei, acha que sou burro? Mas, pense bem, só por um segundo. Não é impossível, não hoje em dia, se fosse numa cidade grande. Seriam pessoas demais para que alguém reparasse em nós especificamente, e se reparassem, era só nos mudarmos. Além disso, com tanta gente no mesmo lugar, é muito difícil dar atenção à uma morte em especial, então ninguém nunca ia suspeitar que nós é que causamos alguma coisa desse tipo. É fácil enganar os humanos agora, Gabriel, eles não sabem nem sequer como se defender da hipnose – Vitor ainda teimou, animado com sua própria ideia brilhante. O outro respirou fundo, se irritando.
– Você não enxerga mesmo o quanto está estúpido e infantil, não é? Acha de verdade que vai se livrar dos problemas que temos com Charlotte apenas indo para uma porcaria de uma cidade grande? Deixe de iludir a si próprio, Vitor. E não crie falsas esperanças – ele respondeu sério, encarando os olhos escuros do irmão. Vitor sustentou o olhar dele por alguns segundos, e então virou o rosto, com o pouco de animação que ainda tinha desaparecendo.
– Pense como quiser, Gabriel. Porém eu sei que se parasse de ter esperança, não haveria mais pelo que lutar, e aí sim eu estaria sendo estúpido.
O garoto saiu da cozinha, deixando Gabriel sozinho com seu pessimismo.
* * *
– Eu acho uma ótima ideia! – Alice exclamou ao ouvir a ideia de Vitor. Era exatamente o que ela precisava; um jeito de fugir das lembranças torturantes que cada canto daquela casa lhe trazia.
– Claro que acha. Você adora ideia absurdas – Eleanor respondeu, desdenhosa.
– Por que diz isso? – a de olhos azuis indagou, evidentemente mais desanimada depois do comentário da irmã. A outra revirou os olhos.
– Eu concordo com Eleanor sobre ser uma ideia absurda. Não podemos viver em uma cidade grande, com tanta gente – Mariana interrompeu. – Além disso, nós não vamos conseguir fugir de Charlotte simplesmente por mudar de cidade.
– Claro que não. Sei que não vamos fugir. Por outro lado, no entanto, não seria bom nos afastar de tantas lembranças ruins que já tivemos nessa casa?
– Sim, eu acho que seria bom para nós ir para algum lugar novo – concordou Breno, e Leonardo assentiu, animado.
– Já que minha opinião certamente não conta, o que vocês acham? Robert? Gabriel? – Vitor incentivou, olhando o irmão ainda com certa esperança.
– Robert também não conta. É óbvio que vai concordar com Alice – Eleanor lançou um olhar fulminante para o casal sentado juntos, abraçados.
– Vou concordar mesmo. O que me importa é ela esteja feliz.
– Já que ele concorda, me deixe falar – Alice voltou a se pronunciar. Sua animação já voltara. – Vai ser bom para todos nós ir para um lugar novo. Nós não vamos exatamente recomeçar, já que Charlotte e Pedro obviamente ainda vão nos perseguir. Mas pelo menos não seremos atormentados por lembranças ruins ou dolorosas em cada canto da casa que olharmos.
Gabriel a olhou antes de responder. Ele ainda estava resistente em aceitar se mudar, ainda mais para um lugar tão distante, mas ao mesmo tempo se sentia inclinado a manter a promessa que fizera a si mesmo mais cedo, e não deixar que o breve momento de entusiasmo de Alice fosse destruído por sua opinião.
– Alice tem razão. Pode ser bom para nós conhecer um lugar novo – ele olhava para as próprias mãos, mas pôde perceber o sorriso doce da garota para ele. Gabriel levantou os olhos um pouco, a encarando carinhosamente.
– O quê? – Eleanor se indignou, atraindo a atenção do garoto para si.
– Por que tanta surpresa?
– Nada... Eu só não esperava que você fosse concordar com isso. Você normalmente é tão pé no chão.
– Às vezes é preciso sonhar um pouco mais alto para conseguir manter os pés no chão, Eleanor – Robert afirmou. Ela apenas o fuzilou com o olhar.
– Então está decidido – Vitor se colocou de pé, sorrindo. – Nós vamos nos mudar.
Robert puxou Alice e a beijou de repente. A garota riu, e mesmo corando por estar na frente dos irmãos, correspondeu animadamente.
----------------------Nota da Autora
Oooooooi de novo... Finalmente, vamos ter mudanças u.u o que acharam? Acham que vai ajudar em algo?
Sobre o Gabriel... Agora temos uma ideia do que está acontecendo na cabeça dele. Mas... Pq com a Alice?? Algum palpite?? :/
Bom pessoas... Até o próximo capítulo semana que vem ;) amo vcs
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Forever II - Vivendo a Eternidade
VampireForever I - http://w.tt/21MoI45 Ela nunca almejou o poder. Passaram-se 80 anos, e ela ainda treme de medo de Charlotte e Pedro. Alice pretendia escapar, mas não conseguiu. Robert sente a falta dela todos os dias, assim como os Johnsen. E por falar...