Forever II - Vivendo a Eternidade

80 anos depois

​Já fazia quase oitenta anos desde o que acontecera com Alice. Robert evitava ao máximo pensar nela, porém era quase impossível considerando que há pouco tempo transformara outra garota. Ela engravidara do namorado antes de se casar, e por isso fora rejeitada pela família, largada para morrer de fome. Afinal, ninguém a ajudaria. Sabendo disso, fora atrás do "animal" que matara várias pessoas na cidade. O vampiro achava divertido o pensamento dos humanos atuais. Não existia vampiros na visão deles. Ainda por cima, diziam que os antepassados eram bobos de acreditar em lendas estúpidas sobre monstros. Claro que para Robert isso era vantagem. Podia andar entre os habitantes sem que suspeitassem de nada.

​Exceto por uma família.

​A família de Catarina ainda acreditava nas lendas absurdas sobre bruxas e vampiros. Quando a filha mais nova fora abandonada para morrer, correra pedir ajuda a quem ela suspeitava ser o responsável pelas mortes. Ele imediatamente dissera que não a protegeria e nem influenciaria ninguém para o fazer. Catarina dissera que aceitava ser uma vampira, mas não queria morrer.

​Robert não hesitara muito em transformá-la. Dera do próprio sangue para ela e a garota se transformara após se enforcar. Certamente ela se dera bem como vampira, já que não podia mais engravidar. Todas as noites ela saía e voltava praticamente de manhã. Robert deixava Catarina pensar que o fazia de bobo, dizendo que tinha muita sede.

​Porém esta garota era pior que Alice no treino. Ele entendia que Catarina não tinha a habilidade da outra, mas quando via que ela não era capaz de dar uma simples mortal mesmo que ele lhe desse todo o impulso necessário, ficava muito irritado.

​Agora Robert andava pela cidade. Estava anoitecendo, porém havia gente por todos os lados na rua, aproveitando o calor do verão. Ele observava um anúncio que vira em diversas partes da cidadezinha desde cedo. Ali dizia que fora abolida a escravidão. O vampiro não entendia exatamente porque aquilo lhe chamara tanta atenção. Provavelmente por saber que Charlotte e Pedro eram senhores de engenho, e certamente tinham muitos escravos. Robert sorriu consigo mesmo ao perceber que eles dois com certeza teriam grandes problemas com a produção de cana.

​Mas havia mais alguma coisa o incomodando.

​Tentando deixar tal questão de lado, o garoto achou melhor voltar para a floresta. Bastou chegar perto da clareira para ouvir Catarina gargalhando ao berros.

​Ele viu a menina no chão, rolando de rir, enquanto estancava o sangue de um ferimento na cabeça.

​– O que você aprontou? – Robert perguntou, sem estar realmente interessado.

​– Ele... Casado... A mulher atirou... – Catarina riu ainda mais alto. O vampiro a olhou confuso. Ela não estava falando nada coerente. A garota finalmente parou de rir e começou a explicar. – O homem que estava comigo era casado, aquele idiota! A mulher dele chegou e atirou um abajur na minha cabeça...
​Ela começou a rir novamente, e Robert desistiu de ouvi-la. Catarina era realmente louca.

​– Você apanhou por estar saindo com um homem casado, e ainda ri disso? – indagou. Só o que conseguiu fazer foi com que a menina risse ainda mais.
​Robert pegou os desenhos e o lápis que costumava usar. O desenho de Alice estava encima, fazendo com que ele percebesse que Catarina havia mexido em suas coisas. O vampiro teve de respirar fundo para não se descontrolar.

​– Catarina – chamou Robert. Ela virou o rosto para ele. – quantas vezes já te falei para não mexer aqui?

​– Oras, queria ver seus desenhos. Esquece isso – respondeu dando de ombros.

​– Não mexa aqui. É a última vez que vou avisar. Na próxima, você está encrencada.

​Catarina revirou os olhos. Ela nunca tinha medo dele. Na verdade, era uma das poucas novatas que nunca tinha medo de nada. Temia apenas a morte, e sabia que Robert não iria mata-la.