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para que me tornasse um padre; pois, assim, eu viveria para glorificar o nome dEle e para
levar os outros a servi-Lo. Ela conta que eu comecei a melhorar imediatamente e minha
recuperação foi rápida e completa.
Chegou o momento da minha primeira comunhão. No entanto, quanto mais eu
memorizava o catecismo (os ensinos e mandamentos da Igreja Católica), mais difícil me
era harmonizar os seus ensinos com o que eu conhecia do evangelho de Cristo. Antes do
sermão, no domingo, o padre lia um capítulo de um dos quatro evangelhos ou de uma das
epístolas. Essa parte, eu apreciava muito.
Certa vez, quando eu tinha sete anos de idade, estávamos voltando da igreja para a
casa num lindo dia de inverno. O sol brilhava e cerca de vinte trenós puxados a cavalo
seguiam um ao outro. O barulho de todos aqueles sinos dos trenós não permitia muita
conversa. Todos nós viajávamos em silêncio. Foi quando eu quebrei tal silêncio
perguntando a minha mãe por que Jesus foi tão bom para as pessoas quando andou na
Terra e Se tornou tão mau depois que subiu ao Céu?
- Por que você faz essa pergunta? - indagou ela.
- Por que um Deus bom queimaria as pessoas no purgatório por centenas de anos,
só por causa de pequenas ofensas? - eu perguntei, novamente. - Certamente, Ele não
pratica o que ensinou. Você e o papai praticam aquilo que nos ensinam e por que Ele não?
Vocês nos ensinam a perdoar as ofensas uns dos outros. Deus também deveria perdoar
completamente, não acha?
Ao olhar bem para o rosto dela, pude perceber que esse raciocínio a deixou meio
confusa. Meu pai tentou socorrê-la apelando para as autoridades superiores.
- Sabe, meu filho, é como o seu tio Félix, o padre, já disse: Deus odeia tanto o
pecado, que teve que associá-lo com uma pesada penalidade para ensinar as pessoas a se
apartarem dele (do pecado). Além disso, o Santo Papa conhece outras boas razões para
que Deus use o purgatório, e nós não devemos questionar a autoridade do Papa.
Também aprendi e aceitei a doutrina da transubstanciação como qualquer outra
criança de minha idade; crendo que, na Eucaristia, o padre transformava o pão e o vinho
no corpo e sangue de Cristo literalmente. Mas, no domingo de Páscoa de 1937, ano em
que minha mãe faleceu, ouvi algo que me levou a pensar de outra maneira.
O padre lia em um dos evangelhos a respeito da ressurreição de Cristo. O que me
fascinava era o fato de que Jesus teve dificuldade em convencer os discípulos de que Ele
havia ressuscitado realmente; que Ele era um Ser real, de carne e ossos, e não um
espírito. Algumas perguntas interessantes surgiram em minha mente. Será que o Céu
poderia ser um lugar real como a Terra, onde pessoas, de carne e osso, podem viver vidas
reais, em vez de serem espíritos a flutuar nas nuvens? Por outro lado, se Jesus não é um
espírito, como pode fazer parte da hóstia?
Para algumas pessoas, pode ser difícil compreender como uma pequena criança
poderia perder sua fé em Deus e se voltar contra a religião da maneira como eu fiz.
Talvez, eu consiga explicar, narrando alguns incidentes.
Como juvenil, eu ficava profundamente impressionado com o que ouvia e via na
vida dos adultos. Nosso lar era um lugar de paz e alegria. Nossos pais nos deram um bom
exemplo de como as pessoas devem relacionar-se. Eles praticavam a bondade e a
consideração para com os outros e, com isso, esperavam que fôssemos bondosos e
perdoássemos as faltas de uns dos outros. Nossos pais estavam sempre ajudando aos
pobres e necessitados. Na minha maneira de ver, eu achava que Deus deveria ser, pelo
menos, bondoso e compassivo para com os seres humanos da mesma forma que Ele
esperava que nós fôssemos uns para com os outros.

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