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isso.
Um dos vizinhos tomou a palavra:
– Preciso dizer-lhe que pode guardar o seu dinheiro. Estou inclinado a pensar que
ele está, agora mesmo, é no fogo do inferno. Vejam, Senhor e Senhora Morneau, esse
homem era conhecido por ter os dedos pegadiços. O que quero dizer é que ele, às vezes,
se apropriava de objetos que não eram dele.
– Essa acusação é grave – papai respondeu. – E a menos que o senhor tenha
provas, eu gostaria que não falasse mais nada.
– Sinto muito, mas o senhor se lembra de que no ano passado, mais ou menos
nesta mesma época, o senhor não conseguiu encontrar uma corrente de puxar toras, que
havia comprado poucos dias antes? Se o senhor fosse ao galpão dele e procurasse em um
determinado lugar, encontraria a sua corrente. Eu a vi ali, poucos dias atrás. Cheguei até a
comentar com o falecido sobre isso. Ele disse que a tinha tomado emprestada do senhor,
mas que o senhor não sabia.
Por alguns momentos, papai pareceu chocado. Mas logo recuperou a compostura e
disse:
– Para mim, isto é uma revelação. Ouçam todos! Quero que todos saibam que,
diante de Deus, estou dando ao falecido a corrente que ele tomou emprestada de mim,
mesmo que ele não tenha tido a intenção de me devolver. Além disso, caso ele tenha
levado qualquer outra coisa de que eu não tenha conhecimento, também dou a ele. Desta
forma, a alma dele está livre de qualquer condenação que ele possa trazer sobre si
mesmo à vista de Deus.
– Não quero ser irreverente para com Deus, – respondeu o vizinho – mas agora
estou achando que o senhor é muito mais bondoso do que Deus. Tenho de admitir que
esse é o gesto mais lindo que já vi ou de que já ouvi falar. Na verdade, o senhor deve ser
o primeiro ser humano a forçar Deus a tirar uma alma do fogo do inferno e colocá-la no
purgatório, até que esteja plenamente purificada para entrar no Céu.
Esse episódio teve um grande impacto sobre mim. Por muitos dias, esse incidente
voltava à minha mente e, ao meditar sobre isso, eu concordava com o vizinho – meu pai
tinha um caráter mais nobre do que o de Deus, a quem ele servia. Cheguei à conclusão de
que Deus era demasiado injusto ao obrigar as almas a sofrerem no purgatório quando
seus parentes não tivessem dinheiro para mandar celebrar missas.
A experiência que mais contribuiu para que eu me voltasse completamente contra
Deus, porém, foi o falecimento de minha mãe. Na primavera de 1937, ela foi ao hospital
para ser submetida a uma cirurgia. Após duas semanas, ela recebeu alta, mas para passar
seus últimos dias em casa. Com apenas doze anos de idade, eu tinha a mente muito
impressionável.
Certo dia, ao chegar da escola, fui ao quarto dela para beijá-la na testa, como fazia
todos os dias.
– Por favor, sente-se – disse ela. – Gostaria de dizer algo que é muito importante
para nós dois. Como você sabe, não me resta muito tempo para viver junto de você e
quero que você se lembre deste pequeno conselho. Ao ir abrindo o seu caminho através
da vida, demonstre a sua apreciação pela bondade dos outros para com você. Agradeça
sempre, mesmo que seja apenas um copo de água. As pessoas que expressam sua
apreciação por pequenos favores, recebem benefícios muito maiores.
Naquele tempo era costume fazer o velório em casa, em vez de numa capela
funerária. Por três dias, os amigos, parentes e vizinhos vieram para prestar suas
homenagens e orar pela alma de minha mãe. No dia do sepultamento, muitas pessoas

Continua..

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