pag_06

288 5 0
                                    

Concluí que seu raciocínio devia estar provavelmente certo, mas aquelas solenes
palavras não saíam de minha mente: “Fora da Igreja Católica Apostólica Romana, não há
salvação”.
Alguns meses se passaram e, finalmente, ouvimos que o meu tio, o padre, estaria
visitando todos os parentes. Pedi que papai perguntasse ao tio Félix, quando houvesse
uma oportunidade, sobre o destino dos bons protestantes.
Depois de todos terem conversado bastante, papai se virou para o meu tio e
perguntou:
– Félix, diga-me por favor, para onde vão os protestantes bons quando morrem?
– Por que você pergunta? – respondeu ele.
Papai, então, explicou o meu questionamento à luz do que estava escrito no
catecismo.
– O que Roger mencionou do catecismo está correto – disse o tio Félix. – Não há
salvação fora da Igreja Católica, seja lá quem for a pessoa.
Sua afirmação abriu espaço para um demorado debate sobre o assunto. Meu pai
dizia que não seria justo da parte de Deus impedir a entrada de um bom protestante no
Céu. Enquanto isso, meu tio procurava esfriar o calor da discussão, sugerindo que, quando
um bom protestante morre, sua alma provavelmente vai para o limbo. Supõe-se que este
seja o lugar para onde se dirigem as almas das crianças não batizadas, quando morrem.
Então, tio Félix concluiu:
– Uma coisa, eu sei: de acordo com a Igreja, nenhum protestante, bom ou mau, irá
para o Céu, nem jamais verá a Deus. E lembrem-se, eu não fui o inventor das regras, eu
apenas as ensino. Se houvesse qualquer possibilidade de um protestante ir para o Céu,
nosso Santo Padre, o Papa, certamente nos teria dito.
Essa experiência deixou gravado em minha mente um grande ponto de
interrogação sobre a justiça de Deus.
O tempo foi passando e, uns dois anos depois, a questão da justiça de Deus veio
novamente à tona.
Numa linda tarde de julho, alguém passou em minha casa para contar aos meus
pais que um vizinho havia morrido de repente, enquanto trabalhava a oito quilômetros de
sua casa, aproximadamente. Uma afirmação chocou a todos os que estavam presentes:
“Ele morreu sem ter, ao seu lado, um sacerdote que lhe ministrasse o último sacramento
da Igreja”. Depois de dizer que o irmão do falecido estava trazendo o corpo para casa, o
homem saiu meneando a cabeça e dizendo: “É triste, triste, triste”.
Posso me lembrar desse incidente como se fosse ontem.
Não demorou muito, e nós vimos uma velha carruagem puxada a cavalos movendo-
se lentamente pela estrada. Um cobertor cobria o corpo, e o condutor estava sentado na
frente, com as pernas penduradas, e a face refletindo o seu desespero.
Alguns vizinhos, que vieram à nossa casa para usar o nosso telefone (minha família
possuía um dos dois únicos aparelhos telefônicos por muitos quilômetros ao redor),
estavam assentados conosco, na varanda da frente. Depois de o féretro ter passado pela
frente de nossa casa, minha mãe comentou:
– Se pelo menos ele tivesse um padre ao seu lado para lhe perdoar os pecados
mortais, não teria que ir para o fogo do inferno. Nossa esperança é que a alma dele tenha
somente pecados veniais [perdoáveis]. Só isso, no entanto, já representa muitos anos nas
chamas do purgatório.
– Vamos ter que ajuntar dinheiro para mandar celebrar missas pela paz da alma
dele, – disse papai – pois penso que a esposa e os filhos não terão condições de fazer

Continua.

Deus te guie...

Viagem Ao SobrenaturalOnde histórias criam vida. Descubra agora