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conheci não tinha medo de nada. Lembro-me do tempo em que você e eu, e outro seis
novatos, éramos marinheiros e o primeiro-oficial aproximou-se de nós, dizendo que
precisava de um voluntário para subir ao topo do mastro principal do navio, no dia
seguinte, para pintar a parte mais alta. “Qual de vocês vai subir?”, perguntou ele. “Não é
muito alto, tem apenas 22 metros. Mas, a pessoa que subir, necessitará de muita calma
quando estiver lá em cima. Vai ter que sair da tábua em que se sentou enquanto era içado
com uma corda, e deitar de barriga sobre o topo do mastro [que tinha 60 centímetros de
largura] para poder pintar a parte de trás”. Estávamos todos morrendo de medo de subir,
e ficamos aliviados quando você disse ao primeiro-oficial que subiria. Falar em coragem,
companheiro, era com você. Agora, não me diga que vai ficar fora dessa, de vir comigo à
nossa próxima sessão, vai?
Depois de um discurso como esse, eu não poderia recusar. De repente, eu tinha
que manter aquela imagem de que Roger Morneau não tinha medo de nada. Estava
fisgado.
Foi assim que, certo sábado, ao anoitecer, me encontrei com Roland em uma casa
em que um médium visitante seria o hóspede de honra. Fomos apresentados a alguns dos
presentes, e nos sentimos honrados ao sermos apresentados a um casal muito distinto. O
homem era um profissional de espetáculos, líder de uma banda de 'jazz' que estava
fazendo grande sucesso. Sua banda tocava nos mais elegantes clubes noturnos.
Terminada a sessão, algumas das visitas se preparavam para sair, quando o líder da
banda virou-se para sua esposa e disse:
– Querida, o que você acha de irmos embora? Já está ficando tarde.
A esposa estava, nesse momento, conversando com o médium. Ela o achou muito
interessante.
– George, por que você não vai para casa primeiro, a fim de descansar? –
respondeu ela – Quero ficar aqui mais um pouco, e depois pego uma carona com os
Belanger [outra família].
Ele concordou com a ideia e saiu da casa exatamente no momento em que Roland
e eu estávamos saindo. Já do lado de fora, George aproximou-se de nós e perguntou:
– Companheiros, vocês têm carro?
– Não, – disse eu – nós vamos pegar o bonde, a duas quadras daqui.
– Será um prazer dar-lhes uma carona. Entrem.
Durante a sessão daquela noite, Roland e eu dissemos, em nossas conversas
informais, que havíamos servido na Marinha Mercante durante a guerra. O médium
evocou o (suposto) espírito de um dos companheiros de trabalho de Roland, que morrera
quando o navio deles afundou.
Ao entrarmos no carro de George, ele começou a fazer perguntas a respeito dos
perigos do nosso trabalho durante a guerra. Mas não demorou quase nada e já estávamos
em nosso endereço. Ele fez, então, uma sugestão:
– Que tal irmos a um restaurante para comermos alguma coisa? Vocês poderiam,
ao mesmo tempo, contar mais um pouco das suas aventuras durante a guerra. Isto me
fascina. As despesas correm por minha conta e depois lhes dou uma carona até às suas
casas.
George nos levou à Rua St. Catherine West, parte da cidade de Montreal conhecida
por seus restaurantes de alto nível. De repente, ele manobrou seu 'Lincoln Deluxe' através
de uma via estreita que dava nos fundos de um de seus restaurantes prediletos, e o
estacionou atrás de um 'Cadillac' preto, dizendo:
– Joe está aqui. Ele é o proprietário, e uma ótima pessoa.

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