Capítulo 10 - Transtornado

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Drown out, the voice that breaks the silence

And talks the joy out of everything

You were found out and had to walk

in darkness without the only thing you care about

Drown Out - The Swell Season


Colin O'Riagáin estava cansado das pessoas sempre rirem dele – não com ele, não para ele, mas dele – A vida toda havia sido assim. Antes que ele pudesse compreender o que ele tinha, as pessoas já riam dele. Colin imaginara que se ele visse alguém passando por todas as cenas que ele passava era bem capaz dele rir também. Só era um saco que era ele quem era o protagonista de todas elas.

Ele tentara de tudo para reverter a sua situação. Ninguém poderia questionar isso, o garoto realmente se esforçara desde que recebeu seu diagnóstico. Primeiro, ele tentara se concentrar em tudo o que fazia, manter o foco, como aparentemente o resto do mundo conseguia. Se o resto do mundo fazia, não devia ser tão difícil. Mas acontece que, para Colin, até tarefas simples pareciam impossíveis mesmo. Ele estava sempre tropeçando em seus próprios pés, sempre enrolado em qualquer atividade, sempre esquecendo de fazer alguma coisa, perdendo algum objeto, mudando seus planos no meio do caminho. Era impossível para o garoto fazer uma coisa de cada vez, embora todo mundo dissesse que ele sairia muito melhor se conseguisse essa façanha. Colin simplesmente não conseguia se focar numa coisa só. E ele tinha noção de que tudo seria mais fácil se, por um acaso, aprendesse essa mágica. Mas quem ele queria mesmo enganar com aquela tentativa? O garoto não conseguia nem mesmo se focar.

A segunda coisa que ele tentou foi terapia. É claro que o garoto tentou terapia. Não era uma coisa que podia fugir, com o diagnóstico recebido aos seis anos de idade. Não ajudou. Embora fosse libertador falar de si mesmo, chegou um ponto que Colin já não conseguia mais ouvir sua voz reclamando da sua vida ou das piadas que ouvia por ter o que tinha. Era insuportável falar sempre sobre a mesma coisa. Há um limite humano para fazer isso sem surtar. E, bem, Colin não era exatamente a pessoa com o maior limite de capacidade em seu corpo. Ele mal conseguia fazer uma atividade bem-feita até o fim!

A última coisa que ele tentara foram os remédios. Sua mãe o obrigara a tomar por muito tempo, provavelmente para aguentá-lo em casa quando ele não estava na escola. O problema é que os remédios eram horríveis, lhe roubavam todo o ânimo de fazer o que quer que seja. Pior: também roubava dele toda sua criatividade. E sem criatividade, Colin não podia fazer músicas. E, sem músicas... Bem, Colin não era nada.

Então ele apenas aprendeu a conviver com seu problema. Na maior parte do dia, ele fingia que era normal, como seus amigos. Pelo menos até ele esquecer alguma coisa pelo caminho, tropeçar em seus pés, não conseguir parar quieto mesmo sabendo que precisava ficar quieto, e todas as outras coisas que seu pequeno problema ocasionava. Ele só não havia aprendido a conviver com as pessoas que pareciam ficar felizes por tirar sarro da condição dele.

Era de se esperar que depois de tanto tempo sendo vítima disso ele já tivesse se acostumado. Mas a verdade é que ele apenas se irritava cada vez mais. O limite dele para as coisas não era exatamente um exemplo para ser almejado.

Por isso, quando os seis cachorros que ele levava para passear ao mesmo tempo se enroscaram com suas correias da coleira nas pernas enormes dele, e Colin caiu no chão com toda a classe que um cara de quase 1,90m de altura pode ter, bem na avenida principal de Dublin, ele não se fez de rogado para xingar as risadas a sua volta.

— Qual é o problema de vocês? – ele gritou para os adolescentes – Nunca viram ninguém caindo no chão?

— Você poderia estrelar um show cômico – o garoto de uns doze, treze anos gritou, do outro lado da rua – Você devia ver sua queda, cara.

Cores De Um RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora