Você me bagunça e tumultua tudo em mim
E ainda joga baixo, eu acho, nem sei
Só sei que foi assim
Você Me Bagunça - O Teatro Mágico
Por um momento, um leve segundo de piscar os olhos, Jéssica realmente achou que havia sido descoberta. Quando Chloe sacou o celular daquele jeito, olhando para ela com aqueles olhos claros, as sobrancelhas quase brancas arqueadas, a primeira coisa que ela pensou foi: eles viram – eles viram o meu vídeo.
Mas quando os cílios de cima se encostaram nos cílios de baixo, a menina pensou que aquilo seria probabilisticamente difícil de acontecer. O vídeo havia sido deletado dos sites e só se algum conhecido encontrasse com uma das pessoas que ela esbarrou na Irlanda é que poderiam achar a gravação. Uma coisa que ela estava tomando o maior cuidado, é claro, de não aparecer em vídeo nenhum, foto nenhuma que era publicada e se mantendo distante de qualquer rede social.
A menina vivia com o fantasma daquele dia as suas costas porque era menos insuportável do que ser obrigada a encarar o fantasma de frente.
Mas, graças aos céus, não era um vídeo dela. Quer dizer, não exatamente. Ela realmente não aparecia na gravação, embora durante o refrão pudesse escutar sua voz tímida ao fundo. Jéssica ficara encarregada de gravar, já que não queria de jeito nenhum aparecer.
Emily havia ficado muito irritada quando ela disse que não ia aparecer no vídeo.
— A música também é sua, idiota! – ela quase gritara, num tom histérico que a menina nunca tinha ouvido ela falar.
— Só ajudei numa parcela – Jéssica encolheu os ombros.
Não era bem verdade. Mas Emily não precisava saber daquilo também.
Ela e Colin entraram num acordo de que ninguém nunca saberia que quem escrevera a letra era Jéssica. Primeiro porque ela não queria mesmo fama. Não queria antes de ter um vídeo íntimo seu na internet, que dirá depois dele. A menina sabia que, se por um acaso, numa sorte sem sentido, ficasse famosa, a primeira coisa que iria ao ar seriam aqueles 50 segundos mais humilhantes de sua vida. Os cinquenta segundos que Jéssica só queria esquecer. Segundo porque ela não queria que aquele casal brasileiro pensasse que ela estava sofrendo tanto a ponto de escrever uma música como uma indireta.
A menina não via aquilo como indireta. Era mais um desabafo, na verdade. Mas ela conhecia a ex-melhor-amiga que tinha. E com certeza Camila pensaria que era uma indireta. Pior, se sentiria muito famosa e importante por ter recebido uma indireta em forma de música.
Tudo o que Jéssica não queria era que eles pensassem que eram mesmo importantes ou que ela ainda estava sofrendo mesmo tanto tempo depois.
Colin, apesar de relutante, concordara. Ele não achava muito certo ficar com toda a glória da composição, dissera, mas já que ela insistia... bem, não se podia fazer muita coisa. Jéssica dera de ombros e balançara a cabeça.
Já estava muito tarde quando os dois terminaram, Chloe ainda estava desmaiada no sofá, ela não podia ir embora para casa sozinha e no silêncio da madrugada enquanto o garoto ainda ajustava uns últimos acordes ela pensara que ele era mesmo uma gracinha.
Jéssica ainda podia sentir o pulo que seu coração dera na hora que chegara a essa conclusão.
— Hein, Jéssica! – Chloe bateu os pés dentro de sua melissa azul – Já viu ou não?
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Cores De Um Recomeço
Fiksi RemajaA vida de Jéssica poderia ser resumida assim: duas músicas para acordar, cinco para tomar café, três para chegar a sua escola, montada em sua bicicleta laranja, quatro para ir para a casa da sua única melhor amiga. E ela estava muito bem assim, obri...