Capítulo 22 - Continue a Nadar

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Living is easy with eyes closed

Misunderstanding all you see

It's getting hard to be someone

But it all works out

It doesn't matter much to me

Strawbery Fields Forever - Oasis

Jéssica não segurou a mão ao garoto. Aquilo já era demais. Ao invés disso, apenas deu as costas e caminhou até a porta.

Colin não demorou muito para chegar atrás dela.

— Você tá bem? – ele perguntou.

A menina mordeu o lábio inferior, inclinando a cabeça para o lado. Estava ali uma pergunta difícil de ser respondida, e não era nem por causa do seu recém-resfriado. Antes fosse só por isso. Sem saber o que dizer, apenas abaixou a cabeça e começou a descer as escadas.

— Você não tá com seu fone laranja gigante – ele continuou, e a menina arqueou a sobrancelha.

Jéssica não sabia exatamente o que era mais assustador: o fato do garoto não conseguir ficar quieto ou calado, ou ele notar tantos detalhes nela a conhecendo tão pouco.

— Lian quis ficar com ele – ela deu de ombros, colocando a mão no corrimão da escada.

— Você não é muito apegada as suas coisas? Que estranho. Quer dizer, você sempre está com aquele fone no pescoço, não achei que emprestaria com tanta facilidade pra alguém.

O que é que a menina poderia dizer? Não era alguém. Era Lian. Com aquela carinha fofa e seu cabelo pegando fogo, a menina simplesmente não conseguia dizer não.

— Nunca conseguiria emprestar meu violão, por exemplo.

— Se eu tivesse um instrumento, com certeza não emprestaria também.

— Você toca?

Ela negou com a cabeça.

— A música não é bem o que meu pai mais quer para mim.

— Nem me diga – Colin coçou o pescoço – Mas o que é que você quer para você?

Jéssica quase tropeçou na escada com aquela pergunta, a queima-roupa, dita por um irlandês que ela insistia em querer que fosse desconhecido. Colin tentou segurá-la, ao perceber que ela tropeçara, mas o garoto era tão sem jeito que foi ele mesmo quem caiu, assim, como uma maçã podre cai da árvore.

A menina se arrependeu no segundo seguinte que pensou nessa analogia.

Mas olhando para ele, no chão da calçada (ainda bem que eles estavam nos últimos degraus, se não era capaz do garoto se machucar de verdade!), esparramado de um jeito engraçado, com o olhar zonzo de quem acabou realmente de sofrer uma bela de uma queda, Jéssica pensou que ele era mesmo adorável.

E ela não precisou nem chegar ao final desse pensamento para se arrepender.

Jéssica pulou os últimos dois degraus de uma vez, parando ao lado dele.

— Você tá bem? – foi a vez dela de fazer essa pergunta.

— Mais um dia normal na vida de Colin – ele resmungou, sem se mexer - Caindo como um idiota.

— Bem, pelo menos dessa vez ninguém está gravando. Então não acho que esteja sendo um dia tão normal assim. – ela sorriu.

Colin a encarou, com os olhos cerrados. O que fez a menina se arrepender (céus, arrependimento era quase sempre o sentimento que ela tinha quando estava ao lado daquele garoto!) de ter tentado amenizar a situação. Jéssica não sabia muito bem a relação de Colin consigo mesmo, nem porque ele parecia estar sempre caindo ou tropeçando por todos os lados, mas estava claro para a menina que ele tinha muita dificuldade de se aceitar como era.

Cores De Um RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora