— Qual é a sensação de fazer dezoito? – perguntou Colin.
Jéssica deu um sorriso, ainda sem tirar os olhos do castelo em ruínas a sua frente. Ele sorriu vendo o encantamento nos olhos da garota, enquanto encarava as pedras. Quando ele decidiu comemorar o aniversário só com ela não imaginou que ela gostaria tanto.
— Qual a sensação de sair da Irlanda no dia mais importante do seu país? – ela devolveu a pergunta.
Ele deu de ombros. Era uma coisa um pouco estranha, para ser sincero. Porque Colin sempre achou o dia dezessete de março um dia especial.
Foi nesse dia que Albert Einstein enviou seu primeiro artigo para uma revista, em 1905, revolucionando a Física. Em 1942 os primeiros judeus foram mortos em Belzéc, na Polônia. Em 1948, Reino Unido e França assinam o Tratado de Bruxelas, em Benelux.
No ano de 493 morreu o santo padroeiro da Irlanda, Patrício. O primeiro Saint Patrick's Day foi comemorado no ano de 1931, em Dublin. Talvez fosse o evento mais querido pelos irlandeses, quando eles saíam para beber até cair – no sentido bem literal da coisa mesmo – vestidos de verde, laranja e amarelo pelas ruas.
Colin adorava Saint Patrick's Day por nenhum motivo especial. Ele sempre comemorava, seja por um dia, por três, por quatro, ou como aconteceu em 2006, por dez dias que durou o festival. Ele costumava esperar ansiosamente pelo dia que os bares não fechariam tão cedo e a única preocupação das pessoas, andando pelas ruas, era beber até toda a cerveja acabar.
Mas não naquele ano.
Porque naquele ano ele havia conhecido uma garota. Uma garota que, do outro lado do oceano, por coincidência ou destino, no ano de 1999, nasceu bem no dia 17 de março.
— Não há nada demais num 17 de março, Jess. Só um monte de pessoas bêbadas jogadas no chão de Dublin, vestidas de verde.
— Ouvi dizer que você gosta.
— Gosto mais de você – disse, encolhendo os ombros e mordendo o lábio logo em seguida.
Jéssica tirou os olhos do castelo e o encarou.
Estava um dia frio em Bratislava. Embora não fosse o inverno europeu, ainda assim março parecia ter vindo com temperaturas bastante abaixo da média. Ele havia decidido levar Jess ali, depois que sua mãe havia ligado para conversar com ele, dois dias antes. A conversa com sua mãe ainda voltava, vez ou outra, na sua cabeça. E quase, quase mesmo, abafava os berros de seu pai quando ambos descobriram que, afinal, Colin tinha mesmo seguido a carreira de músico.
Jess apertou a mão dele e começou a andar, o puxando.
— Você ainda não me contou como foi a conversa de seus pais – ela disse, de maneira doce.
— Meu pai está me odiando, como era de se esperar – ele falou, sem olha-la dessa vez – Mas minha mãe pareceu aceitar o fato. Só... bem, pediu para que eu vá ao médico e ao psicólogo. Tentar voltar com os remédios ou o tratamento. Me mandou um dinheiro extra para isso.
Ainda era uma coisa muito louca para a cabeça do garoto. Porque ele ainda podia ouvir Sir Phillippe gritar que podia esquecer qualquer ajuda dele, qualquer dinheiro, inclusive esquecer que tinha pai, já que decidiu seguir por aquela carreira ridícula que não daria futuro nenhum. Porque é claro que alguém como Colin nunca faria sucesso por muito tempo. E quando a coisa toda começasse a ficar ruim não era para o garoto tentar voltar com o maldito rabo entre suas pernas.
Mas sua mãe... Pela primeira vez sua mãe havia se posicionado. E ficado ao seu lado. E dito que enviaria um dinheirinho para ele, para que ele pudesse ir ao médico, se cuidar, manter-se são para continuar no seu sonho. E era estranho porque Colin não sabia se sentia feliz por isso, ou apenas apavorado com o que seu pai podia fazer, caso descobrisse.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cores De Um Recomeço
Teen FictionA vida de Jéssica poderia ser resumida assim: duas músicas para acordar, cinco para tomar café, três para chegar a sua escola, montada em sua bicicleta laranja, quatro para ir para a casa da sua única melhor amiga. E ela estava muito bem assim, obri...