Epílogo

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Não era a melhor apresentação de Colin.

Ele estava cansado, seus movimentos estavam pesados, seus olhos pareciam se fechar mesmo que ele mandasse a ordem de continuarem abertos. Ele podia sentir cada parte de seu corpo, exausto, implorarem por um descanso. Mas, ainda assim, ele continuava.

Porque, embora fosse a pior apresentação do garoto, ainda assim, era tudo o que ele tinha. Então aquilo tinha que bastar.

E tudo bem que ele não contava com uma grande plateia. Na verdade, ele não estava interessado em ninguém que estivesse na plateia. Ele só queria uma pessoa. Uma garota. A sua garota.

Colin desceu do ônibus, muito confuso, olhando para todos os lados na velha e pequena rodoviária.

— Oh, shit! – resmungou. (oh, merda!)

Porque era engraçado tudo. Como as pessoas a sua volta o encaravam sem saber o que um cara como ele, branco daquele jeito, laranja daquele jeito, estava fazendo naquela cidade.

— Please – ele disse, inclinando a cabeça ao lado ao ver um homem mais velho saindo da rodoviária – Excuse-me. Café da Lua, do you know? (por favor. Com licença. Café da Lua, você sabe?)

O homem coçou a barba, arqueando a sobrancelha para ele. Mas, então, abriu um sorriso e disse:

— Sure. I can give you a ride, if you want. (Com certeza. Eu posso te dar uma carona, se você quiser)

O alívio que Colin sentiu, por abordar alguém que sabia inglês, foi tão intenso que ele quase cambaleou, soltando sua mochila no chão. O homem lhe deu um sorriso.

— Lost in the midle of nowhere, hein – o cara ainda sorria.(perdido no meio do nada, hein

— I came to get a girl – Colin deu de ombros e um sorriso contido. (eu vim buscar uma garota)

— These girls... – o cara bateu duas vezes em seu ombro – What would we do whithout them? – disse, ainda sorrindo enquanto o guiava pelos corredores – You're not english, right? The accent – explicou, coçando a garganta. (Essas garotas... O que nós faríamos sem elas? (...) Você não é inglês, não é? O sotaque)

— Ireland – Colin confirmou. (Irlandês)

— Countryman to Joyce! How luck I'm! – destrancou a porta do carro para ele – João – disse, estendendo a mão e se apresentando. (Conterrâneo de Joyce! Que sorte eu tenho!)

— Colin.

No caminho até o Café, Colin descobriu que João falava tão bem o inglês que nem se perdia quando ele se empolgava demais e tornava o inglês naquele estilo que só os irlandeses compreendiam. Ele descobriu que João era professor de Letras, da UFBelo, a universidade da cidade. Era especialista em Joyce. Estudou na Inglaterra e conhecia a Irlanda. O que Colin pensou que era mesmo uma grande sorte, porque só podia significar que os ventos estavam a seu favor.

Por falar em vento, quando Jéssica disse que aquela cidade ventava tanto, ele nunca imaginou que era muito mais do que ele pensava.

Mas, embora o seu hitchhiker (caroneiro) fosse bastante simpático, Colin não conseguiu controlar toda sua apreensão por ver Jéssica. Porque Jéssica não sabia que ele estava indo vê-la. Porque ele estava sem dormir há mais de vinte e oito horas e não estava realmente na sua melhor apresentação – com certeza, estaria vermelho demais por conta do calor e com uma olheira bem grande. Colin saiu correndo do último show, sem falar com ninguém, pegou o primeiro avião e, quando viu, já estava a caminho de Ponte Belo, sem ter chance de voltar atrás.

Cores De Um RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora