Eu errei
Insisti em mudar o que via em ti
Até que me vi sem tiEu Errei - Tiago Iorc
Da casa de Chloe até o bicicletário público de Dublin eram quatro músicas completas, se todas tivessem uma média de tempo de três minutos e vinte segundos. Jéssica fechou o zíper do capote até o pescoço e deu uma olhada nas quatro músicas escolhidas pro caminho, então guardou seu celular dentro do bolso e colocou o fone de laranja na cabeça.
De todas as coisas que Jéssica já conhecera da cidade, o bicicletário público era a melhor delas. Na verdade, a menina nem acreditava que Chloe não havia lhe contado que aquilo realmente existia. Mas, pensando bem, Chloe não era exatamente atlética... O lado oposto ao do irmão, Benjamin, que, afinal, era quem havia lhe contado sobre o bicicletário.
Claro que Jéssica se perguntou se ele não estava tentando pregar uma peça nela, o que não seria nem um pouco uma surpresa, considerando a personalidade daquele garoto e tudo o mais. Seria bem típico, e a menina sabia que não corria o risco de ser injusta ao avalia-lo daquela maneira. Benjamin podia mesmo ser horrível. Emily que o diga. Mas, por alguma razão, não parecia ver motivos de ser horrível com Jéssica.
Isso não fez com que ela confiasse nele, é claro. A menina não achava que poderia confiar em qualquer pessoa do sexo masculino depois de tudo o que passou com... Ela balançou a cabeça, para espantar os pensamentos.
Se Lian não tivesse lhe dito que o bicicletário realmente existia – e que era um caminho mais fácil que qualquer ônibus que pegasse até sua escola, porque só precisaria pedalar em linha reta por alguns metros – era bem capaz da Jéssica nunca chegar perto daquela maravilha disponível na cidade irlandesa.
A garota podia muito bem dar um beijo em quem teve aquela ideia genial.
Não cabia em si a saudade que ela tinha do seu meio de transporte preferido.
Jéssica repassou na sua mente, enquanto caminhava debaixo da fraca chuva de sempre de Dublin, tudo o que precisava fazer em seu dia de folga. Primeiro precisava ir até a sua nova escola, pegar seu atestado de matrícula. De lá, precisava ir até o banco, abrir finalmente sua conta. Antes que seu pai descobrisse que ela já havia demorado quase duas semanas para fazer isso.
O fantasma de Brad era, quase sempre, mais assustador que o próprio Brad.
A menina balançou as mãos no ar, no ritmo da sua música preferida que começara a tocar naquele instante, um ritmo contagiante da loira mais bonita do mundo, é claro. Espaço em branco, a menina recitou, tentando ver se finalmente assimilava aquilo. A vida era um espaço em branco e era por isso que ela estava do outro lado do oceano, afinal.
Era difícil, no entanto. Não que ela se arrependesse de ter fugido – não é que ela tivesse tantas alternativas, assim, claro – Mas recomeçar, num país estranho, com pessoas estranhas que, na maioria das vezes falava um dialeto estranho entre eles, era mais difícil do que ela achou que seria. Sentia falta de casa. Do colo da mãe. Do cheiro de café no Café da Lua. Das ruas estreitas que pedalava com sua bicicleta laranja. E de Camila. Jéssica sabia que não deveria sentir falta de Camila, mas sentia. Foram anos de amizade. Ela ainda nem conseguia entender como tudo terminou daquele jeito...
Jess não queria pensar em Pietro. Mas, é claro, ela pensou.
Todos aqueles meses ela disse a seu reflexo que não havia se enganado com o garoto. Ela sabia que ele não prestava. Sabia que ela mesma não era o estilo de garota dele. Qualquer outra escolha de garota da sua sala seria mais natural do que ela. Jéssica achava que nunca havia se iludido. Se apaixonado, sim, com certeza. Mas não se iludido.
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Cores De Um Recomeço
Novela JuvenilA vida de Jéssica poderia ser resumida assim: duas músicas para acordar, cinco para tomar café, três para chegar a sua escola, montada em sua bicicleta laranja, quatro para ir para a casa da sua única melhor amiga. E ela estava muito bem assim, obri...