Capítulo 9 - Bem Vindo A Dublin*

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It's a new soundtrack

I could dance to this beat, beat

Forevermore

The lights are so bright

But they never blind me, me

Welcome to New York - Taylor Swift


Jess estava pensando que Renata podia até não saber falar inglês. Mas sabia muito bem falar em português. A garota simplesmente não calava a boca. E enquanto ela falava e falava e falava, sobre assuntos que não tinham nada a ver um com o outro e mesmo assim ela interligava todos com um parágrafo só, parando apenas para dizer "não é?" mas não esperando nenhuma resposta da sua nova-melhor-amiga-da-Irlanda, Jéssica estava pensando na sorte que os irlandeses tinham pela garota não saber falar inglês.

Depois que pensou isso, Jéssica se arrependeu quase no instante seguinte. Ela não gostava de pensar mal das pessoas. Mas era quase que impossível com tanta falação na sua cabeça. Era exatamente por isso que ela usava fones laranjas tão espalhafatosos e tão grandes. Assim, ninguém puxava mesmo assunto com ela e ela não tinha que passar por aqueles momentos constrangedores em que não quer conversar, mas a educação manda ficar ali e ouvir o que quer que seja.

A menina estava mesmo se perguntando se era falta de educação ela colocar seus fones agora, enquanto Renata reclamava – pela décima vez – que o cara do carimbo havia lhe dado apenas um mês, enquanto o da Jess dera três meses. E também porque, no segundo seguinte, reclamou pela vigésima vez, que estava frio demais para quem havia trago na bolsa de mão apenas uma blusa de moletom.

Não que Jéssica estivesse mesmo contando quantas vezes Renata reclamava, porque ela havia parado de ouvir mesmo a partir da segunda vez que a garota disse a mesma coisa. Mas ela bem queria ter coragem para dizer que a- não era culpa sua que o cara-do-carimbo havia lhe dado mais meses do que para a colega do lado e b- era janeiro. Como é que a pessoa realmente iria acreditar que não estaria frio na Irlanda? Será que ela não deu uma olhada na geografia do lugar e nas temperaturas?

Ir para um país sem saber a língua tudo bem. Agora não se preparar para todo o resto, como poder passar frio, era burrice demais.

Não que Jéssica fosse mesmo dizer alguma dessas coisas para Renata. Afinal, ela nem conhecia Renata. E nem queria ter conhecido, para ser bem sincera consigo mesma. Mas não era algo que você pode evitar, estando num país estranho, dentro do aeroporto, tentando adivinhar quem é que vai vir te buscar. A menina deu uma olhada para o relógio do saguão e tentou não bater os pés no chão. Não queria ser tão impaciente. Mas não era muito animador estar presa ali, no aeroporto, depois de horas de viagem.

A garota estava com fome. Estava cansada. E, principalmente, estava confusa com a diferença de fuso. É certo que da sua cidade para Dublin a diferença era de duas horas. Mas, mesmo assim, as horas de avião não ajudavam em nada.

Ela só queria ligar sua música e dormir. Tinha certeza de que isso não era pedir muito. Embora, naquelas condições, parecia que era.

Jéssica passou os olhos mais uma vez pelo saguão, enquanto concordava com o que quer que seja que Renata estivesse falando. Ela realmente não tinha ideia do rumo que aquela conversa estava tomando. Ela apenas assentia, para que a menina percebesse que não tinha assunto ali e finalmente, por Deus, calasse a boca. Mas Renata parecia alheia a tudo. Exceto ao frio e ao fato de que não falava inglês e não sabia como chegar ao seu endereço.

Foi aí que Jess viu. No meio de meia dúzia de pessoas, uma menina com os cabelos muito loiros, tão loiros que pareciam brancos e que Jéssica tinha certeza de que, se não estivesse tão longe dela, poderia ter ficado cega por alguns segundos só por causa daquela tonalidade de cor, segurando uma placa com seu nome. JÉSSICA ANTUNES. COME HERE.

Cores De Um RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora