Capítulo 13 - Problemas

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Eu nasci pessoa, gente

Eu não nasci coisa

Eu não sou brinde de criança, nem presente de natal

Eu sou Problema Meu - Clarice Falcão



O refrigerante que Emily trouxera estava quente.

Não que Jess fosse reclamar, de todo modo, porque parecia que a garota-azul não era muito aberta às reclamações. Jéssica já havia visto Emily gritar com uns dois clientes naquele meio tempo. E já havia decidido que não queria ouvir nenhum grito da garota. Estava ali uma pessoa que sabia colocar medo em alguém.

Além do refrigerante quente, Jéssica não estava confortável sentada naquele lugar, dentro daquele bar e vendo um jogo de futebol. Certo, a garota não estava vendo o jogo, já que sentara no banco de costas para a televisão, mas estava ouvindo a narração e vendo a reação de todo mundo ao redor dela – com direito a socos na mesa, pulos, xingamentos em um idioma estranho que ela presumia que era irish, e muito, muito palavrão.

Futebol não era algo que a garota gostasse. E essa paixão havia diminuído bastante depois de toda a confusão com Pietro.

Ela soltou um grunhido inaudível naquela confusão toda do pub ao pensar no ex-namorado. Não gostava de pensar nele. Principalmente porque pensar nele ainda lhe causava muitos sentimentos confusos como raiva, dor, medo, incompreensão e umas malditas borboletas no estômago que ainda não havia morrido.

Jess não queria nem pensar em como ela era ridícula por sentir qualquer coisa por aquele idiota.

Outra coisa que não estava legal era ficar ali na cadeira, calada, enquanto Chloe e Colin conversavam num inglês indecifrável bem a sua frente, nas horas em que o garoto não estava xingando a televisão (ou ameaçando jogar a garrafa de cerveja no aparelho. Jéssica estava torcendo muito para que ele não fizesse isso, já que era ela quem estava exatamente na frente dele, é claro).

Jess sempre odiou essas situações estranhas em que você está com duas pessoas e não sabe bem quais são as intenções entre elas. Isso acontecia com bastante frequência quando saía com Camila...

A menina bebeu o resto do refrigerante quente de uma vez, para ver se parava de pensar na sua vida no Brasil. Afinal, foi justamente para esquecer tudo que ela viajou para o outro lado do oceano, certo?

— Ela não come, não fala e não bebe – Colin disse quando o intervalo do jogo chegou – Tem certeza de que ela é humana?

Chloe rolou os olhos para ele e sorriu para Jéssica.

— Você não gosta de futebol, né? – Chloe perguntou

— Ah. Não exatamente.

Colin arqueou a sobrancelha para ela.

— O que você quer dizer com não exatamente? Ou você gosta, ou não gosta.

Jéssica deu de ombros, fazendo pequenos amassados na sua lata de refrigerante vazia, para não encarar Colin por muito tempo.

Ele era um garoto bonito.

A cor do cabelo dele era meio estranha, já que era de um tom de ruivo que Jess nunca vira na vida. Não que Jéssica conhecesse muitos ruivos. Só mesmo um, que tinha os cabelos vermelhos e olhos verdes e estava sempre sorrindo no Café da Lua. Mas o cabelo do Colin era laranja – laranja mesmo, quase da cor dos seus fones de ouvido.

Laranja era a cor preferida dela.

Mas ela nunca imaginou que alguém no mundo teria um cabelo daquela cor.

Cores De Um RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora