Capítulo 36 - Incompreensível

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Colin se arrependeu de ter aceitado o convite da mãe de Jéssica assim que entrou no carro. Não por Jesse. Não, é claro que não. Ele ainda achava que estava pisando em nuvens por estar de mãos dadas com a garota mais resistente que conhecera naqueles dezenove anos de vida. Não que ele tivesse conhecido mesmo muitas garotas... Mas o que é que ele estava pensando mesmo?

Ah, sim. Sobre arrependimentos.

O garoto dos cabelos laranjas não era dado a esse tipo de sentimento, porque gostava mesmo de fazer o que bem entendesse da sua vida, quando estava com vontade. É claro que era um pouco difícil, quando sua vontade era dispersa em um milhão de coisas ao mesmo tempo ou, principalmente, quando ele era facilmente influenciável por estímulos que, para a maioria das pessoas, poderia passar despercebido.

Como o jeito com que Jess se jogou dentro do carro – assim mesmo, sem pensar onde ia cair – para fugir da chuva. E como ela ficou uma graça quando bateu a cabeça na porta, do outro lado, e gemeu se encolhendo como uma gatinha. E a risada que saiu da boca dela quando Laura revirou os olhos, no banco da frente, falando que ela era mesmo uma pequena grande idiota. Ou como o jeito com que a garota se ajeitou, as pernas compridas num carro com poltronas tão estreitas, e prendeu o cabelo num rabo de cavalo torto sem nem precisar olhar no espelho. Ou como ela ficava mesmo bonita, encarando-a de perfil, enquanto ela observava os pingos da chuva baterem no vidro e escorrerem.

Colin piscou, um pouco atordoado, pela rapidez com que seu pensamento as vezes era, pelo fato de nem ele mesmo conseguir acompanhar. Ele sempre quis ser uma pessoa fácil de se compreender, fácil de conviver, mas quando nem ele mesmo conseguia se suportar, como ele podia querer que as outras pessoas o fizessem?

Era nisso que ele estava pensando, ao se sentir arrependido. Não exatamente nisso, mas ele achava que era algo no mesmo sentido, porque ele tinha a certeza de que era odiado por pelo menos uma pessoa dentro daquele automóvel alugado. A pessoa mais forte, no caso. A pessoa que dirigia. Ou, em outras palavras, o pai de Jéssica.

O garoto só não fazia ideia do porque era odiado, já que mal conhecia o homem.

Mas, a supor por toda a postura e o olhar sério, Colin desconfiava que o pai de Jéssica não era do tipo que levava com bom humor quando suas roupas eram sujas por um garoto sem coordenação motora direito, nem, muito menos, quando esse mesmo garoto que o sujou beijou sua filha bem na sua frente.

Será se o pai de Jess colocava tanto medo na menina como colocava nele?

O garoto esperava que não.

— Você deve estar morrendo de frio – a voz rouca, só um tanto quanto mais envelhecida que a de Jess, disse, virando metade do corpo para trás para encará-lo.

— Talvez um pouco – ele confessou, encolhendo-se timidamente no banco.

— Você é maluco! – disse Jéssica, parando de olhar a chuva para encará-lo – Como é que você me sai debaixo dessa chuva, pedalando numa bicicleta velha?

— Respeite minha bicicleta! – ele empinou o queixo.

— Mais um apaixonado por bicicletas – Laura balançou a cabeça – Mas onde é que você estava mesmo com a cabeça?

— Eu posso dizer onde ele não estava – resmungou uma voz grossa.

Laura e Jéssica reviraram os olhos ao mesmo tempo, o que poderia ser uma coisa bastante engraçada, que faria o garoto sorrir, não fosse o olhar gélido de Brad o encarando pelo retrovisor.

— Certo – Laura disse, mexendo a mão – Não preste atenção no troglodita ao meu lado. Ele viveu tanto tempo ao lado de cangurus que perdeu os modos de viver em sociedade.

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