— O que você acha? – perguntou Emily assim que parou de bater as baquetas nos pratos da bateria, olhando para o melhor amigo.
Colin arqueou a sobrancelha de volta. Sua melhor amiga havia acabado de compor um arranjo complementar de uma música dele, para ele tocar no show de abertura da sua banda preferida, dali uma semana. De um modo geral, Colin havia gostado do arranjo. Mas era como se faltasse alguma coisa.
A pior parte de fazer música era aquela, quando as notas até pareciam se encaixar junto da letra, mas ainda assim ficava a sensação de que faltava alguma coisa.
— Oiê – falou Chloe, abrindo a porta – Trouxemos fish and chips.
Era uma sexta-feira, dois dias depois que os pais de Jéssica haviam ido embora. Colin ainda estava tentando se recuperar de ter conhecido os dois, e de saber que eles eram tão diferentes que chegava até ser desnorteador; e Jéssica ainda estava se recuperando de ficar longe de sua mãe outra vez. Brad e Laura haviam ficado na cidade por uma semana e, no final, Brad até parecia estar se esforçando para ser educado com Colin – ainda que o garoto achasse que havia um teor de má vontade nas ações do homem.
O garoto não culpava Brad. Se ele tivesse uma filha bonita como Jess, e que ainda por cima havia enfrentado tudo o que enfrentara há pouco tempo por um garoto babaca, ele também agiria da mesma forma.
Por outro lado, a mãe de Jéssica era incrível. E pensar nisso fazia com que Colin tivesse o mesmo gosto amargo que imaginava que Brad sentia ao ter que aturá-lo, porque Laura era a mãe que ele adoraria ter.
Mas a vida era assim mesmo, nunca do jeito que as pessoas queriam que ela fosse. E Colin apenas precisava aprender a lidar com o fato de que nunca teria os pais que Jess tinha.
— Tem cerveja também – a voz rouca de Jess disse.
— Jéssica comprou cerveja! Isso que é evolução, meus caros! – falou Emily, dando sorriso.
Era estranho como as coisas mudam depois que cartas são lançadas as claras na mesa. Depois que o vídeo chegou até Emily, o modo como ela tratava Jess havia mudado – uma diferença sutil, mas ainda assim perceptível. Não era como se Emy gostasse mais da menina-enclausurada agora, mas era, com certeza, como se ela a compreendesse.
Colin dedilhou duas notas no violão.
— Não sei se estou pronto para fazer uma pausa – disse.
— Você precisa comer. Não vai adiantar nada fazer uma setlist perfeita para cantar, se vai desmaiar na hora de fome e exaustão – disse Chloe.
— Você é tão otimista, Chlô, fico até emocionado.
— Disponha – ela sorriu e colocou a sacola sobre a mesa da sala – Vocês ainda não terminaram o arranjo da música que estão fazendo há três horas?
Tanto Jéssica quanto Chloe estavam com ele, desde que a brasileira saíra da escola de inglês. Era o dia de folga dela e, vai saber por qual motivo, Jess quis, pela primeira vez, ficar com os três e não como fora das outras mil vezes, em que ela apenas era arrastada pelo furacão descolorido como Chloe.
Não que Colin realmente reclamasse disso.
Era sempre bom encontrar os olhos de avelãs de Jéssica.
Ele deu um sorriso para a garota quando ela lhe entregou a garrafa de cerveja.
— Passa uma pra cá – falou Emily – Você não morreu de vergonha por comprar?
— Hm, bem, não é como se eu nunca tivesse bebido na vida. – Jess disse, sentando-se no chão, quase nos pés de Colin.
— Você já bebeu? – Emily ergueu a sobrancelha para ela, enquanto pegava a garrafa que a menina estendia.
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Cores De Um Recomeço
Teen FictionA vida de Jéssica poderia ser resumida assim: duas músicas para acordar, cinco para tomar café, três para chegar a sua escola, montada em sua bicicleta laranja, quatro para ir para a casa da sua única melhor amiga. E ela estava muito bem assim, obri...