Melhor do que você alcançar um sonho era ver uma pessoa que você gosta muito conquistar o seu. Era nisso que Jéssica estava pensando no dia 10 de março, quando viu Colin sobre o palco.
Ele estava com uma blusa social azul acinzentada, as mangas dobradas na altura da metade do braço, com uma gravata preta fina, um colete marrom por cima, uma calça de brim creme e coturnos pretos, no maior estilo folk que se podia respeitar. Os cabelos laranjas estavam levemente arrepiados, e Jess não sabia dizer se era só porque ele havia ficado desesperado demais para conseguir chegar na Casa de Shows e não teve tempo de arrumá-los, ou se na verdade aquilo foi de propósito.
Seja como for, Colin estava lindo.
Mas não era só pela aparência. Porque é claro que Colin era mesmo um cara bonito. Não como os caras que Jéssica estava acostumada no Brasil, os garotos da sua escola exibindo seus músculos como se fossem mesmo modelos de testosteronas. A beleza de Colin era diferente, mais... real, talvez.
Porque era isso. Toda vez que ela olhava para Pietro ela via um cara que era fútil, inalcançável, dono de uma beleza que não parecia desse mundo. Ele era bonito de verdade. Uma bela embalagem enroscada numa alma sem conteúdo, claro, mas ainda assim bonito como qualquer garota de dezessete anos suspiraria ao ver.
Colin não era o tipo de garoto que as garotas suspirariam, numa primeira olhada. Ao menos, não na sua escola. As garotas do Colégio Eliodora – o maior colégio de riquinhos de Ponte Belo e região – só queriam status. A coisa toda chegava a ser tão absurda que, vez ou outra, Jess pensava que podia mesmo estar fazendo parte de um remake de As Patricinhas de Beverly Hills. Só que no caso era as Patricinhas de Ponte Belo. Que, claro, não tinha nem 1% do charme da cidade norte-americana.
Ele era do tipo de garoto que você precisava olhar mais uma vez. Não propositalmente. As coisas pareciam não funcionar muito bem quando eram planejadas, quando o assunto era Colin. Mas apenas aquela olhada distraída que você dá, ao erguer o rosto, e então o garoto estava lá.
E só assim você conheceria a verdadeira beleza dele.
Mas não era essa beleza física, que não chegava a ser arrebatadora, mas mesmo assim poderia desestabilizar, que a garota estava vendo naquele momento, enquanto ele cantava com a voz rouca um folk norte-americano, com sua palheta vermelha dedilhando as cordas do violão preto pendurado em seu ombro.
Era por causa do sorriso que ele dava, vez ou outra, enquanto cantava. O modo como ele fechava os olhos realmente sentindo a música, como se ela dissesse verdades que ele nunca seria capaz de dizer, como se ele estivesse sussurrando palavras bonitas depois de uma noite de amor – para cada pessoa que estava naquela casa de show.
Jéssica estava inebriada.
Inebriada como uma garota apaixonada ficava, vendo o motivo do disparo do seu coração tão perto e tão distante. Era uma sensação estranha, aquela. Porque ela sabia que havia tido uma parte de Colin que ninguém daquela Casa de Show havia tido. Durante todas as horas vagas da garota, eles se encontraram, para discutirem sobre música, ensaiarem, conversarem sobre nada e, bem, ela mordeu o próprio lábio, se beijarem.
Mas ao mesmo tempo, ali, sobre o palco, Colin era aquele cantor inalcançável que qualquer adolescente mortal sonha em conhecer, querendo-o para si, com o glamour e a pureza do amor platônico que envolve paixões com pessoas famosas.
Era estranho saber que ela tinha as duas coisas.
Era estranho saber que aquelas garotas ao seu lado e a sua volta tinham aquela parte pública de Colin – uma parte pública que o fazia ficar ainda mais bonito, se é que aquilo fosse mesmo possível.
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Cores De Um Recomeço
Teen FictionA vida de Jéssica poderia ser resumida assim: duas músicas para acordar, cinco para tomar café, três para chegar a sua escola, montada em sua bicicleta laranja, quatro para ir para a casa da sua única melhor amiga. E ela estava muito bem assim, obri...