Cores De Um Recomeço

Capítulo 28 - Olhares

Show me who you are
I'll show you what you love
I'll give you half the world if that's enough

Probably All In The My Mind - Oasis

— Larga essa coisa, Colin! – gritou Emily, os cabelos azuis espalhados pelo rosto enquanto ela corria pelo quarto e jogava suas coisas de qualquer jeito dentro da sua mochila preta.

Os números de acesso ao vídeo da música de Colin não paravam de subir. Assim, era fácil presumir que Colin não conseguia largar seu tablet e conferir de minuto em minuto as atualizações do site. O que, é claro, havia irritado Emily.

A Garota-Do-Cabelo-Azul já estava estressada porque precisaria ir a Londres para fazer o passeio de trem mais famoso do mundo, pelo Canal da Mancha, até Paris. Emily adorava Londres, é claro. Mas odiava ter que ir para lá.

— Você tá parecendo minha mãe! – o garoto dos cabelos laranjas resmungou, fazendo uma careta.

— Talvez porque você esteja mesmo precisando de uma – ela revirou os olhos azuis, amarrando uma blusa de moletom na cintura.

Colin não respondeu, parecia muito mais interessado em ler os novos comentários de um internauta do que dar ouvidos ao sermão de Emily.

— Você já fez sua mochila? Porque Paris é bem caro, fofo, e nenhum de nós dois estuda na escola mais cara de Dublin, como sua nova paixão.

A simples menção de Jéssica fez o estômago de Colin se revirar. E, pela primeira vez desde que acordou, há pelo menos uma hora e meia, ele largou finalmente o tablet na cama, dando um pulo logo em seguida.

Aos tropeços ele alcançou o pequeno espelho pendurado na parede ao lado da cama de Emily.

— Você sabe se dá tempo de fazer a barba?

— Cê tá me zoando!?

Colin gemeu, coçando o queixo com uns fiapos laranjas arrepiado.

— Droga. Você acha que ela gosta de barba?

— De barba eu não sei. Mas dessa sua pelugem laranja com certeza não – ela deu um risinho.

Colin tinha certeza de que iria vomitar. O que parecia ter feito a irritação de Emily diminuir bastante.

— Por que você não me avisou?

— Como se você tivesse ouvido qualquer coisa que eu tenha dito nessas duas horas que você estava jogado naquela cama, como se não tivesse mais nada para fazer.

— Você não tá ajudando, Emy.

— Sou sua amiga. Minha função é dizer verdades, não te ajudar – ela jogou uma mochila vazia no colo dele – Vá para cozinha e pegue os lanches que fiz ontem. Ninguém aqui quer sair com a conta em vermelho por ter que comer na França.

— Mais vermelho do que já tá?

— Isso mesmo – ela empinou o queixo – Vai logo, criatura, daqui a pouco a gente perde a viagem até Londres.

— Só porque é seu aniversário não quer dizer que você pode me acordar às cinco da manhã, falar na minha cabeça por duas horas, e ainda descontar um monte de raiva porque vamos ter uma passagem rápida por Londres.

— Ah, eu posso sim. Se tem uma coisa que posso, é poder. E se a gente não sair daqui em vinte minutos vamos perder o voo pra Londres. E aí você vai ter que carregar três meninas elegantes nas costas até Paris.