Capítulo 16 - Acordes De Um Acordo

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But I better stop complaining now

It's useless because

Too many sad words make a sad, sad song

Sad Song - The Frames



Ré. Menor. Agora os dedos tocaram o fá. Parecia bom. Mas o que é que ele poderia colocar depois disso? Talvez sol. Ele olhou pela janela. É claro que ainda estava chovendo. Sol, com certeza.

Colin estava no seu quarto, sentado na cadeira, com o violão no colo, tentando criar uma melodia. Emily, com seu cabelo azul bagunçado porque soltou-se do coque de sempre, estava deitada em sua cama, com as pernas na parede e a cabeça para baixo, fora do colchão. Emy só se deitava assim, em qualquer cama. As vezes Colin se perguntava se era assim também que ela fazia sexo.

Ele não duvidava. Sua melhor amiga era maluca.

Ré menor. Ele tocou de novo. Fá. Sol. Fá.

— É uma marcha fúnebre? – Emily disse, entre uma mastigada e outra de um chiclete que, Colin tinha certeza, estava há uma vida na sua boca.

Ele ignorou.

Mi. Talvez ele pudesse colocar mi. Ficaria bom, não ficaria?

— Por que você não tenta umas melodias mais animadinhas, Colin? Só para variar um pouco.

— Por que você não cala a boca, Emy? Só para variar um pouco? – ele retrucou, dedilhando outras notas.

— Estressadinho – ela rolou os olhos azuis, olhando pro teto.

Ambos ficaram em silêncio. Não fosse as dedilhadas de Colin no violão e os eventuais barulhos de uma bola de chiclete estourando, o quarto não teria nenhum barulho.

— Ainda não se resolveu com seu pai, não é?

— Você já se resolveu com o seu? Talvez a gente consiga fazer isso juntos, quem sabe?

Emily engasgou, tossindo. Jogou seu corpo para cima da cama, os cabelos ainda mais bagunçados em volta de todo o rosto. Então levou a mão ao peito.

— Puta merda, Colin. Não fala mais essas coisas quando estou nessas posições perigosas.

Colin deu de ombros.

— Tenta dó. – ela falou, quando ele não conseguiu achar uma nota seguinte – Você fez ré menor-fá-sol-fá. Não foi? Tenta dó. Dó com alguma coisa.

Ele começou de novo, acatando a sugestão da melhor amiga.

— Dó sustenido? – ela arqueou a sobrancelha – Acho que não. Dó com mi?

— Pra alguém que odeia música triste, você até entende de boas combinações, não é?

Emily deu de ombros.

— Essa música tá sofrida. O que tá passando na sua mente, laranja-mecânica?

Colin deu um sorriso. O apelido laranja-mecânica talvez fosse o único de toda sua vida que ele gostava. Apesar da maluquice e do jeito impulsivo da melhor amiga, ele tinha de admitir, a vida seria muito mais sem graça sem aquele tom de azul a colorindo.

— Minha mãe me ligou. Ela está do lado do meu pai.

— Conta a novidade agora – ela soltou um suspiro.

— É tão difícil assim me entender? – ele parou de dedilhar nas cordas do violão para encarar a amiga.

Emily sustentou o olhar, o que era bem típico dela. Os dois ficaram assim se encarando, por algum tempo, dessa vez sem nenhum barulho para quebrar o silêncio. Até que Colin não conseguiu mais sustentar e olhou pela janela, os pés batendo no chão, ainda tentando achar uma melodia correta para sua música, enquanto pensava em tanta coisa que era até difícil começar a falar.

Cores De Um RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora