Maybe you want her maybe you need her
Maybe you started to compare to someone not there
Maybe you want it maybe you need it,
Maybe it's all you're running from,
Perfection will not come.All At Once - The Fray
Fevereiro não melhorara o clima da Irlanda. Jéssica tinha a sensação de que nada melhoraria: o lugar era cinza e gelado todos os dias. A garota nunca foi fã de sol, mas sentia falta de um pouco de calor só para variar um pouco. Ou talvez fosse porque, de todo modo, climas frios faziam a gente se sentir mais solitário, mais carente, mais suscetível a pensamentos que não deveríamos ter.
Pelo menos era isso que Jess estava pensando, por baixo da sua blusa de moletom azul e prata, com as mãos agarradas numa caneca de café bem quente que quase queimou sua língua, enquanto esperava sua mãe ficar on-line para conversarem.
A menina falava com sua mãe praticamente o dia todo, trocando mensagens pelo aplicativo do celular, tentando ficar mais perto dela, principalmente, senti-la mais perto também. Sorte a dela que Laura realmente gostava de tecnologia e, então, o contato não era tão difícil. Duas vezes por semana elas falavam via computador, pelas webcams. Não era a mesma coisa do que tê-la ao seu lado, para lhe abraçar e acariciar o cabelo, é claro. Mas era bem melhor do que nada.
A sua tela piscou e ela abriu a caixa. Logo seu reflexo com um pouco mais de rugas e sabedoria ganhou a tela do seu notebook e Jess deu um sorriso.
— Mãe! – ela disse, mais aliviada do que queria parecer assim, logo de cara.
— Tá tudo bem? – Laura franziu o cenho, um pouco confusa – Aconteceu alguma coisa?
— Não. Só queria mesmo falar com alguém, em português. – Jess disse encolhendo os ombros – Como estão as coisas aí?
— Ah! Um pandemônio! Caramba, eu gosto mesmo dessa palavra – Laura suspirou, enrolando um cacho em seu dedo indicador – Você se lembra de Isadora? A minha prima? Aquela que a gente foi visitar dois anos atrás, por causa de toda aquela confusão? Enfrentamos horas de viagem e engarrafamento quando chegamos em São Paulo, pra depois ir pra Campinas, meu Deus, aquela viagem foi mesmo um inferno...
— Mãe – Jess falou, segurando o sorriso, sabendo que Laura sempre precisava que alguém a fizesse voltar para o "planeta terra" quando começava a falar daquele jeito descontrolado.
— Oi? Que é que eu tava falando mesmo?
Jéssica deu uma risadinha e um gole na sua caneca da Ravenclaw.
— Isadora – ela disse, depois de beber um pouco de café – Sua prima. De Campinas. Que é que tem ela?
— Ela se mudou pra cá, ontem. E, caramba, a vida dela já virou mais do avesso do que tava.
Jéssica franziu o próprio cenho. Havia visto Isadora poucas vezes – antes de irem visita-la há dois anos, só em um natal há muito tempo atrás quando a menina ainda era uma criança. Mas ela se lembrava bem da mulher. Era um pouco difícil esquecer alguém que tinha aqueles olhos azuis dela.
— Enfim. Aquela mulher é doida! – Laura soprou o cabelo pra frente, largando o cacho que enrolava – Nunca mesmo que ia voltar pra ver velhos fantasmas do passado. Nunquinha. De todo modo, a filha dela... você se lembra da filha dela? A Isis?
— Sei. A que detesta Taylow Swift.
Existiam coisas que eram impossíveis de se esquecer, pensou Jéssica.
— Ela odeia? Seja como for. Fui buscar ela na escola, enquanto a Isa não acha uma babá, porque, veja bem, elas se mudaram ontem. Entende? Bom, mas a menina é maluca de pedra, coitada. Não tem limite nenhum. Assim, é uma fofa, mas coitada da Isa... Não sei onde ela foi arranjar uma filha daquelas....
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Cores De Um Recomeço
Teen FictionA vida de Jéssica poderia ser resumida assim: duas músicas para acordar, cinco para tomar café, três para chegar a sua escola, montada em sua bicicleta laranja, quatro para ir para a casa da sua única melhor amiga. E ela estava muito bem assim, obri...