2. O Guardião da Noite

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::FERNANDO::

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::FERNANDO::

Inglaterra— 1756

Era minha culpa. Por mais que eu tentasse me convencer de que era inocente eu sabia — e minha consciência não me permitia negar — que minhas escolhas acarretaram tudo aquilo. Lá estava eu mais uma vez à procura dela na tentativa inútil, porém desesperada, de poupar-lhe a vida, vivendo sob a pressão de não falhar novamente. Não podia não me condenar por aquilo, pelo que meus passos acarretaram ao futuro dela, durante oito vezes eu havia tentado, durante oito vezes falhei, era minha penúltima chance.

Havia procurado o dia todo, vinha seguindo pistas do seu paradeiro há alguns meses, em certas "voltas" era difícil localizá-la, mas meu coração sempre me guiava na direção certa, e mesmo que ela nunca fizesse ideia de quem eu era, não conseguia deixar de amá-la como na primeira vez, tão forte e intensamente como nunca. Caminhava por entre as árvores da densa floresta, a casa era uma construção modesta meio afastada do vilarejo, seu pai era um homem intragável, de péssimos hábitos e quase um tirano. Com uma irmã medrosa e uma mãe passiva, Aneliese se destacava em seu novo lar emprestado, não importava a época, ela sempre se mostrava com o mesmo espírito intrépido e gênio forte.

O entardecer caía majestoso sobre a clareira intocada, as luzes poentes pintavam o horizonte em tons pastéis dançando harmoniosamente no oceano anil, foi quando eu pude ter o primeiro vislumbre dela. O corpo frágil e bem delineado envolto pela água cristalina daquele rio, senti-me indecente por não conseguir desviar meus olhos daquela figura e algo dentro de mim parecia despertar com aquela visão, lembranças remotas daquela mesma pele sob meu toque. Vagamente lembrei-me do motivo de estar ali, não era hora de deixar-me perder por devaneios do passado, tinha de me ater àquela chance, ela não me conhecia ali, mesmo que eu já soubesse de todas as dificuldades a aproximação inicial sempre me machucava, pois eu me lembrava de cada momento ao lado dela.

Minhas chances de aproximação foram frustradas pela aparição da irmã dela, Victória, uma moça de feições delicadas e modos frágeis, espírito fraco e manipulável o completo oposto da irmã. Diante da aparição indesejada, afastei-me, mas com a decisão de ficar por perto para não perder nova oportunidade, em meio as árvores densas da floresta com as copas muito juntas formando uma espécie de cúpula verde que impedia a iluminação de penetrar, fui andando cada vez mais para dentro parando em uma posição que me permitisse acompanhar a movimentação da casa sem ser visto.

Nos momentos que se seguiram fui assolado pela saudade que dilacerava-me a alma, vê-la sempre me causava aquela sensação dolorosa, o medo de perde-la a qualquer momento, a dor da espera até encontra-la novamente, sua expressão de agonia nos momentos em que eu a perdia. Pensava que a eternidade não seria suficiente para tê-la ao meu lado e, de nós dois, o único eterno era eu. O pensamento também me trazia revolta, era esse o meu castigo para tê-la ao meu lado, a certeza de perde-la e ter de viver o vazio e o desespero que sua falta me causava. Era o que acontecia quando alguém como eu amava um mortal. Presenciei a noite chegar cautelosa, deitei-me sobre o pasto macio e fechei os olhos, não precisaria esperar muito, conhecia o bastante da sua natureza para saber que ela iria voltar.

O ProtetorOnde histórias criam vida. Descubra agora