45. Redenção

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::ANA::

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::ANA::

O reflexo no espelho mostrava-me pálida. Escorei-me na porta e fechei os olhos ordenando-me mentalmente a manter a calma, pensar com racionalidade, só porque algo não fazia sentido não significava que era impossível. Mais do que ninguém eu entendia as regras da possibilidade. Respirei fundo, uma, duas, três vezes na intenção de me acalmar, era loucura o que ele dissera, eu sabia, mas havia meses da minha memória faltando, de algum modo, às vezes, a racionalidade não respondia as perguntas.

— O meu... — Ri, incrédula. — Certo, acho que mereço isso...

— Eu não estou fazendo piada com você, Ana. — Garantiu ele. — Sei que pode parecer loucura, mas é a verdade. Uma verdade, inclusive, que você não deveria estar procurando.

— Como é possível que você...

— Que eu fosse um anjo? — Completou ele. — É uma história complicada. Complicada e longa. Saiba apenas que você é especial desde que nasceu, isso acabou atraindo a atenção de pessoas que não deveriam e por causa disso sua vida ficou um pouco complicada. Mas você recebeu essa nova chance, uma chance de recomeçar, de seguir em frente como se tudo aquilo fosse uma lembrança ruim. O que não contava era que o seu sentimento fosse forte ao ponto de manter essa ligação entre nós.

— Isso é loucura.

— As melhores coisas normalmente são. — Emendou apertando minhas mãos suavemente. — Eu sei que isso vai soar muito ruim, mas não se lembre de mim, Ana... não se lembre de nada do que aconteceu, abrace a sua vida e siga em frente. Quanto mais insistir em lembrar mais vai machucar. Eu não sou mais um anjo, não há mais perigo, isso é o meu castigo, a minha condenação por colocar sua alma em perigo... quero que seja feliz. Apenas eu mereço pagar pelos meus crimes.

Anjos. Em Instrumentos Mortais eles eram gigantes e mortais. Em Fallen pareciam com os humanos, tinham regras determinadas pelo Trono (Deus?). Só havia um lugar onde eu ainda não os havia procurado. Abri os olhos e larguei a bolsa no chão ao lado da porta, havia permanecido imóvel até então, sabia que tinha uma em algum lugar, vasculhei pelas gavetas de material, no livreiro e nas gavetas da cômoda, as mãos trêmulas enquanto afastavam coisas e erguiam cadernos e apostilas, por fim consegui encontrar minha pequena edição da bíblia. Eu passara uma infância religiosa e uma pré-adolescência igualmente cristã, pois minha mãe sempre foi uma católica ardorosa, todavia, em algum momento no percurso depois disso, me tornara uma pessoa sombria. Me afastara da igreja e, talvez, perdera minha fé.

Quando parei para pensar nisso, segurando aquela pequena bíblia com encadernação de couro cujas letras douradas do nome AVE MARIA haviam desaparecido há tempos, lembrei da época em que eu era cheia de luz, quando acreditava na proteção dos anjos, quando rezava pelo colo de Maria antes de dormir, quando conseguia ver encanto no mundo sombrio que vivia. Parecia outra vida, outra eu. Sentei na cama e contemplei a pequena bíblia que pedira a minha mãe como presente de natal aos doze anos, olhando a minha vida e a pessoa que me tornara, com medo de viver e de morrer, sentindo-me presa na minha própria vida é o que acontece quando você perde a fé, deixa de viver, esquece os propósitos que um dia te moveram. Você simplesmente existe. Lembrava de tudo aquilo enquanto folheava as páginas finas em busca das respostas que precisava.

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