39. Mudança

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::FERNANDO::

Eu só podia ter perdido a noção. Por mais que eu me repreendesse inúmeras vezes não conseguia me sentir satisfeito. Mesmo tendo a certeza de que ela não havia me visto de fato não podia deixar de me sentir estranhamente culpado — e levemente decepcionado — por aquilo. Não sabia se mais por quase ter quebrado as regras ou se por ela não ter conseguido me ver de fato. Não conseguia entender por que estava agindo daquela forma, não era meu trabalho, eu não podia interferir ou interagir com ela daquela maneira, mas vê-la daquele jeito fazia meu coração doer violentamente de um modo que nunca imaginei ser possível.

"Sei que está me ouvindo..." Sua voz silenciosa soava em minha mente com nitidez, estava, mesmo na mente, trêmula e sequiosa de carinho. "não importa o que digam os outros, eu sei que você é real... que durante todo esse tempo esteve comigo. Eu quero que você seja real. Preciso que seja, pois até agora você é o meu único amigo."

Como eu podia ignorar aquilo? Como podia não me sentir mal por aquela garota tão iluminada e, ainda assim, tão sozinha? De todo modo, por mais que aquilo parecesse me ferir como brasas vivas, eu precisava resistir, precisava pensar em Ulyel lá em cima dependendo de mim para continuar sobrevivendo e sempre que meu irmão me vinha à mente eu conseguia encontrar forças para ignorar os apelos da minha mente me implorando para aliviar o coração daquela mortal. Havia tanta luz e indulgência nela, tanto carinho e solidão...

Eu não conseguia perceber, mas Aiko estava me mudando, mudando as coisas dentro de mim, me puxando para ela com uma força muito desproporcional ao seu tamanho e massa, fazendo crescer dentro de mim sensações que nunca antes achei ser possível sentir, porque eu não pertencia ao mundo dela, não pertencia a espécie dela. Anjos eram criaturas feitas da luz do Criador, éramos os guerreiros do céu, não sentíamos coisas e o fato de aquela mortal conseguir — indiretamente e inconscientemente — manipular nossa natureza daquela forma estava me intrigando cada vez mais. Tentei convencer a mim mesmo que eu era forte o bastante para resistir a ela, que eu não ia falhar na minha missão.

Sentei-me no parapeito da janela e passei a observá-la, Aiko estudou até aproximadamente uma hora da madrugada quando, finalmente, adormeceu com as costas curvadas sobre a mesa em uma posição que eu sabia que lhe daria muitas dores algumas horas mais tarde. Contive em mim a vontade de cobri-la, sabia que seria um risco. No interior do quarto uma luz intensa preencheu tudo e recebi a visita de Anael, um dos mensageiros celestiais.

— Hadraniel, Adamis e Haziel solicitam sua presença na corte celestial.

— Mas não posso abandonar meu posto. — Expliquei. — Não podemos deixar um mortal sem proteção.

— Outro guardião se encarregará da mortal ate que você volte.

— O que está acontecendo? — Quis saber.

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