Parte II - Sussurro

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Flashback

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::ANA::

Era para ser um dia normal como todo dia ordinário da minha vida desde que nasci. Eu olhava constantemente para o relógio de parede da loja aguardando a hora que poderia ir para casa e ter o que eu chamava de "momento Ana", meu pai chegaria tarde em casa o que me dava liberdade para aproveitar as horas anteriores ao meu aniversário de 21 anos e fazer uma boa bagunça de pipocas, fritas e filmes chorosos. Não gostava de comemorar meu aniversário e não havia tampouco lugares para ir naquela cidade sem graça.

— Se entrar um cliente aqui vai sair correndo da sua cara feia. — Comentou Juliana.

— Ótimo, assim a hora de fechar chega e eu posso ir para casa.

— Sua mãe vai ligar, Ana. — Consolou-me. — Não é possível que eu seja a única a lembrar do seu aniversário. — Riu.

— Não me surpreenderia. — Revirei os olhos. — Me pergunto se pode ficar pior.

Soltei uma lufada de ar pelo tédio que era o fato da hora sempre se arrastar quando você está com pressa. Eu havia começado a trabalhar naquela loja de roupas há dois meses, depois de terminar a faculdade, afinal não havia muitas opções para mim a menos que eu me mudasse e as coisas em casa estavam começando a ficar apertadas. Minhas colegas de trabalho eram — para minha sorte — até cordiais, com exceção talvez de Luísa, que era insuportável e dedo duro.

Vinte minutos. Um cliente entrou na loja e sorri forçosamente para não parecer antipática, detestava quem deixava tudo para resolver nos últimos minutos.

— Boa noite. — Disse ele. — Camiseta de fitness.

— Boa noite, por aqui. — Apontei para o final da loja, que não era muito grande. — Qual a cor?

— Preta.

— Qual tamanho? — Quis saber levantando a pilha de camisetas.

— M. Quanto é? — Perguntou ele.

— Cinquenta reais. — Informei.

Eu não gostava daquele trabalho. Meu chefe, para variar, era um chato, sovina e ganancioso, mas o que fazer? Eu precisava do emprego. Quando finalmente consegui sair da loja já era quase sete horas, o próximo ônibus que poderia me levar para casa só passaria com meia hora e eu não estava com paciência suficiente para esperar.

Pus os fones de ouvido, passei na padaria e comprei alguns biscoitos de nata para comer no caminho. Segui meu caminho tranquilamente pelas ruas da cidade quando percebi que um grupo de rapazes caminhava atrás de mim, aquilo não era incomum, havia vários tipos de grupinhos na cidade, provavelmente eles estavam indo para a praça se encontrar com o resto da sua galera. Eu já havia passado dessa fase. Mas a suspeita começou a ficar estranha quando eu entrei em uma rua deserta e eles continuaram atrás de mim.

O ProtetorOnde histórias criam vida. Descubra agora