44. Eu acho que é o seu rosto

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::ANA::

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::ANA::

Verdes como as folhas de uma árvore na primavera. De uma maneira inexplicável, através deles eu conseguia ver seu coração, a gentileza e bondade que preenchiam a sua alma e tornavam aquele olhar doce e único. A marca daqueles olhos ficara impressa em minha mente como uma doce lembrança da infância que nunca nos deixa, entretanto, naquele momento, uma dor pungente maculava aquela imagem. A dor que acompanhava a perda de algo precioso, a dor que a morte infligia no coração dos que ficavam. Essa mesma dor estava gravada naqueles olhos verdes que, até então, não tinham face para mim. Até eu abrir os olhos e vê-los me fitando cheios de ansiedade e expectativa, até que essa ansiedade se transformasse em surpresa e, logo, pavor quando uma única palavra escapou dos meus lábios: Hadraniel.

Não reconheci o estranho diante de mim, pelo breve momento que meus olhos se abriram eu apenas vi seus olhos, tinha certeza absoluta que eram os mesmos olhos daquele homem majestoso do sonho que tive, com um torso amorenado desnudo pela túnica excepcionalmente branca, longas asas brilhantes e uma voz poderosa. Seu rosto na minha mente era nebuloso, de modo que os traços não eram nítidos apenas os olhos, expressivos e intensos, eram uma memória viva para mim.

A primeira coisa que senti quando abri os olhos novamente foi dor. Mas não uma dor física que pode ser silenciada com um analgésico. Era aquela dor inexplicável, a dor da ausência de algo importante que eu não conseguia identificar. Lágrimas inundaram meus olhos, caindo pelas têmporas enquanto meu coração parecia apertar ao ponto de me sufocar. Uma mão segurou a minha apertando-a suavemente e ergui o olhar para fitar minha mãe, cansada e preocupada.

— Está sentindo dor, querida? — Quis saber.

Assenti silenciosa, sem conseguir parar de chorar. Não podia dizer a ela a verdade, antes fosse duramente sedada, a inconsciência era uma benção, um presente.

— Vou chamar o médico, suporte só um minuto.

Assim que ela saiu do quarto, ele apareceu timidamente caminhando até o lugar onde antes minha mãe ocupava. Seu rosto era preocupado, lembrei que o havia visto na padaria onde almoçava, trombara nele quando ia para casa, era o mesmo estranho que dissera chamar-se Fernando.

— O que está fazendo aqui? — Quis saber.

— Fui eu quem achou você na loja... — Explicou ele enxugando minhas lágrimas. — Fiquei preocupado com você, queria ver como estava.

— Quem é você? — Quis saber. — Você me conhece?

— Um pouco... — Deu de ombros com um sorriso fraco. — Fã de Instrumentos Mortais, nascida aqui, tem a péssima mania de se meter em problemas com facilidade, detesta seu trabalho...

— Está me seguindo? — Ergui a sobrancelha, a respiração dificultada pela dor.

— Sei que está doendo, Ana... não se esforce. — Ele acariciou o meu rosto, era estranho, mas a sensação me parecia tão familiar. — Alguém lá no céu está olhando por você desde o dia que nasceu, pode estar difícil agora, mas você não está sozinha.

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