40. Sequela

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::ANA::

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::ANA::

Brasil, dias atuais.

Silêncio. O mundo havia desaparecido completamente como se eu tivesse sido sugada por um buraco negro e estivesse perdida em uma espécie de vácuo. Era assustador, mas embora a sensação de terror por estar flutuando no nada fosse aterradora eu sabia que a sensação de voltar para o mundo real seria ainda pior. Eu não queria acordar, era a verdade.

Não sabia o que estava acontecendo, mas fazia meses que a minha vida parecia uma farsa, como se eu estivesse vivendo dentro de um globo de neve comandado por alguém que vivia constantemente balançando a fim de ver a neve tomar conta da cidade e congelar a minha vida em uma geleira de dor sem nome. A pior parte é que eu não fazia ideia do motivo de me sentir daquela forma, me lembrava de ter tido uma infância feliz naquela cidade pequena, do amor dos meus pais, de uma vida cheia de cores e luz. Como, de repente, eu me tornei aquela criatura sombria e dominada pela angústia?

— Ela precisa de ajuda. — A voz disse, trêmula. — Não podemos mais fingir que não é um problema.

— Faz semanas que ela anda muito estranha... não sei o que tá acontecendo. —Juliana. Era ela dizendo em voz baixa.

— Não sei se podemos arcar com essa despesa, Andréia.

Andréia. Minha mãe. Havia um som agudo ininterrupto, uma coceira incômoda no meu nariz, frio. Um tecido áspero, cheiro de água sanitária, eu estava no hospital, o decadente hospital da cidade e, dessa vez, meu medo não era somente de voltar à realidade, mas de abrir os olhos e confirmar aquilo. Eu só havia ficado no hospital uma vez quando minha mãe precisara fazer uma cirurgia de emergência, anos atrás, e eu tive que dormir com ela, o lugar dava para gravar um filme de terror de tão negligenciado e antigo que era, eu sempre me gabara da minha saúde de ferro para nunca ter de passar uma noite internada naquele lugar, a ideia era tão repulsiva que eu me sentia doente só de imaginar abrir os olhos e fitar aquelas paredes amarelas e aqueles azulejos caramelo e azul, as camas com hastes enferrujadas e lençóis manchados de água sanitária com, provavelmente, o sangue lavado de alguém.

Respirei fundo aquele ar carregado várias vezes antes de finalmente me forçar a abrir os olhos e, para meu desespero, me deparar com aquela cama de hospital e aqueles lençóis que um dia foram verdes me cobrindo, talvez tenha sido uma reação psicológica, mas minha pele começou a pinicar. Eu estava em um quarto privado — mas não muito melhor — uma cânula de oxigênio fazia cócegas dento do meu nariz, meus batimentos cardíacos apareciam em um monitor. Juliana e meus pais estavam próximos à porta conversando aos sussurros e demoraram a perceber que eu havia acordado, foi minha amiga a primeira a ver meus olhos abertos.

— Ana! — Ela se aproximou do leito com a expressão preocupada. — Como se sente?

— Essa é difícil... próxima pergunta. — Minha voz estava estranha, parecia haver um bolo de algodão na minha garganta.

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