6. Acordando para a Verdade

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::ANA::


Tudo parecia ser a volta de um mesmo pesadelo me encarcerando sem me dar a chance de correr ou gritar. Em meio ao meu tortuoso sono não conseguia entender o que estava acontecendo desde o momento em que encontrei Ferdinan, estaria ele certo? Eu morreria? Naquele momento não importava muito, só queria acordar, queria que a dor desaparecesse, estava cansada das coisas dando errado, da minha liberdade que parecia cada vez mais distante.

Sentia-me entorpecida, por mais que me esforçasse não conseguia abrir os olhos, estava morta? Morrendo? Meu desejo cego de liberdade me levara até ali, seria mesmo meu destino incapaz de ser escrito por mim mesma? Não fora aquela realidade que imaginei, não era meu plano. Quem eram aquelas pessoas e por que queriam me matar? Não fazia sentido, não podia fazer.

Eu era refém do meu próprio corpo, porém consciente de um mundo que não me pertencia. Um mundo do qual eu não fazia parte, mas que presenciava inativamente como observadora vendo a mim mesma, ou a uma versão minha, sorrindo para uma mulher por volta dos quarenta anos, vivendo em um chalé na floresta. O patriarca da família parecia ser um homem gentil, era lenhador e tratava a garota com carinho e atenção. A garota beijou a mulher no rosto e saiu correndo por entre as árvores do bosque como uma fada levada pelo vento da liberdade. Ela era feliz.

Mas havia algo deslocado naquele sonho, algo nela que não se encaixava no que eu era. Observando-a me pus a perguntar o significado de liberdade, o que eu almejava era realmente poder ir e vir sem ninguém me dizer o que fazer, sem precisar seguir a risca as regras impostas à mim pelo meu gênero, ter a flexibilidade de dedicar o meu tempo ao que eu quisesse fazer e ser eu mesma? O que seria, de fato, liberdade? Provavelmente a coisa pela qual eu tanto almejava sequer tivesse um significado real em minha mente. Tentei ver o que aquela garota tinha e percebi que me sentia presa na casa dos meus pais por não aceitarem o que eu era, dona das minhas próprias escolhas, do direito de ter uma chance. Aquela garota que corria feliz entre as árvores com os pés descalços sobre as pedras e folhas secas era compreendida, amada por simplesmente ser preciosa pelo que era, ela tinha o direito de escolher, o direito de ter uma voz mesmo que o mundo dissesse que aquele não era o seu papel. Percebi assim que eu queria algo que nem mesmo sabia definir.

Então, junto a ela, eu vi a sombra de alguém que a seguia. Eu não conseguia distinguir a silhueta com precisão, mas ele seguia ao lado dela e incrivelmente não tocava o chão. A garota parecia alheia à sua presença, ainda assim ele estava atento a cada um dos seus passos e tirava de volta dela todo o tipo de escuridão ou potencial perigo, ele os sugava para si de modo que nada a tocasse. Antes que pudesse ver o seu rosto a claridade se intensificou diante de mim me levando mais uma vez para o que eu começava a chamar de vácuo.

::FERNANDO::

Pensei que nunca mais em minha existência eu seria capaz de chorar, mas naquele momento eu não me contive assim como não contive as inúmeras injúrias que fiz à mim mesmo por tê-la deixado sozinha. Quando eu finalmente aprenderia a lição? Não podia fazer muita coisa, ungi as feridas com meu sangue e enfaixei seu corpo com tiras do lençol colocando nela um outro vestido que tive que arrumar com a dona da estalagem após uma longa — e mentirosa — explicação sobre o que havia acontecido no quarto. Uma das coisas que eu mais gostava nos mortais era a facilidade como qualquer mentira, quando parecia racional, fazia-os crer no que quiséssemos que acreditassem.

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