1. Espírito Intrépido

460 44 76
                                    

::ANA::

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

::ANA::

Inglaterra — 1756

A paz é volátil. Em algum momento da sua vida, você descobre isso. O meu momento foi quando me dei conta de que era uma mulher. Uma mulher sob as regras de um mundo de homens.

 O cheiro das flores, a brisa suave soprando o perfume delicado por todas as partes, a água tranquila seguindo o seu curso, o som dos pássaros e seu canto suave escondido entre os galhos mais alto das árvores, e o farfalhar das folhas dançando ao ritmo do vento. Sim... nem parecia que o tempo passava em Wingstown quando estava naquela clareira. Olhando o azul celeste do céu, uma calma imensurável me acometeu,  estava completamente sozinha e adorava aquela sensação. Tirei o vestido deixando-o de lado, sobre uma árvore, e adentrei a água naquele leve frio de aviso do outono aproveitando meus segundos de liberdade; Momentos como aqueles eram raros demais para serem desperdiçados. Senti o impacto da água gelada contra meu corpo quente, mas não me importei, aos poucos me deixei imergir até me sentir completamente tomada pela sensação de leveza que a água proporcionava, adorava aquela sensação, era como se eu fizesse parte do rio e ele de mim, como se a natureza e eu fôssemos uma só.

Wingstown é um vilarejo situado no sul da Inglaterra, cresci ali em meio a uma família com 3 mil libras por ano — o que era considerado o limite da pobreza ou mais abaixo! —, morávamos em um chalé na floresta e tudo que tínhamos vinha do meu pai, que era escrivão e trabalhava no palácio, além dos poucos animais que criávamos. Eu era a mais nova, tinha uma irmã chamada Vitória que estava prometida em casamento a um nobre, graças aos bons relacionamentos do meu pai enquanto escrivão, e um irmão chamado Octávio que era casado com uma condessa, talvez o único que tenha realmente se casado por mérito próprio, uma vez que sempre foi muito bonito. Vitória foi "vendida" a um duque pelo meu pai, como não tínhamos dote o duque ofereceu uma pequena fortuna pela mão dela, eu não sabia até onde era realmente "amor" pela minha irmã, encanto pela sua beleza devastadora e desespero porque o duque não era, de nenhuma forma, atraente. O que mais me irritava era a passividade da minha irmã que não se opunha a nada e apenas via o seu destino ser escrito por mãos que não eram as suas, um destino que lhe condenava a ser completamente infeliz.

Nos últimos dias ouviam-se boatos de desaparecimentos e mortes misteriosas, todo o reino comentava sobre isso e as coisas no nosso povoado não estavam melhores, três jovens haviam desparecido sem rastros em uma semana. A guarda real fazia rondas por toda região, os melhores soldados da corte haviam sido designados para descobrir a mente por trás daquelas horrendas mortes, mas até então nada havia sido descoberto. Eu podia sentir o perigo de estar ali sozinha, naquela tarde tão linda e aparentemente tão inocente, mas  nunca me deixei levar pelo medo, isso era algo que  não sentia. Ou achava que não...

— Aneliese! — A voz irritada de Vitória me fez emitir um sonoro grito.

— Está louca, Vitória?! — Repreendi-a. — Acaso queres matar-me de susto?

O ProtetorOnde histórias criam vida. Descubra agora