4. O que eu sou

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::ANA::

Chegamos ao vilarejo no fim da tarde, à primeira vista imaginei que formávamos um par estranho, principalmente se considerassem que eu estava sendo carregada por aquele estranho cavalheiro. Para minha sorte eu não era conhecida na região, só fugia de casa para ir ao rio, apenas Victória havia ido ao vilarejo com papai depois que ficara noiva. Pensar neles, mesmo o meu pai de quem eu nutria muito ressentimento, me fez sentir uma dor no peito, nenhum deles merecia aquele destino e parte de mim se sentiu responsável por aquilo.

— Não foi culpa sua. — Disse o estranho como se me houvesse lido os pensamentos. — Eles cumpriram a jornada, iriam partir independente do que houvesse, estava escrito em seus destinos.

— Eu teria partido com eles se não tivesses interferido.

— Interferi porque, ao contrário do que pensas, tua morte acarretaria um desastre sem precedentes.

— Ficas dizendo essas coisas estranhas e sem sentido! Melhor irmos embora logo, só assim vou-me embora logo daqui e livro-me de você! Finalmente serei livre para escrever minha própria história.

Os olhos dele por um segundo pareceram tristes ao me fitar, ele parou de andar, estávamos na entrada de uma pousada, ele entrou e pousou-me sobre uma cadeira, conversando por longo tempo com a senhoria. Recusei a deixa-lo levar-me nos braços como se eu fosse sua noiva e mesmo que sentisse uma dor excruciante sempre que pisasse, não daria o braço a torcer diante da minha decisão. O quarto era simples, pequeno e meio escuro, havia apenas uma janela, do lado esquerdo, atrás de um biombo, o lavabo e uma cama de solteiro. De frente à janela repousava uma mesa e uma solitária cadeira, nada mais havia ali. Olhei-o por um segundo questionando-me a respeito da cama, ele revirou os olhos como se fosse óbvio e havia algo distinto em seu semblante, algo como dor, era como se eu o houvesse se magoado com algo que falei.

— Não tenho intenção alguma de tocá-la, não perturbes o teu pensamento. — Disse, por fim, novamente como se lesse meus pensamentos. — Não durmo.

— Não dormes? — Espantei-me.

— Não. Então, podes deitar e descansar. Não poderemos sair até que tua perna esteja reestabelecida.

Fez-se uma pausa desconfortável e ele permanecia envolto naquele ar sombrio, como se cada palavra que proferisse causasse uma dor hedionda em seu coração. Inquieta, decidi interroga-lo, não podia ignorar o fato de que ele havia me ajudado e por mais que me contrariasse desejava desculpar-me se o tivesse ofendido.

— Eu disse algo errado?

— Não. — Respondeu impassível.

— Ótimo. — Disse em tom frio. — Já que não dormes, o senhor pode acordar-me caso algo aconteça.

Virei de costas e dei alguns passos mancos na direção da cama, mas logo parei sentindo seu olhar fixo em minhas costas, algo muito incômodo. Virei-me para fitá-lo e inquiri levemente irritada:

O ProtetorOnde histórias criam vida. Descubra agora